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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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BASTIDORES

Planalto visa proteger reformas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou o anúncio oficial da unificação dos programas sociais por temer desagradar aos governadores e, assim, contaminar a aprovação das reformas previdenciária e tributária -o apoio dos Estados é fundamental.
Também pesou uma questão relacionada à reforma ministerial: o que fazer com ministros da área social, especialmente Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social) e José Graziano (Segurança Alimentar)?
Ambos perderão poder com a oficialização da unificação dos programas sociais sob a coordenação da socióloga Ana Fonseca, numa supersecretaria subordinada diretamente à Presidência.
Numa reunião ontem com o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), o presidente se deu conta de que os governadores e os prefeitos de capitais não apareciam na campanha publicitária do Bolsa-Família, nome oficial da unificação dos programas sociais.
Lula julgou que seria uma descortesia, já que se reuniu com os governadores no dia em que enviou ao Congresso as duas reformas, para que juntos elaborassem a unificação dos programas.
Num momento em que aumentam as resistências às reformas e em que a discussão passa para o Senado, a Casa que representa os Estados, seria inabilidade política, na avaliação de Lula, tentar faturar sozinho a unificação social.
A campanha publicitária já está pronta e tem como slogan "A Evolução dos Programas de Distribuição de Renda no Brasil". As propagandas, porém, deverão receber ajustes do publicitário Duda Mendonça para incorporar governadores e prefeitos de capitais.
Lula crê que a unificação pode ser vendida como "boa notícia". Por isso, pretende dividir esse "bônus", segundo um ministro, com governadores e prefeitos de capitais. Daí já ter marcado uma reunião com eles no dia 30.
Há também um problema técnico. O governo ainda precisa acertar com Estados e municípios como será a distribuição do dinheiro, com cadastros unificados.

Brigas
Apesar de ter havido muita divergência interna até a reunião de anteontem, na qual Lula bateu o martelo em relação ao formato da unificação, as brigas não foram as responsáveis pelo adiamento.
Ministros como Benedita, Graziano e Cristovam Buarque (Educação) lutaram até o último momento para manter algum controle sobre a secretaria de Ana Fonseca. Lula não cedeu.
Graziano chegou a defender que a unificação fosse batizada de Fome Zero. A marca foi vista como muito ligada à miséria e deu lugar ao nome de Bolsa-Família, parecido com Bolsa-Escola, o que acabou agradando a Cristovam.
Benedita quis que a secretaria ficasse subordinada a seu ministério. Ganhou a promessa de que seu secretário-executivo, Ricardo Henriques, atuará em coordenação com Ana Fonseca.
O fato, porém, é que são esvaziadas as pastas de Benedita e de Graziano. Isso pode levá-los a perder o status de ministro ou até mesmo a sair do governo.
(KENNEDY ALENCAR)


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