São Paulo, quarta-feira, 19 de agosto de 2009

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Ameaças contra a liberdade de imprensa preocupam ANJ

Entidade registrou 31 casos recentes de violação e estuda ação contra a censura

Associação Nacional de Jornais comemorou seus 30 anos com debate sobre jornalismo e lançamento de livro ontem em Brasília

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A defesa da liberdade de informação e a discussão sobre o futuro do jornalismo dominaram os debates ontem no painel realizado em Brasília para marcar os 30 anos da ANJ (Associação Nacional de Jornais) -entidade representativa das principais publicações do país, criada em 17 de agosto de 1979.
O painel reuniu representantes de grandes empresas de comunicação, que manifestaram preocupação com ameaças à liberdade de expressão, principalmente decisões judiciais que proíbem a publicação de reportagens.
"Não há como conceber a nossa atividade sem ampla liberdade. Mais do que um direito dos jornais, a liberdade de informação é um direito dos cidadãos", disse Judith Brito, presidente da ANJ e diretora-superintendente do Grupo Folha, no discurso de abertura.
De acordo com Ricardo Pedreira, diretor-executivo da ANJ, a associação discute a possibilidade de ingressar na Justiça para tentar evitar a censura prévia. "A associação estuda se é cabível alguma ação no Judiciário, mas ainda há divergências", disse.
De acordo com a ANJ, nos últimos 12 meses ocorreram no Brasil 31 casos registrados de violação à liberdade de imprensa, sendo 16 decorrentes de decisões do Judiciário.
Participaram como debatedores do painel os jornalistas Merval Pereira (colunista de "O Globo"), Marcelo Rech (diretor-geral de Produto do Grupo RBS), Daniel Piza (editor-executivo e colunista de "O Estado de S. Paulo"), Carlos Eduardo Lins da Silva (ombudsman da Folha) e Alon Feuerwerker (colunista do "Correio Braziliense"). O encontro foi mediado por Fernando Rodrigues, repórter da Folha e diretor do Comitê Editorial da ANJ.
Convidado internacional do evento, o jornalista grego-britânico Iason Athanasiadis falou sobre os interrogatórios a que foi submetido no Irã, país em que ficou 20 dias preso, entre junho e julho, por suspeita de espionagem durante a cobertura sobre as manifestações contra o resultado da eleição que manteve Mahmoud Ahmadinejad no poder.
Durante a fala dos debatedores, foram citados como exemplo de censura prévia e ameaças à liberdade de imprensa a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal que proibiu o jornal "O Estado de S. Paulo" de publicar reportagens sobre investigação contra um dos filhos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e as ações movidas por integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus contra a Folha e outros órgãos de imprensa.
"O direito à liberdade de expressão é um direito fundamental (...), mas um direito nunca é absoluto. Os que se excedem prejudicam os outros, caluniam, tem que ser responsabilizados, mas a posteriori", disse Lins da Silva. "É lamentável a censura prévia ao "Estado", proibindo o jornal de divulgar um conteúdo de alto interesse público, que está acima do interesse de um filho de senador de impedir a publicação dessa informação", afirmou Piza.
Na opinião de Feuerwerker, o Supremo Tribunal Federal já deixou claro que não é possível estabelecer um controle da informação a priori, já que há prevalência do direito à livre expressão sobre outros direitos, como o da imagem. Rech também manifestou preocupação com o que considera ameaças à atividade de informar, como o que chamou de "a indústria da indenização".

Futuro
Houve divergência entre os debatedores quando o assunto foi o futuro do jornalismo diante das novas mídias. Merval Pereira defendeu a tese de que a divulgação de opiniões na internet, sem uma estrutura e o rigor adequados, não pode ser classificada como jornalismo: "O jornal, as empresas de comunicação, são a base do que a internet pode dar de melhor".
Opinião semelhante manifestou o ombusdman da Folha: "Esse fenômeno do chamado jornalismo cidadão é um avanço no terreno da liberdade de opiniões, mas pode levar a um custo: o de a sociedade se transformar em uma sociedade de leitores pós-factuais, onde os fatos não interessam, mas sim as opiniões. (...) Há blogs excelentes, mas há blogs individuais, opinativos e difundidores de falsas informações, que, acho, são a maioria".
Piza discordou, afirmando que não há como considerar bom jornalismo apenas aquele feito por pessoas que passaram por uma redação.
Também faz parte das comemorações o lançamento do livro "A Força dos Jornais", de Judith Brito e Ricardo Pedreira (ANJ, 151 págs.). Antes do painel, integrantes da entidade participaram de um almoço com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na ocasião, o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, recebeu o título de Associado Honorário da ANJ.


Folha Online
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