São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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82% dos sanguessugas são da base aliada

Lista divulgada por CPI que investiga fraude na Saúde mostra ainda que 63% dos envolvidos são de partidos do mensalão

Comissão divulga 57 nomes de acusados de fazer parte de esquema de propina, apesar de sigilo de apuração decretado pelo Supremo

ADRIANO CEOLIN
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois meses após a deflagração da Operação Sanguessuga pela Polícia Federal, a CPI criada no Congresso para apurar o escândalo divulgou ontem os nomes de 56 deputados e de um senador que já estão sendo investigados pela Procuradoria Geral da República.
As legendas que tiveram mais envolvimento no esquema do mensalão dominam a lista dos citados. PTB, PP e PL abrigam 63% dos parlamentares investigados até agora.
A lista mostra ainda que 82% dos nomes pertencem a seis siglas que integram a base aliada do governo ou que detêm cargos no primeiro escalão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. São 13 parlamentares do PTB, 13 do PP, dez do PL, cinco do PMDB, quatro do PSB e dois do PRB. A exceção é o PT.
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) foi citada no depoimento do empresário Darci Vedoin, dono da Planam, empresa que encabeçava a fraude, mas seu nome não consta dos investigados pela Procuradoria. Na oposição, o PFL tem quatro filiados envolvidos; o PSDB tem três.
Ontem, o ministro Gilmar Mendes, que comanda as investigações no STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a abertura de inquérito contra 42 parlamentares, o que, somados aos 15 já investigados, resulta na lista de 57 divulgada pela CPI. Mendes deu o aval para a comissão divulgar os nomes, apesar de manter o sigilo sobre as provas colhidas na apuração.
Outro dado da lista mostra que a bancada do Rio de Janeiro é a campeã em número de parlamentares investigados, 13, o que representa quase 30% da bancada do Estado. "Precisamos começar a discutir a representatividade do Rio de Janeiro no Congresso", disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), integrante da CPI.
Em segundo lugar, aparece a bancada de São Paulo, com dez parlamentares envolvidos. Em seguida, com cinco, vem o Mato Grosso, Estado onde o esquema teria se originado.
Entre os 57, há vários integrantes da bancada evangélica.
O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), divulgou nota em que pede a expulsão dos três deputados do partidos que aparecem na lista: Paulo Feijó (RJ), Eduardo Gomes (TO) e Itamar Serpa (RJ). O PPS estuda fazer o mesmo com Fernando Estima (SP).
Do total investigado, até agora só há um senador. Trata-se do líder do PMDB, Ney Suassuna (PB). Porém, de acordo com os depoimentos dos dirigentes da Planam, outros dois senadores teriam sido beneficiados pelo esquema: a petista Slhessarenko e Magno Malta (PL-ES). Eles negam.
A divulgação dos parlamentares envolvidos foi feita pelo presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). Ele ressaltou que o relatório preliminar -previsto para ser entregue em no máximo 30 dias- pode resultar numa lista menor ou maior que o número de 57 parlamentares investigados pela Procuradoria. "Poderão ser 57, menos de 57 ou mais de 57. Temos de ter cautela em relação a isso."
Integrante da CPI, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) defendeu a divulgação de mais nomes. Os dirigentes da Planam apontaram envolvimento de cerca de cem congressistas. A CPI já abriu "pastas eletrônicas" para 99. "Faltam mais 40 que precisam ter seus nomes divulgados", disse Heloísa.
Biscaia adiantou que, por ora, a CPI não irá investigar o envolvimento de integrantes do Executivo. "Isso ficará para uma segunda fase. Existem dois ex-ministros que são candidatos a governador em Pernambuco [Humberto Costa, do PT] e em São Paulo [José Serra, do PSDB]. Não queremos partidarizar a CPI."


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