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JANIO DE FREITAS
Entre um e outro
Segundo turno é, para o eleitorado que impediu a decisão na 1ª rodada, a opção entre dois insatisfatórios
O CRESCIMENTO A jato da vantagem de Lula sobre Alckmin
-de 11 pontos para 19 pontos
percentuais entre os dias 10 e 16/17
de outubro, ou mais de um ponto
percentual a cada dia, em média-
levou a duas precipitações. No candidato-presidente e em seu círculo,
encobriu a percepção importante de
que o avanço não exprime aprovação a Lula. Na oposição e nos meios
de comunicação, generalizou uma
explicação tão rápida e fácil quanto
precária, para a maior subida de Lula e a continuada queda de Alckmin.
O sistema de segundo turno parte
de uma intenção equivocada, qual
seja a evitar que a Presidência caiba
a quem não expressa os desejos da
maioria do eleitorado. Mas segundo
turno é, para o contingente do eleitorado que impediu a decisão na primeira rodada, a opção entre dois insatisfatórios. Ou, se de todo inaceitáveis, o não-voto. O eleito em segundo turno, portanto, chega à Presidência sem ser a expressão política
da maioria. É produzido por um artifício aritmético.
Dos 57% de seu índice atual, ou de
quanto venha a ter no final, Lula tem
a preferência real de 48%, a minoria
que com ele se identificou entre todos os candidatos, mas, significativa
embora, insuficiente para consagrá-lo em definitivo. O que exceda os
48% é adesão circunstancial, o ato
político que aceita voltar-se para um
lado como forma de repelir terminantemente o outro. Se o voto nulo,
em certas (raras) situações, é o voto
portador de maior consciência política, o voto circunstancial, com muito mais freqüência, não o é menos.
Se não para eles, para o país seria
proveitoso que Lula e seu círculo
guardassem a percepção importante de que não é real, em termos políticos e administrativos, o apoio que
lhes dê a presumida vitória. Afora
um certo fanatismo, em seus diferentes graus, o que sobrou do empolgado apoio de 2002 não é maioria
e, pior, é instável. Tanto que despencava depressa, salvo pela proximidade da primeira votação, ao surgir
uma história de dossiê que nem se
sabia direito o que era, àquela altura.
O sentido próprio dos segundos
turnos, de solicitação às opções circunstanciais, não pode ser ignorado
na explicação do que se passa entre
Lula e Alckmin, ou entre quaisquer
outras disputas do gênero. É claro
que a atribuição de intenções privatistas feita a Alckmin, por Lula e sua
campanha, sensibilizou muitos eleitores. Mas não foi o motivo da adesão, que está fazendo a diferença
maior, de eleitores de Heloísa Helena a Lula. Nem dos eleitores de esquerda de Cristovam Buarque e do
PDT brizolista. Com ou sem acusações de privatismo, em quem votariam tais eleitores senão em Lula,
sendo eles parte do segmento de
mais firme consciência política no
eleitorado?
Nem o alegado privatismo provocou a união da esquerda, da qual teria vindo a recente onda de apoio a
Lula. O antigo PCB, o "partidão", por
certo é contra a privatização da Petrobras, mas continua firme na sua
velha gana anti-Lula e anti-PT, e por
isso aderido a Alckmin, ao PSDB e ao
PFL. Ao que mais seja ainda chamado de esquerda só resta invalidar o
voto ou engrossar o índice de Lula.
As atuais indicações de invalidação
sugerem preferência por Lula. Ou
melhor, contra Alckmin. As subidas
de Requião no Paraná, Cabral no
Rio, e outras, mostram que o voto
circunstancial percebe a chegada da
hora de declarar-se -e declara-se.
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