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Ameaças contra a liberdade de imprensa preocupam ANJ
Entidade registrou 31 casos recentes de violação e estuda ação contra a censura
Associação Nacional de Jornais comemorou seus 30 anos com debate sobre jornalismo e lançamento
de livro ontem em Brasília
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A defesa da liberdade de informação e a discussão sobre o
futuro do jornalismo dominaram os debates ontem no painel realizado em Brasília para
marcar os 30 anos da ANJ (Associação Nacional de Jornais)
-entidade representativa das
principais publicações do país,
criada em 17 de agosto de 1979.
O painel reuniu representantes de grandes empresas de comunicação, que manifestaram
preocupação com ameaças à liberdade de expressão, principalmente decisões judiciais
que proíbem a publicação de
reportagens.
"Não há como conceber a
nossa atividade sem ampla liberdade. Mais do que um direito dos jornais, a liberdade de informação é um direito dos cidadãos", disse Judith Brito, presidente da ANJ e diretora-superintendente do Grupo Folha,
no discurso de abertura.
De acordo com Ricardo Pedreira, diretor-executivo da
ANJ, a associação discute a
possibilidade de ingressar na
Justiça para tentar evitar a censura prévia. "A associação estuda se é cabível alguma ação no
Judiciário, mas ainda há divergências", disse.
De acordo com a ANJ, nos últimos 12 meses ocorreram no
Brasil 31 casos registrados de
violação à liberdade de imprensa, sendo 16 decorrentes de decisões do Judiciário.
Participaram como debatedores do painel os jornalistas
Merval Pereira (colunista de "O
Globo"), Marcelo Rech (diretor-geral de Produto do Grupo
RBS), Daniel Piza (editor-executivo e colunista de "O Estado
de S. Paulo"), Carlos Eduardo
Lins da Silva (ombudsman da
Folha) e Alon Feuerwerker
(colunista do "Correio Braziliense"). O encontro foi mediado por Fernando Rodrigues, repórter da Folha e diretor do
Comitê Editorial da ANJ.
Convidado internacional do
evento, o jornalista grego-britânico Iason Athanasiadis falou sobre os interrogatórios a
que foi submetido no Irã, país
em que ficou 20 dias preso, entre junho e julho, por suspeita
de espionagem durante a cobertura sobre as manifestações
contra o resultado da eleição
que manteve Mahmoud Ahmadinejad no poder.
Durante a fala dos debatedores, foram citados como exemplo de censura prévia e ameaças à liberdade de imprensa a
decisão do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal que proibiu
o jornal "O Estado de S. Paulo"
de publicar reportagens sobre
investigação contra um dos filhos do presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP), e as
ações movidas por integrantes
da Igreja Universal do Reino de
Deus contra a Folha e outros
órgãos de imprensa.
"O direito à liberdade de expressão é um direito fundamental (...), mas um direito
nunca é absoluto. Os que se excedem prejudicam os outros,
caluniam, tem que ser responsabilizados, mas a posteriori",
disse Lins da Silva. "É lamentável a censura prévia ao "Estado",
proibindo o jornal de divulgar
um conteúdo de alto interesse
público, que está acima do interesse de um filho de senador de
impedir a publicação dessa informação", afirmou Piza.
Na opinião de Feuerwerker,
o Supremo Tribunal Federal já
deixou claro que não é possível
estabelecer um controle da informação a priori, já que há
prevalência do direito à livre
expressão sobre outros direitos, como o da imagem. Rech
também manifestou preocupação com o que considera ameaças à atividade de informar, como o que chamou de "a indústria da indenização".
Futuro
Houve divergência entre os
debatedores quando o assunto
foi o futuro do jornalismo diante das novas mídias. Merval Pereira defendeu a tese de que a
divulgação de opiniões na internet, sem uma estrutura e o
rigor adequados, não pode ser
classificada como jornalismo:
"O jornal, as empresas de comunicação, são a base do que a
internet pode dar de melhor".
Opinião semelhante manifestou o ombusdman da Folha:
"Esse fenômeno do chamado
jornalismo cidadão é um avanço no terreno da liberdade de
opiniões, mas pode levar a um
custo: o de a sociedade se
transformar em uma sociedade
de leitores pós-factuais, onde
os fatos não interessam, mas
sim as opiniões. (...) Há blogs
excelentes, mas há blogs individuais, opinativos e difundidores de falsas informações, que,
acho, são a maioria".
Piza discordou, afirmando
que não há como considerar
bom jornalismo apenas aquele
feito por pessoas que passaram
por uma redação.
Também faz parte das comemorações o lançamento do livro "A Força dos Jornais", de
Judith Brito e Ricardo Pedreira
(ANJ, 151 págs.). Antes do painel, integrantes da entidade
participaram de um almoço
com o ministro da Fazenda,
Guido Mantega. Na ocasião, o
vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, recebeu o título de Associado Honorário da ANJ.
Folha Online
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