|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REVISTA DA FOLHA
Netos e filhos ensaiam primeiros passos
Cenário político
atrai herdeiros
PAULO SAMPAIO
da "Revista da Folha"
Todo mundo já ouviu falar de
Antonio Carlos Magalhães, Fernando Collor, Jânio Quadros e José Dirceu. Pelo menos, é isso que
esperam os personagens desta reportagem. Eles são herdeiros desses homens e ensaiam os primeiros passos na vida política.
Mas, será que basta ser filho, ou
neto? "É possível aprender política por osmose, pela vivência familiar, mas o poder não "passa"
assim. Precisa ter luz própria", diz
o cientista político Gildo Marçal
Brandão, professor da USP.
Antonio Carlos Magalhães Neto, 20, assessor político da secretaria da Educação da Bahia, é eloquente, adora um discurso e abusa de expressões como "povo da
Bahia", "razão de ser" e "força".
Recentemente eleito presidente
do PFL jovem, renunciou com receio de ser acusado de favoritismo. Seu próximo passo é disputar
uma vaga de deputado estadual.
"Adoro um discurso. É o melhor momento", diz ACM Neto,
após desfazer o laço de fita branco, na inauguração do laboratório
de informática de uma escola em
Conceição da Feira, cidade de 24
mil habitantes a 124 km de Salvador. Foi recebido com uma salva
de morteiro, faixas e duas fanfarras entoando sucessos.
Ele não reclama do peso da "grife" ACM. "Meu avô é meu grande
professor, é quem vai me passar a
experiência de toda uma vida. É
em quem eu acredito politicamente, e quem vai me dizer quais
os nortes que devo tomar."
Arnon Affonso de Mello Neto,
23, filho mais velho do ex-presidente Fernando Collor, faz o estilo "menino simples". Mas, desde
que chegou de uma temporada de
estudos na Suíça e nos EUA, há
dois meses, o garoto loiro, alto,
1,92m, 90kg é considerado "o galã
das Alagoas".
Exatamente como seu pai há 26
anos, ele foi eleito neste mês presidente do Centro Sportivo Alagoano, CSA, clube de futebol mais
popular do Estado. Sobre seu futuro político, Arnon é evasivo: "O
que tiver de ser, será."
"As pessoas precisam de mim
em Maceió", afirma explicando
porque preferiu morar na cidade
em vez de viver no Rio de Janeiro
com a mãe, a socialite Lilibeth
Monteiro de Carvalho.
No espectro político, ele não se
considera "nem direita nem de
esquerda", mas teria votado em
Ciro Gomes na última eleição. Sobre o impeachment de seu pai,
tem a convicção de que foi a "direita" a responsável. "Fidel Castro
me disse uma vez que meu pai era
o verdadeiro socialista do Brasil.
Nunca esqueci essas palavras."
Jânio John Quadros Mulcahy,
26, é o que mais assume o sobrenome famoso: mudou o nome
para Jânio Quadros Neto, a fim de
atrair votos. "Meu nome é uma
mídia e tanto. A questão agora é
fazer os janistas saberem que eu
existo", diz "Janinho" ("sempre
me chamaram assim").
Quando perguntam se ele transita bem pelo poder, a resposta
vem ilustrada. Janinho saca de
um envelope fotos dele em companhia de vários chefes de Estado.
Ele diz que pretende se candidatar pela segunda vez a um cargo
público. Na primeira, em 94, para
deputado estadual, ele obteve
apenas 5 mil votos. Filiou-se ao
PMDB de Orestes Quércia, mas
diz que abandonou a candidatura
no meio. "Não apareci nem no
horário político." Quase foi expulso do partido quando deu
uma entrevista apoiando Covas e
Fernando Henrique, do PSDB.
Depois de sete anos em Londres, onde se formou em economia, Janinho está há um ano no
Brasil. Ele é evasivo ao explicar o
que faz em São Paulo. "Vivo de
free-lances. Ajudei o governador
de Utah em uma visita ao Brasil.
Presto também assessoria a empresários americanos que querem
se instalar aqui", diz.
José Carlos Becker de Oliveira e
Silva, 21, o Zeca, filho de José Dirceu, presidente nacional do PT, é
o mais "tranquilão" dos "filhos
dos homens". Vivendo em Cruzeiro do Oeste, uma cidade de 24
mil habitantes no interior do Paraná, ele planeja se tornar vereador para deixar o "lugar mais bonito e com mais empregos". Não
fala, por enquanto, em socialismo
ou em planos políticos mais ambiciosos. "Quando vou para São
Paulo, não aguento ficar nem
uma semana", diz.
A iniciação política de Zeca foi
com a mãe, a comerciária Clara
Becker, 59, que se candidatou
duas vezes a vereadora ("não me
lembro o partido"). Clara se separou de Zé Dirceu quando Zeca tinha 3 anos.
"Eu era adolescente e a acompanhava nas reuniões do partido,
uma coalisão do PDT com o
PFL", conta Zeca. "Foi ali que eu
percebi que estava tudo errado.
Acabei convencendo minha mãe
a desistir e a não votar neles." Em
1994, ele resolveu aderir ao partido do pai.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Eles estão vendo tudo Próximo Texto: Estado: Oposição faz pedido para abrir CPI no ES Índice
|