São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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Peritos detectaram fumaça em motor, diz presidente da Infraero

Nova versão da estatal inclui falha mecânica nas investigações do acidente; TAM havia negado essa hipótese

Análise partiu de filme da tentativa de pouso; fumaça pode indicar que motores estavam funcionando em sentidos contrários

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente da Infraero (estatal responsável pelos aeroportos), brigadeiro José Carlos Pereira, disse ontem que os peritos detectaram "fumaça forte" no motor esquerdo do Airbus-A320 da TAM no filme feito do avião durante sua tentativa fracassada de pouso na pista do aeroporto de Congonhas.
Essa fumaça, ainda segundo o brigadeiro, introduz um elemento novo no início das investigações do maior acidente da história da aviação brasileira, com cerca de 200 mortes: a possibilidade de falha mecânica no equipamento -algo que a direção da TAM nega.
Pereira, que está em São Paulo acompanhando investigações e discussões sobre as causas do acidente, ocorrido às 18h50 da última terça, explicou em linguagem leiga o que pode significar a fumaça anormal.
Segundo ele, os motores são acionados para trás quando da decolagem, para impulsionar o jato para frente. O fluxo é invertido quando ocorre o pouso, ajudando a frenagem. É o famoso "reverso", cujo defeito foi responsável pela queda do Fokker-100 da mesma TAM em Congonhas em 1996.
A fumaça pode indicar que os motores estavam funcionando em sentidos opostos, um impulsionando para frente e outro freando, o que explicaria, por exemplo, por que o piloto não conseguiu parar o avião, que continuou em velocidade bem alta depois de tocar o solo e girou para a esquerda ao final da pista, em vez de seguir reto.
Se confirmada, a hipótese enfraquece suspeitas de que o acidente esteja ligado a falhas na pista, que passou por reforma sob responsabilidade da estatal. Apesar de haver várias dúvidas ainda, o brigadeiro disse que está praticamente comprovado que o avião estava em velocidade acima do normal para pousos e que o piloto tentou desesperadamente arremeter (decolar de novo), sem sucesso.

"Vira"
O filme mostra claramente a diferença de velocidade entre o Airbus e outras aeronaves no mesmo espaço. Ele gasta três segundos para passar por um campo de visão de câmera no qual outro avião gasta 16.
O grito "vira, vira" que as autoridades aeronáuticas identificaram nos minutos finais do vôo reforçam também a possibilidade de que o avião, com uma turbina impulsionando para frente e outra em "reverso", tivesse girado à esquerda antes de se projetar sobre a avenida Washington Luís.
Com o avião dando a guinada à esquerda, um dos dois pode ter tido o impulso de gritar "vira", para tentar manter o prumo e continuar reto na pista -condição que seria essencial para arremeter com sucesso.
O próprio brigadeiro, porém, disse que os investigadores não descartam a hipótese de que os gritos tenham partido de outra aeronave que, ao ver a manobra inesperada e trágica do Airbus, tenham involuntariamente gritado, numa espécie de torcida para que o avião escapasse.
Os rádios muitas vezes ficam em aberto, com várias aeronaves na mesma sintonia e vozes sendo ouvidas pelas torres de controle e entre elas próprias.
Para o diretor-geral do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), o também brigadeiro Ramon Borges Cardoso, os pilotos têm as mãos ocupadas nos manches e controles de aceleração durante pousos e decolagens e ficam sem disponibilidade para acionar botões de rádio para conversar com os controladores em terra.
Tanto Pereira quanto Cardoso frisaram que suas declarações estão ainda no nível de hipóteses e que as caixas-pretas vão mostrar exatamente em que momento os pilotos decidiram parar e depois arremeter.


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