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JANIO DE FREITAS
Investigações normais
Integrante subalterno da Presidência não se
meteria em jogo tão alto senão por ordem superior
NEM INTERVALO há mais entre
um escândalo e o seguinte.
Vão se sobrepondo e sufocando uns aos outros, na impaciência de revelar suas peculiaridades.
Vampiros, suborno de Severino Cavalcanti, Correios, mensalão, caixa
dois, absolvição de mensaleiros e
congêneres, turma do chefe Palocci,
violação de sigilo bancário, sanguessugas, e agora chega-se a dois de
uma vez só: grampos no Supremo e
no Tribunal Superior Eleitoral e o
pacote negociado entre os Vedoin,
que se mostram em novas habilidades, petistas e outros.
Contínuos, os escândalos deixam
de ser escandalosos e se tornam a
normalidade. Dizer o quê, sobre um
ou dois que surjam na fieira de fatos
normais de dias normais? Mas é da
obrigação. Então, vamos lá.
Não pode ser dispensado, nas investigações, o envolvimento de gente graúda do PT e do governo na
transação com os Vedoin, para montagem e venda de material a ser dado
como incriminatório de Serra e
Alckmin. Integrante subalterno do
dispositivo da Presidência da República não se meteria em jogo tão alto
senão por ordem ou autorização superior. O citado até agora na trama,
Freud Godoy, é um dos agentes de
segurança de Lula. Em tal condição,
seus reconhecidos encontros com o
implicado Gedimar Passos, advogado de interesses do PT e de petistas
graduados, evidencia um desencontro de representatividades funcionais que não se explica com a facilidade pretendida por Godoy.
Os valores financeiros em que se
desenvolveu a negociação são próprios dos que podem manipular somas elevadas. Note-se que a negociação continuou apesar do pedido
inicial dos Vedoin, de R$ 20 milhões.
A propósito, pode-se deduzir, considerada a insatisfação referida por
Gedimar Passos com o material
apresentado, que os Vedoin reduziram não só o preço pedido, para R$ 2
milhões, mas também o pacote que
se dispunham a vender. Já está comprovada, aliás, a veracidade da frase
publicada aqui há quase um mês:
"Há indícios, não aproveitados pelas
investigações, de que [Luiz Antônio
Vedoin] tem, escondidos, mais documentos da corrupção do que entregou aos inquéritos" (em "Provas
ambulantes", de 29 de agosto).
"Uma revista" completou o pagamento afinal acertado com os Vedoin, mas, seja qual for o total restante, o primeiro suspeito de proporcioná-la é algum cofre de arrecadações controlado por petistas. Petistas de escalão partidário proporcional ao montante negociado. A velha regra de "quem é o maior interessado" continua atual.
Em sua ação preliminar, a Polícia
Federal deixou uma decisão incomum e inexplicada. É própria das
ações policiais a busca do flagrante,
mas, desta vez, a PF preferiu evitá-lo, fazendo as prisões antes do ato de
entrega e pagamento do material,
que sabia onde, quando e com quem
ocorreria. Decisão incompreensível.
Compreensível é que examine, como informa, as liberações de verbas
do Ministério da Saúde por ex-ministros citados pelos Vedoin. Mas
tudo indica que investigações prioritárias têm que ser levadas à alta hierarquia do PT e entrar nos gabinetes
da Presidência da República.
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