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Perícia aponta que aparelhos da Abin não fizeram grampo
Segundo a PF, nenhum dos 16 equipamentos gravou conversa de Mendes e Demóstenes
Laudo impõe derrota ao ministro Nelson Jobim, que havia acusado a agência
de ter máquinas capazes
de fazer a interceptação
MARIA CLARA CABRAL
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Perícia realizada pela Polícia
Federal em 16 equipamentos
de inteligência da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
constatou que nenhum deles é
capaz de realizar interceptações telefônicas como a feita
em conversa entre o presidente
do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes
Torres (DEM-GO).
Segundo o documento produzido pelo INC (Instituto Nacional de Criminalística) da PF,
dois dos equipamentos analisados são capazes de fazer escutas, mas só em linhas analógicas. A conversa entre as duas
autoridades, no entanto, foi feita por meio de uma conferência
entre linhas fixas digitais do Senado e do STF, depois transferida para o celular de Mendes.
"Os equipamentos enviados
para exame, nas condições
apresentadas, isolados ou em
conjunto, não possuem capacidade técnica para demodular
sinais de telefonia celular nos
padrões GSM, CDMA e PCS",
diz o laudo, enviado à CPI dos
Grampos e à Comissão Mista
de Controle das Atividades de
Inteligência do Congresso.
O resultado da perícia não
elimina as suspeitas de que
agentes da Abin tenham feito
grampos ilegais, apenas derruba a possibilidade de que tenham sido realizados com
equipamentos comprados oficialmente e apresentados pela
agência. A hipótese de agentes
secretos terem atuado com
equipamentos adquiridos clandestinamente continua sendo
uma das mais fortes do inquérito aberto pela PF para investigar as escutas ilegais.
O laudo do INC impõe uma
derrota ao ministro Nelson Jobim (Defesa), que acusou categoricamente a agência de possuir equipamentos com capacidade de interceptação. Já sabendo do resultado de um outro laudo nos aparelhos da
Abin, feito pelo próprio Exército, Jobim recuou de suas acusações, anteontem, ao depor à
CPI. Em vez de afirmar que a
agência possuía equipamentos
de grampos, como anteriormente, o ministro disse aos deputados que não tinha "certeza" disso e que apenas recebera
"informações" nesse sentido.
A acusação de Jobim foi decisiva para o afastamento do diretor da Abin, Paulo Lacerda,
determinado pelo presidente
Lula. Na avaliação do Planalto,
o laudo reforçou os argumentos apresentados por ele em defesa da corporação. A tendência
é que Lula espere o fim do inquérito da PF para decidir se
Lacerda volta ao cargo na Abin.
Jobim afirmou, por sua assessoria, que não comentaria o
resultado do laudo. À noite, ele
informou que entregará na
próxima semana as notas dos
equipamentos comprados pela
Abin por meio da comissão do
Exército em Washington.
De acordo com o documento
da PF, de 33 páginas, o Stealth
LPX Global, em poder da Abin,
pode realizar escutas ambientais. A perícia diz que, em ambientes fechados, como em gabinetes, por exemplo, ele tem
alcance de até 200 metros.
A agência não tem permissão
para fazer escutas, nem ambientais nem telefônicas. A assessoria de imprensa da instituição não quis se manifestar
sobre o laudo.
Outro detalhe importante:
modelos mais sofisticados do
Stealth LPX podem fazer interceptações de linhas digitais. O
laudo não menciona se o aparelho comprado pela Abin permite um "upgrade".
Essa informação será apurada pela CPI, que pedirá nova
perícia nos equipamentos comprados para a Abin. A comissão
vai solicitar uma análise técnica independente do CPqD
(Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), de Campinas.
Colaboraram ANDREZA MATAIS e KENNEDY
ALENCAR, da Sucursal de Brasília
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