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Bicheiro dá garantia contra apostas altas
RAPHAEL GOMIDE
SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O bicheiro octogenário
Antônio Petrus Kalil, o Turcão, é uma espécie de "Banco
Central" e "companhia de seguros" do jogo do bicho no
Rio. Ele é o responsável pela
"descarga", operação de garantia de pagamento de um
prêmio em casos de apostas
vultosas.
Um dos 14 bicheiros condenados pela então juíza Denise Frossard, em 1993, Turcão cumpriu pena com o irmão Zinho, e foi acusado de
ter doado US$ 96 mil em
1991 para a campanha do vice-governador eleito do Rio,
Nilo Batista (PDT). Doou
também, por intermédio da
mulher, Therezinha, dinheiro para pagar débito de US$
70 mil da Associação Brasileira Interdisclipinar da
Aids, do sociólogo Herbert
Daniel de Souza, o Betinho.
Com um marcapasso implantado no peito, Turcão
hoje atua também como empresário em Niterói. Lá mantém o Grupo Tio Sam, rede
de empreendimentos que inclui hotel, restaurante de luxo e o clube Tio Sam, que já
teve uma equipe de futsal.
"Dono" de uma área extensa do bicho -Niterói, São
Gonçalo e parte do Rio (Leopoldina, Bonsucesso, Ilha do
Governador, entre outros
bairros)-, Turcão atualmente arrenda parte do seu território a outros bicheiros e
atua principalmente na chamada "descarga".
Parte dos negócios de Turcão é administrada pelos filhos. Oficialmente, o escritório do filho Antonio desenvolve trabalhos relacionados
ao mercado de capitais. O
imóvel ocupa um andar de
prédio comercial modesto e
antigo em região desvalorizada do centro do Rio.
Turcão é conhecido por
manter trabalhos sociais em
comunidades carentes, administrados pela mulher,
Therezinha. O principal deles é uma creche instalada no
largo do Barradas, uma das
áreas mais pobres de Niterói.
Banco
A "descarga" é a garantia
para apostas superiores a um
limite predeterminado em
cada ponto de jogo, o que varia de acordo com a área.
Para evitar um "derrame"
- prejuízo à banca-, o gerente local ou o banqueiro
(dono) da região contacta o
responsável pela descarga e
faz com ele um tipo de apólice de seguro. Se o apostador
acertar o palpite, quem paga
o prêmio é a descarga, cujo
principal representante no
Rio é Turcão. Se errar, ele ganha um percentual da aposta
pelo risco assumido. Segundo uma pessoa ligada ao jogo
do bicho, pode ser considerado o banco da contravenção.
A descarga paga as apostas
vencedoras de bancas menores, principalmente naquelas mais volumosas no "milhar" -modalidade em que o
cliente tem de acertar quatro
números, matematicamente
mais difícil e que por isso
possibilita ganhos mais altos.
No passado, bicheiros famosos do Rio, como Castor
de Andrade, patrono da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, e Miro, da Acadêmicos
do Salgueiro, exerceram esse
papel de "seguradores".
No jogo do bicho, escolhem-se números atribuídos
a 25 animais -cada um corresponde a uma seqüência
de quatro números, um grupo. Ao apostar, pode-se optar
por dezena, centena, milhar
ou grupo. Acertar o milhar é
o mais difícil. Paga-se R$
4.000 por cada real apostado
no milhar; a centena paga R$
600 por real; a dezena paga
R$ 60, e o grupo, R$ 18.
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