São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Relatório da PF indicia 36 por valerioduto de Minas

Walfrido, vice de Azeredo na época, diz que seu nome aparece em "projeção de custo"

Com base no inquérito, os investigados poderão ser denunciados ao Supremo pelo procurador-geral Antonio Fernando de Souza

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório final do inquérito da Polícia Federal que investigou o suposto esquema do valerioduto em Minas em 1998, concluído em julho, citou o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia (PTB), o ex-governador e atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e indiciou 36 pessoas sob suspeitas diversas.
O documento também reproduz lista, considerada autêntica pela PF, que descreve o envio de R$ 110 mil do esquema para a campanha do então candidato a deputado e atual governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). Com base no inquérito, os investigados poderão ser denunciados ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
A investigação é desdobramento do escândalo do mensalão, que atingiu o governo Lula, o PT e partidos da base aliada. Por ordem do STF, a PF passou a investigar se esquema semelhante, também operado por Marcos Valério Fernandes de Souza, funcionou durante a campanha de Azeredo.
A origem da investigação em Minas foram cópias de operações bancárias e lista vazados em 2005 pelo lobista Nilton Monteiro. A lista faz descrição de origem e destino de supostos recursos de caixa 2 e diz que o captado chegou a R$ 100 milhões. O candidato declarou R$ 8,5 milhões à Justiça Eleitoral.
O papel foi assinado pelo tesoureiro da campanha de Azeredo, Cláudio Mourão, e teve sua autenticidade atestada pela PF. Mourão assumiu a autoria da assinatura, mas não naquele papel. Os peritos concluíram ser impossível que a assinatura tenha sido plantada no papel.
Segundo a PF, o esquema funcionou da seguinte forma: 1) empresas de Valério obtiveram R$ 28,5 milhões em empréstimos de bancos em 1998 com o objetivo de usar na campanha; 2) vindo dos bancos, o dinheiro saiu do caixa das agências por meio de saques em espécie ou transferências bancárias para chefes de campanhas, candidatos ou fornecedores de materiais; 3) os empréstimos foram pagos por meio de outros empréstimos e por depósitos em dinheiro, "de origem não identificada"; 4) o publicitário era remunerado por meio de contratos com órgãos públicos e estatais, e a PF aponta desvios de recursos de campanhas publicitárias.
A suposta participação de Walfrido, na época vice de Azeredo e candidato a deputado, é referida diversas vezes no relatório. Ele foi coordenador de campanha de Azeredo em 1994. A "lista de Mourão" indica recebimento de R$ 24 milhões no nome do ministro em 1998.
Folhas escritas pelo ministro indicam, segundo a PF, movimentação de caixa 2. Walfrido alega, desde que o papel veio a público, que era apenas uma projeção de custos. Em 2002, Walfrido pagou R$ 507 mil de uma dívida cobrada por Mourão de Azeredo. O valor nunca foi devolvido ao ministro pelo senador, e o ministro também nunca cobrou-o, pelo fato, segundo a assessoria de Walfrido, de serem amigos.
Na lista estão nomes de candidatos a cargos proporcionais que teriam recebido dinheiro da campanha de Azeredo. A lista cita candidatos a deputados do PSDB e de partidos coligados. Há referências a 17 partidos e 130 nomes de políticos.


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