São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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LEGISLATIVO

Entre os parlamentares mais influentes, só José Sarney representa a geração anterior ao golpe de 1964

Eleição dos "10 mais" indica renovação da elite do Congresso

RAYMUNDO COSTA
DO PAINEL EM BRASÍLIA

A eleição dos dez deputados e senadores mais influentes do Congresso, em sua versão de 2004, indica a renovação de líderes tanto na Câmara dos Deputados como no Senado, um processo que começou no governo Lula, mas pode diminuir de ritmo se a emenda da reeleição das Mesas do Congresso vier a ser aprovada.
Na lista dos "dez mais" de 2004, só José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado. representa a geração anterior ao golpe de 1964.
A eleição da elite do Congresso Nacional é feita pelo voto direto de 100 parlamentares escolhidos pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) como os mais influentes. Desses 100, votaram 83.
No PFL, originário da antiga Arena, partido de sustentação ao regime militar, sumiram caciques como Antonio Carlos Magalhães (BA), que ficou com a 13ª posição, e Jorge Bornhausen (SC), na 11ª. O ex-vice-presidente Marco Maciel (PE) só aparece na 31ª posição.
Os novos nomes pefelistas apontados foram José Agripino Maia (RN), líder no Senado, e José Carlos Aleluia (BA), líder na Câmara. Os dois se caracterizam pela agressiva oposição que fazem ao governo Lula no Congresso.
"É uma característica dessa eleição no governo do PT: é apontado quem faz oposição e combate o governo e quem defende enfaticamente o governo", diz Antonio Augusto Queiróz, diretor de Documentação e consultor político do Diap. Em 2003, por exemplo, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) não apareceu entre os "dez mais". Agora, ficou na 9ª posição, com 22 votos. Entre um ano e outro, Tasso passou de discreto aliado a um ferrenho crítico do governo Lula em geral e do ministro José Dirceu (Casa Civil) em particular. "Quanto mais ostensiva a oposição, mais visibilidade ganha o parlamentar", diz Queiróz.
A "politização" da lista no governo Lula, como diz Queiróz, é o que explicaria a saída da lista da elite do Congresso de nomes mais "técnicos", como o deputado Delfim Netto (PP-SP), que ficou com a 12ª posição, ou do senador Jefferson Péres (PDT-AM).

Partidos
Dos "dez mais" eleitos neste ano, quatro são do PT, todos de São Paulo -o que reforça a imagem de "partido paulista"- e três deles do chamado campo majoritário da sigla: João Paulo Cunha, presidente da Câmara, Aloizio Mercadante, líder do governo no Senado, e Professor Luizinho, líder de Lula na Câmara. Só Arlindo Chinaglia, líder do PT na Câmara, é da ala independente.
Da elite do ano passado, um virou líder do governo na Câmara -Professor Luizinho - e dois viraram ministros de Lula: Eunício Oliveira (CE), nas Comunicações, e Aldo Rebelo (PC do SP), na Coordenação Política. Um era líder na Câmara do PMDB e outro do governo, respectivamente.
O líder do PSDB, Jutahy Magalhães (BA) deixou a lista. Do partido, só restou o líder no Senado, Arthur Virgílio (AM). Os tucanos sumiram na Câmara: o mais votado, Alberto Goldman (SP), aparece na 16ª posição. Sorte idêntica teve o PMDB. O líder José Borba (PR) nem sequer aparece entre os 20. Já o líder no Senado, Renan Calheiros (AL), que ficou de fora da edição anterior, neste ano aparece na 7ª posição, com 29 votos.
Renan cresceu na avaliação dos colegas ao se opor ao projeto que permitiria a reeleição de Sarney e de João Paulo. Ele ganhou a primeira batalha ao levar a grande maioria do PMDB a votar contra uma das versões do projeto.
Curiosamente, João Paulo e José Sarney, mesmo derrotados no primeiro embate, mantiveram a primeira e a segunda posição entre os dez. João Paulo com 60 votos; José Sarney, com 57.


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