São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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HISTÓRIA

Mulher de jornalista afirma que o reconheceu em uma das fotos

Reprodução "Correio Braziliense"
Imagem revela um preso apontado como sendo Vladimir Herzog sentado na cela


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três fotos inéditas que seriam do jornalista Vladimir Herzog, nu em uma cela sob custódia do Exército, foram divulgadas no final de semana. Apresentado como suicida pelo regime, Herzog teria sido fotografado horas antes de sua morte, em 25 de outubro.
O material esteve guardado por seis anos na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e anteontem foi divulgado pelo jornal "Correio Braziliense".
A viúva de Herzog, Clarice, reconheceu uma das fotos na semana passada. Disse que as outras duas deixavam dúvidas, mas não descartou a possibilidade de todas serem retratos do jornalista.
Também foi divulgado um documento com a "contabilidade" da carceragem. É o primeiro relatório tornado público no qual o Exército assinala a morte de 47 pessoas na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), na rua Tutóia (São Paulo). O documento deverá ser requisitado pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.
Os documentos teriam sido entregues à Câmara dos Deputados pelo ex-cabo José Alves Firmino, no final do ano de 1997. Servindo na Subseção de Operações do Comando Militar do Planalto, Firmino chegou a se infiltrar em partidos de esquerda após o fim do regime militar (1964-1985).
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Mário Heringer (PDT-MG), divulga hoje todo o conjunto de outros papéis obtidos por Firmino.
Ontem, o Centro de Comunicação Social do Exército não respondeu às perguntas feitas pela Folha. Em resposta ao "Correio", o mesmo órgão divulgou nota informando que todos os "documentos históricos" referentes ao período "foram destruídos em virtude de determinação legal".
Ao analisar as fotos, a viúva de Herzog, Clarice, reconheceu apenas uma delas, em que parte do rosto aparece. Nas outras duas, optou pela cautela. Disse que o homem parece com Herzog, mas não poderia ser conclusiva.
Em 1978, Clarice conseguiu que a Justiça responsabilizasse a União pela morte do jornalista. Pioneira na luta pela anistia no Brasil, Clarice recebeu do governo uma reparação de R$ 100 mil.
Amigo de Herzog, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) reconhece que o homem retratado nas fotos é muito parecido com o jornalista, mas não foi conclusivo: "A pessoa que aparece nas fotos parece muito com o Vlado, mas não sei dizer se é ele".
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que também conheceu Herzog, limitou-se a classificar as fotos como "terríveis".
O ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) divulgou nota repudiando a tortura. "O sacrifício de Vladimir Herzog provocou uma grande onda de repúdio à tortura no Brasil. A divulgação da hipótese de suicídio gerou uma revolta e uma comoção inéditas no país. Foi, sem dúvida, um importante marco na luta contra a tortura. Paradoxalmente, a morte brutal do jornalista representou o início do fim de cinco séculos da marcha tenebrosa da tortura no nosso país e, assim, salvou muitas vidas", diz um trecho da nota.


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