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Comissões do Senado empregam "fantasmas"
Nenhum dos 61 funcionários dos grupos de trabalho é concursado e grande parte atua para senadores em seus Estados
Trabalho fora de Brasília é reprovado pela Advocacia Geral do Senado, mas os senadores se aproveitam
da falta de normas na Casa
FÁBIO ZANINI
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Motorista do ex-deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ),
cassado no escândalo do mensalão, Eduardo Nunes Serdoura dá expediente no Rio, mas foi
funcionário fantasma da Comissão de Infraestrutura do Senado até o dia 10 de julho.
Seu caso é um exemplo de como funcionam as 12 comissões
do Senado, nichos de aparelhamento político da Casa.
Todos os 61 servidores nelas
lotados são funcionários não
concursados. Muitos são apadrinhados de senadores, fazendo trabalho político em vez de
servirem às comissões.
As comissões fazem a primeira análise dos projetos antes da votação. Também podem
aprovar matérias em caráter
terminativo -ou seja, sem necessidade de irem a plenário.
Em pelo menos sete comissões -Assuntos Econômicos,
Assuntos Sociais, Direitos Humanos, Desenvolvimento Regional, Infraestrutura, Meio
Ambiente e Orçamento- a Folha identificou servidores que
trabalham para senadores, seja
nos gabinetes em Brasília ou
nos escritórios nos Estados.
A prática, sobretudo nos Estados, é reprovada pela Advocacia Geral do Senado, mas os senadores se aproveitam da falta
de normas na Casa. Agora, a
Mesa Diretora promete aprovar um ato vedando a prática.
Serdoura, o motorista de Jefferson, negou que more no Rio
e que trabalhe para o ex-deputado, que também preside o
PTB. "Moro em Brasília. Quem
disse que eu moro no Rio de Janeiro?", afirmou, mesmo tendo
sido localizado pela Folha no
escritório político de Jefferson
na capital fluminense.
Segundo ele, estava de passagem. Um funcionário do escritório, porém, confirmou que
ele é motorista de Jefferson.
Serdoura afirmou que presta
serviços para senadores na liderança do PTB no Senado,
apesar de ninguém conhecê-lo
por lá. "Eu lá quero saber de
motorista? Até gostaria de ser,
porque deve trabalhar pouco."
Segundo a assessoria de Jefferson, ele é seu "motorista
eventual". O ex-deputado disse
que não sabia por que ele foi
contratado pela Casa em 2007.
Presidida pelo senador petebista Fernando Collor (AL), a
Comissão de Infraestrutura é,
nas palavras de um servidor do
órgão que não quis se identificar, "totalmente política". O senador Mozarildo Cavalcanti
(PTB-RR) mantém na sua estrutura dois assessores, um em
Brasília, outro em seu Estado.
Outro exemplo está na Comissão de Orçamento. É um
órgão misto, ou seja, pertencente às duas Casas, mas a sua
estrutura física e de pessoal
técnico está toda na Câmara.
O presidente do órgão, senador Almeida Lima (PMDB-SE),
tem ao menos cinco assessores
lotados na comissão trabalhando para ele em Aracaju (SE).
"As nomeações passaram pelo crivo da Casa. Eles fazem assessoramento ao Orçamento.
Recebem tarefas de levantamento de dados", disse Lima.
Segundo ele, a Câmara e o
Senado sempre colocam alguns
cargos à disposição do presidente da comissão. Mas, conforme o próprio Lima, a Câmara obriga seus assessores a baterem ponto em Brasília. O Senado não.
Lima diz que o fato de os servidores estarem em Aracaju
não significa que não estejam
cumprindo tarefas para a comissão. "Eu poderia ter um assessor em Tóquio e ele estaria
on-line em contato comigo."
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