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JANIO DE FREITAS
Honra ao demérito
Ex-prefeito bem apreciado no exercício do cargo,
Raul Pont abre o jogo: é a decepção com o governo Lula, por
parte do eleitorado, que explica
a sua dificuldade de confirmar,
agora, o favoritismo lógico e demonstrado no primeiro turno
pela Prefeitura de Porto Alegre.
Algum petista chegaria, inevitavelmente, à sinceridade de expor em público o ponto de vista
de muitos, inclusive ou sobretudo em São Paulo.
Os nove pontos de vantagem
com que Raul Pont bateu José
Fogaça, ex-PMDB e neófito do
PPS, transformam-se em 12
pontos de desvantagem. Justifica-se a estranheza de Pont com
a surpreendente (segundo Fogaça, também) rapidez de virada
tão grande, na pesquisa Ibope.
Pont observa, porém, que aparece com percentual que corresponde à sua votação no primeiro turno. Assim sendo, os números de Pont e suas observações se
confirmam e completam:
"Não dá para negar que havia
expectativa e esperança de soluções mais rápidas do governo
para os problemas do país. Isso é
o que as ruas estão dizendo." Ou
seja, a decepção com o governo
Lula reduz o eleitorado de Pont
ao petismo incondicionalmente
fiel, e lhe nega as condições, nem
se diga para colheitas invasoras,
mas para preservar o seu apoio
eleitoral passado.
Se estudados com menos superficialidade do que até agora,
os resultados eleitorais ainda
acabam levando ao reconhecimento de que Antonio Palocci
foi a grande figura nas eleições
pelo país afora. A surra levada
pelo PT no Rio -na cidade e no
Estado- a ele é devida em
grande parte: quando menos,
por ser surra, e que surra, onde
Lula obteve igualados 80% dos
votos. É provável que em pouco
se declarem muitos outros candidatos e lugares que justificam
um busto de Palocci erguido pela oposição.
Incógnita
Um argumento que petistas
têm brandido em favor de Marta Suplicy, como razão que supera todos os possíveis motivos
de restrição ou indiferença à sua
reeleição, é o fato de que teve a
maior votação nas áreas eleitorais mais pobres de São Paulo,
no primeiro turno.
O que aconteceu em tão pouco
tempo, de lá para cá, além da
natural complicação do eleitorado paulistano, talvez o menos
compreensível nas eleições passadas?
Nos desdobramentos do Datafolha de domingo, Marta não
tem mais a preferência dos eleitores mais pobres, tanto se considerados por níveis salariais como pela escolaridade, que é um
claro indicador de nível socioeconômico.
A causa da virada não deve
estar no debate mais recente,
cujos índices de audiência parcial ou integral não parecem suficientes para tamanho efeito. O
horário de propaganda, por sua
vez, estava apenas recomeçando, sem produzir reflexos. É certo que, na última semana, Marta perdeu quase todos os votos
de bancários que tivesse, mas
em número que não bastaria,
em princípio, para a inversão
constatada pela pesquisa.
Estas eleições estão ficando
mais interessantes do que prometiam. E, sobretudo, mais sutis
do que as consideraram as análises dos "cientistas políticos"
depois do primeiro turno.
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