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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES
Quase metade dos 14 parlamentares sob processo tem chance de manter mandato; conselho cogita arquivar imediatamente casos sem provas
Seis deputados podem escapar da cassação
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos 6 dos 14 deputados
que sofrem processo de cassação
do mandato acusados de envolvimento com o "mensalão" têm
chances de serem inocentados pelo Conselho de Ética da Câmara,
que cogita até arquivar alguns casos imediatamente sob o argumento de ausência de provas.
Sob pressão de vários dos acusados, o conselho sorteou ontem
11 deputados para relatar os novos processos. Escolhido para dar
parecer em relação ao caso de Pedro Henry (PP-MT), o deputado
Orlando Fantazzini (PSOL-SP)
admite propor o arquivamento já
no início se não constatar provas.
"Isso [arquivamento imediato]
vale para qualquer caso. Se não há
provas, não há por que levar o
processo adiante, apenas por levar. Há que ter o mínimo de provas para que se possa levar adiante a investigação", diz Fantazzini.
Além de Henry, os deputados
que podem escapar da cassação
segundo a avaliação reservada de
membros do conselho e dos líderes partidários são: Sandro Mabel
(PL-GO), Romeu Queiroz (PTB-MG), Professor Luizinho (PT-SP), Vadão Gomes (PP-SP) e
Wanderval Santos (PL-SP).
Parte dos integrantes do conselho adota a tese de que não há
provas de que esses deputados tenham sido beneficiados pelo dinheiro arrecadado por meio do
esquema montado pelo PT em
parceria com o publicitário Marcos Valério de Souza.
Henry é o exemplo mais citado.
Apesar de ter sido líder da bancada do PP durante a época em que
o partido teria se beneficiado do
suposto "mensalão", contra ele
por enquanto só pesa a palavra do
ex-deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ), que o aponta como um
dos integrantes do esquema.
O pepista foi pessoalmente ao
conselho assinar a notificação.
Disse que quer ver seu caso julgado logo e que não solicitará que
sejam ouvidas testemunhas de
defesa. "O importante para mim é
fazer isso logo. Testemunha para
rebater prova que não existe? Para
quê?", argumentou antes de se
reunir com Fantazzini para acertar a data de apresentação de sua
defesa, que deve acontecer hoje.
Sobre Vadão, que teria recebido
R$ 3,7 milhões, o argumento é
que não há provas do repasse.
Contra Mabel, há a palavra de Jefferson, de que ele teria participado do "mensalão", e da deputada
licenciada Raquel Teixeira
(PSDB-GO), que teria recebido
proposta em dinheiro de Mabel
para trocar o PSDB pelo PL.
Queiroz teria intermediado um
repasse dos recursos de Valério a
pedido do PTB. Luizinho e Wanderval afirmam que não tiveram
responsabilidade nem conhecimento da ação de seus funcionários, que teriam recebido recursos
de Valério a pedido dos partidos.
O arquivamento de parte dos
processos que pode estar sendo
montado já causou reação. Um
grupo de integrantes do conselho
-que é formado por 15 deputados- já busca apoio para o caso
de ter de derrubar no voto algum
parecer pela absolvição que considerem suspeito. "Todos os deputados que renunciaram sabem
do rigor com que os processos são
tratados no conselho. Por isso renunciaram", disse o presidente
do órgão, Ricardo Izar (PTB-SP).
Ele disse que quer acelerar todos os processos (o prazo limite é
de 90 dias) para finalizá-los até 20
de dezembro. Caso isso não ocorra, o deputado afirmou ter o compromisso do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), de
que a Casa será convocada extraordinariamente em janeiro,
sem o pagamento de salário extra.
Relatório parcial das CPIs do
Correio e do Mensalão apontou
19 deputados como suspeitos de
envolvimento com o escândalo.
Quatro renunciaram antes da
abertura dos processos -Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos
Rodrigues (PL-RJ), José Borba
(PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA)- para escapar à inelegibilidade até 2015 que uma possível
cassação acarretaria. Jefferson
(PTB-RJ), autor das denúncias,
foi o único cassado até agora.
Relatores
Na sessão do conselho realizada
ontem, sete relatores de partidos
de oposição foram escolhidos por
sorteio para analisar acusações
contra governistas. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), por exemplo, terá
como relator de seu processo o
deputado Cezar Schimer (PMDB-RS), antipetista ferrenho.
"O deputado Schimer é uma
pessoa muito séria e tenho certeza
de que ele vai apreciar o caso com
os olhos da Justiça", afirmou João
Paulo, que teria recebido R$ 50
mil das contas de Valério.
A única petista a relatar um processo é Ângela Guadagnin (SP),
que tem se destacado no conselho
pela defesa que faz de José Dirceu
(PT-SP), cujo parecer pela cassação foi lido ontem. Ela analisará o
caso do líder da bancada do PP,
José Janene (PP-PR), acusado de
receber R$ 4,1 milhão de Valério.
Professor Luizinho foi um dos
poucos que terão um relator de
partido aliado -Pedro Canedo
(PP-GO). "Vou esmiuçar todo o
caso. Não tem inocência nem culpa a priori", disse Canedo.
Desafetos
O ponto de partida dos processos de cassação contra a maioria
dos acusados de envolvimento no
"mensalão" foi marcado por
pressões e divergências entre os
integrantes do conselho. Foi forte
a tensão para que desafetos de alguns dos acusados não fossem incluídos no sorteio que definiu os
relatores de 11 dos 14 processos.
Pedro Corrêa (PP-PE), o único
dos acusados a ir à sessão, teria sido um dos que pressionaram para
que desafetos não fossem escolhidos para analisar seu processo, segundo integrantes do conselho.
No final, elogiou o escolhido, Carlos Sampaio (PSDB-SP).
A relação relator-acusado foi
debatida na sessão. Chico Alencar
(PSOL-RJ), que relatará o caso de
Wanderval Santos (PL-SP), defendeu relação "institucional"
apenas no conselho. Outra discussão se deu porque a Mesa da
Câmara não incluiu nas representações os artigos da Constituição e
do Código de Ética que tratam de
"recebimento de vantagem indevida", a principal acusação contra
os deputados. Os tucanos exigem
a inclusão, decisão que deve ser
tomada hoje pelo conselho.
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