São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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Procuradoria investiga se PF boicotou atuação de delegado

Protógenes Queiroz disse ao Ministério Público que foi obrigado a deixar caso Dantas

Direção da PF em Brasília e Ministério da Justiça dizem que estão à disposição do Ministério Público para prestar esclarecimentos


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Protógenes Queiroz, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, afirmou que foi obrigado a deixar o comando da Operação Satiagraha por imposição da cúpula da Polícia Federal, a quem responsabilizou também de tentar obstruir a investigação do caso. O Ministério Público Federal, que tem a função de exercer o controle externo da atividade da PF, vai apurar as acusações.
A queixa oficial do delegado, que prendeu ainda o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, coloca o governo federal numa posição embaraçosa.
Queiroz contradiz nota da direção da PF em Brasília na qual foi anunciado que o afastamento dele foi voluntário, pelos planos do delegado de fazer um curso superior de polícia. Contraria ainda o ministro da Justiça, Tarso Genro, que reforçou a versão da PF.
A gota d'água que motivou a declaração do delegado, segundo apurou a reportagem, foi a iniciativa do Ministério da Justiça, com a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de divulgar anteontem trechos da gravação de quase três horas da reunião em que ficou decidido o afastamento dele do inquérito. O objetivo do governo era provar que o próprio Queiroz pediu para deixar o caso.
Irritado, o delegado recorreu no mesmo dia ao Ministério Público. Os procuradores Anamara Osório Silva e Rodrigo De Grandis pediram a abertura de um procedimento administrativo para apurar as queixas.
A direção da PF em Brasília disse que não irá se manifestar sobre as declarações do delegado ao Ministério Público Federal. Afirmou que se colocou à disposição do órgão para qualquer esclarecimento. A assessoria do Ministério da Justiça limitou-se a informar que a posição do órgão é a mesma da PF.

Ignorado
Em três páginas com o timbre da instituição e em mais 13 folhas de documentos, Queiroz diz ter sido afastado do caso e ainda tenta provar que a cúpula da PF ignorou os seus pedidos de reforço de pessoal -ele solicitou pelo menos 50 agentes para ajudá-lo na análise de cerca de uma tonelada de equipamentos e papéis apreendidos.
Com a queixa do policial em mãos, o procurador da República Roberto Antônio Dassié Diana abriu ontem um procedimento para investigar se o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Roberto Ciciliati Troncon Filho, e o superintendente da instituição em São Paulo, Leandro Coimbra, chefe de Queiroz, coagiram o policial a deixar a investigação.
O delegado, ao contrário de um juiz ou de um procurador, não é inamovível em sua função. O que o Ministério Público quer saber é a motivação dos superiores em afastar o policial e se houve intenção deliberada de atrapalhar o caso.
Segundo a Procuradoria, no início desta semana, Troncon já havia se comprometido a entregar ao órgão a íntegra da gravação feita durante a reunião em que ficou decidida a saída do delegado, na segunda-feira.
O governo informou que apenas não divulgou as três horas de conversa porque há dados sigilosos de outros casos.
A reportagem apurou que Queiroz foi afastado da investigação porque omitiu informações de seus superiores. Não contou, por exemplo, que iria pedir a prisão do ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) nem que interceptou conversas dele com o chefe-de-gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho.
A prisão de Greenhalgh, acusado de ser lobista de Daniel Dantas, foi rejeitada pela Justiça. Ele nega qualquer irregularidade e afirma que apenas advoga para o banqueiro.


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