São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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Defesa questiona "atuação atípica" de Lula

Advogado de Daniel Dantas diz que está diante de um "processo político" e afirma ver "perseguição" contra seu cliente

Nélio Machado entregou documento ao delegado Protógenes Queiroz em que critica PF, Procuradoria e o juiz Fausto De Sanctis


Raimundo Paccó/Folha Imagem
Daniel Dantas e o advogado Nélio Machado chegam à Superintendência da Polícia Federal, na zona oeste de São Paulo, onde o banqueiro prestou depoimento

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado do banqueiro Daniel Dantas, Nélio Machado, disse ontem que seu cliente é vítima de perseguição política. Ele citou o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o dos ministros Tarso Genro (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa).
Ao deixar a Superintendência da PF, após prestar depoimento, Dantas não quis falar.
Ao chegar à PF, Machado disse que Dantas está sendo perseguido por "grupos de poder".
"É visível que o poder está se esfalecendo. Existem pessoas interessadas, e a imprensa toda divulga", afirmou, para depois completar: "Fala-se do ministro da Justiça, que passou dos limites razoáveis da atribuição de sua pasta, pois ele disse que já tem um entendimento pessoal de culpa do meu cliente."
Em entrevista à Folha, publicada no domingo, o ministro da Justiça declarou que considera "muito difícil" que Dantas consiga provar ser "inocente".
O advogado também alfinetou Lula. "Nunca vi presidente convocando reunião para tratar de um assunto como esse."
Para o defensor, se Lula está insatisfeito com alguém na PF, ele deve alterar o ministério.
Machado afirmou que está diante de um processo político. Questionado sobre a quem interessaria esse processo, disse que a pergunta deveria ser feita ao presidente e aos ministros Tarso e Jobim. Segundo ele, os três são "pessoas que têm tido uma atuação atípica" durante a Operação Satiagraha.
"Freqüento a Polícia Federal há mais de 30 anos e nunca vi ministro de Estado e presidente da República falando sobre investigações", disse.
O advogado foi à PF representando Dantas e mais nove pessoas do grupo Opportunity, entre elas Verônica Dantas, Carlos Rodenburg, Dório Ferman e Daniele Ninnio.
A orientação aos seus clientes era a de que não respondessem aos questionamentos.
Machado entregou ontem ao delegado Protógenes Queiroz documento criticando os trabalhos da PF, do Ministério Público Federal e do juiz Fausto De Sanctis, classificando-os de "triunvirato acusatório".
"Este documento é um protesto formal com respeito a tudo o que vem ocorrendo neste caso, prejulgamento do meu cliente, manobra das prisões." Chamou as investigações de "devassa medieval".
Machado disse que a investigação está permeada "de fatos estranhos, inusitados, irregulares e inortodoxos". "Quero que a investigação seja isenta, o que não vem ocorrendo. Dantas está sendo perseguido."
No protesto formal de seis páginas, ele escreveu que a investigação "já está timbrada por indisfarçável viés político" e criticou a participação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no caso e reclamou de interceptações de conversas entre advogados e clientes.
Afirmou que os direitos de o advogado exercer sua profissão estão sendo "vilipendiados".
Machado disse que "estranhou" o fato de a PF ter divulgado só três minutos e 55 segundos das quase três horas da reunião na Superintendência da PF em São Paulo, na segunda, em que ficou acertada a saída de Protógenes.


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