São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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PF apura "troca de favor" em licitação no AP

Segundo a polícia, mineradora de Eike teria contratado empresa ligada à família de governador para ser favorecida em licitação

Grampo da PF revela auditor intercedendo em favor de empresa de genro do irmão de Waldez para facilitar concorrência por ferrovia


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACAPÁ

Inquérito da Polícia Federal afirma que a contratação de uma empresa ligada à família do governador do Amapá, Waldez Góes (PDT-AP), serviu como uma "troca de favores" entre a mineradora MMX, do empresário Eike Batista, e o governo do Estado. A PF investiga suposto direcionamento da licitação para a concessão da Estrada de Ferro do Amapá em favor da mineradora de Eike.
Segundo a PF, as interceptações telefônicas tornam "cristalina" essa "troca" entre "empresas investigadas" e "pessoas vinculadas" à administração. De acordo com as investigações, que culminaram na Operação Toque de Midas na semana passada, transcrições mostram Braz Josaphat, auditor-fiscal apontado como lobista da empresa de Eike, solicitando "claramente favores à empresa Conterra em troca da sua atuação perante o processo de licitação da estrada de ferro".
A Conterra é uma empresa de aluguel de maquinário e, de acordo com a assessoria do governo, pertence a um genro de Jesus Góes, irmão de Waldez.
Em conversa em janeiro de 2006 com José Frederico, que a PF aponta como "homem de confiança" de Eike e funcionário da mineradora MPBA (que tinha participação da MMX), Josaphat pediu "para ele retomar os contratos" e fazer um "ajuste" sobre a Conterra.
"Aí a gente vai com o "firmão" do governador para dentro da mineradora do projeto ferro", afirmou Josaphat. "Inclusive dentro daquele princípio daquilo que o Flávio [Godinho, vice-presidente da MMX] falou naquele dia [...] para a gente retomar essas máquinas. [...] Mesmo que reduza do outro, coloca as cinco da Conterra."
Nesse mesmo dia, Josaphat disse a Frederico que "existe realmente uma angústia até do próprio governador" para que a empresa consiga os contratos privados, já que ela "não pode ganhar licitação porque é do irmão dele". "Em função do poder, eles acabam tendo prejuízo", afirmou Josaphat.
Dois dias depois, o auditor disse que estava sofrendo uma "pressão" para agilizar o negócio. "O irmão e o Tupi foram para cima dele [governador] lá na casa dele, aí ele pegou o Joca [assessor do governador] e me mandou me repassar."
Frederico disse que iria conversar pessoalmente com "eles" e que depois daria um "retorno". O inquérito não explicita quem são Tupi e "eles".
Em outro diálogo, cerca de uma semana depois, Josaphat volta a cobrar do funcionário da MPBA a entrada de máquinas da Conterra na obra. "Tem alguma posição em relação àquele negócio lá da Serra do Navio [onde há minas do MPBA e da MMX]? Aquilo tem sido meu calcanhar de Aquiles."
Também existe a suspeita de que a Amacon Aluguel de Máquinas e Construtora, empresa que prestou serviços nas minas da MMX e da MPBA, seja de Reginaldo Góes, outro "parente" de Waldez, segundo a PF. Segundo o governo, ele é neto de um tio do governador.


Colaboraram BRENO COSTA e PABLO SOLANO , da Agência Folha


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