São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Entre um e outro

Segundo turno é, para o eleitorado que impediu a decisão na 1ª rodada, a opção entre dois insatisfatórios

O CRESCIMENTO A jato da vantagem de Lula sobre Alckmin -de 11 pontos para 19 pontos percentuais entre os dias 10 e 16/17 de outubro, ou mais de um ponto percentual a cada dia, em média- levou a duas precipitações. No candidato-presidente e em seu círculo, encobriu a percepção importante de que o avanço não exprime aprovação a Lula. Na oposição e nos meios de comunicação, generalizou uma explicação tão rápida e fácil quanto precária, para a maior subida de Lula e a continuada queda de Alckmin.
O sistema de segundo turno parte de uma intenção equivocada, qual seja a evitar que a Presidência caiba a quem não expressa os desejos da maioria do eleitorado. Mas segundo turno é, para o contingente do eleitorado que impediu a decisão na primeira rodada, a opção entre dois insatisfatórios. Ou, se de todo inaceitáveis, o não-voto. O eleito em segundo turno, portanto, chega à Presidência sem ser a expressão política da maioria. É produzido por um artifício aritmético.
Dos 57% de seu índice atual, ou de quanto venha a ter no final, Lula tem a preferência real de 48%, a minoria que com ele se identificou entre todos os candidatos, mas, significativa embora, insuficiente para consagrá-lo em definitivo. O que exceda os 48% é adesão circunstancial, o ato político que aceita voltar-se para um lado como forma de repelir terminantemente o outro. Se o voto nulo, em certas (raras) situações, é o voto portador de maior consciência política, o voto circunstancial, com muito mais freqüência, não o é menos.
Se não para eles, para o país seria proveitoso que Lula e seu círculo guardassem a percepção importante de que não é real, em termos políticos e administrativos, o apoio que lhes dê a presumida vitória. Afora um certo fanatismo, em seus diferentes graus, o que sobrou do empolgado apoio de 2002 não é maioria e, pior, é instável. Tanto que despencava depressa, salvo pela proximidade da primeira votação, ao surgir uma história de dossiê que nem se sabia direito o que era, àquela altura.
O sentido próprio dos segundos turnos, de solicitação às opções circunstanciais, não pode ser ignorado na explicação do que se passa entre Lula e Alckmin, ou entre quaisquer outras disputas do gênero. É claro que a atribuição de intenções privatistas feita a Alckmin, por Lula e sua campanha, sensibilizou muitos eleitores. Mas não foi o motivo da adesão, que está fazendo a diferença maior, de eleitores de Heloísa Helena a Lula. Nem dos eleitores de esquerda de Cristovam Buarque e do PDT brizolista. Com ou sem acusações de privatismo, em quem votariam tais eleitores senão em Lula, sendo eles parte do segmento de mais firme consciência política no eleitorado?
Nem o alegado privatismo provocou a união da esquerda, da qual teria vindo a recente onda de apoio a Lula. O antigo PCB, o "partidão", por certo é contra a privatização da Petrobras, mas continua firme na sua velha gana anti-Lula e anti-PT, e por isso aderido a Alckmin, ao PSDB e ao PFL. Ao que mais seja ainda chamado de esquerda só resta invalidar o voto ou engrossar o índice de Lula. As atuais indicações de invalidação sugerem preferência por Lula. Ou melhor, contra Alckmin. As subidas de Requião no Paraná, Cabral no Rio, e outras, mostram que o voto circunstancial percebe a chegada da hora de declarar-se -e declara-se.


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