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ELEIÇÕES 2006 / SABATINA FOLHA
Lula elogia Serra e Aécio e faz críticas a Alckmin
Petista diz que relacionamento com os dois governadores eleitos é muito bom
PERGUNTA DO LEITOR -
Tenho 61 anos, sou pai
de quatro filhos adultos, todos com curso
superior, mas com dificuldades de
bons empregos ou de empreender.
Como é que o seu filho conseguiu virar empresário, sócio da Telemar,
com capital vultoso de R$ 5 milhões?
LULA - Primeiro, o meu filho se
associou a companheiros que já
tinham produtora há muito
tempo. Aqueles meninos já tinham produtora há mais de dez
anos em Campinas. Eles fizeram um negócio que deu certo.
Deu tão certo que até muita
gente ficou com inveja.
Tentaram investigar, ver se
tinha coisa ilegal, incluir na
CPI, fizeram um monte de coisas. Para a minha surpresa,
quem saiu na defesa do meu filho foram aqueles que eu pensava que eram meus inimigos,
como o Di Genio [João Carlos
Di Genio, proprietário da Mix
TV e de rede de ensino], por
exemplo, mostrando não só a
qualidade dos produtos que
eles fazem como o nicho de
mercado que eles ocupam.
E se alguém souber de alguma coisa que meu filho tenha
cometido de errado, é simples:
o meu filho está subordinado à
mesma Constituição a que eu
estou. Porque deve haver um
milhão de pais reclamando. Por
que meu filho não é o Ronaldinho? Porque não pode todo
mundo ser o Ronaldinho.
FOLHA - Mas não é mais fácil ser o
Ronaldinho quando você é filho do
presidente, tem as portas abertas?
LULA - Não é mais fácil, pelo
contrário, é muito mais difícil.
E eu tenho orgulho porque o fato de ser presidente da República não mudou um milímetro
o hábito dos meus filhos.
FOLHA - O sr. entende que os mensaleiros, por terem sido reeleitos, foram anistiados pela população? É
necessária a renovação do PT? Na
Itália, a Operação Mãos Limpas implodiu o sistema partidário.
LULA - Aqui vai ter que implodir. Aqui nós vamos ter que fazer um novo sistema partidário, pelo bem da democracia.
Tem gente que vende a idéia de
que o financiamento público é
ruim. É melhor, porque é a forma mais honesta de fazer uma
campanha política. E tornar
crime inafiançável a contribuição financeira de empresários.
O povo votou em quem votou
porque acreditou que a pessoa
era inocente. Eu espero que essas pessoas, tendo recebido do
povo brasileiro uma espécie de
"habeas corpus", façam jus a isso e tenham um comportamento irretocável daqui pra frente.
FOLHA - Se o sr. for reeleito, o que
vai acontecer com o PT, se depender
do sr.?
LULA - Faz tempo que eu deixei
de ser presidente do PT, faz 13
anos. Mas eu acho que o partido
precisa passar por uma reciclagem. Eu espero que, ao terminarem as eleições, a direção
convoque um encontro extraordinário, chame os nossos
governadores eleitos, os deputados eleitos, que chame os movimentos sindicais e sociais
participantes e rediscutam
qual será o papel do partido,
qual será a direção, porque não
pode continuar como está. O
PT cresceu demais.
FOLHA - O sr. acha que a turma de
São Paulo atrapalha, como disse o
governador eleito Marcelo Déda?
LULA - Nós temos um hábito,
que não é só do PT, mas também do PSDB. Os dois padecem
da mesma deficiência, do núcleo de São Paulo determinar a
política nacional. O PT tem que
botar na cabeça que virou um
partido nacional. A direção tem
que representar a massa de heterogeneidade que tem no país.
E colocar gente nova.
FOLHA - Essa "despaulistização"
do PT e do PSDB tornaria mais fácil
um entendimento entre eles?
LULA - Eu tenho uma relação
com o Serra infinitamente melhor do que com o Alckmin. Eu
tenho uma relação com o Aécio
que eu considero extraordinária, como amigo, como político,
sabendo que estamos em partidos diferentes. É como se ele tivesse ido a um baile num lugar
e eu a um baile em outro. Agora,
nós gostamos de dançar e temos muitas afinidades.
FOLHA - E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
LULA - A minha relação com o
Fernando Henrique sempre foi
muito boa, mas ficou truncada.
Eu acho que ele falou demais
como ex-presidente. Eu fui conhecê-lo quando ele era um jovem voltando para o Brasil com
a ambição de ser candidato a
senador. E eu tomei a iniciativa
de procurá-lo para fazer a campanha dele no ABC.
FOLHA - Entre os seus aliados, o sr.
tem figuras polêmicas como Jader
Barbalho (PMDB-PA), Renan Calheiros (PMDB-AL), Geddel Vieira Lima
(PMDB-BA). Não incomoda ter o
PMDB como um parceiro preferencial no início do segundo mandato?
LULA - Você pode gostar ou
não. As forças políticas que
existem no Brasil são essas.
Não existem outras. Tem o
PMDB, PFL, PSDB, PDT, PT,
PC do B, PP, PL, PTB. Foi isso
que se conseguiu criar depois
que houve a abertura política.
Você trabalha com o que existe
no Congresso.
FOLHA - Como está esse diálogo
com o PSDB?
LULA - Eu disse e vou repetir
pra vocês que eu tenho uma
boa relação com o governador
José Serra, que não é de hoje.
Eu tenho uma boa relação com
o Aécio. É uma relação política,
de pensamentos próximos,
com divergências em nuanças
que podem ser consertadas.
O Serra é uma figura mais
cosmopolita do que o Alckmin,
tem uma dimensão nacional
maior. É um político mais experimentado. O Aécio é um político muito esperto, se dá bem
com todos os nossos governadores eleitos.
Então nós vamos ter um outro clima mais favorável para
conversar neste país. E com um
agravante: quem está preocupado com 2010 são eles, não eu.
Eu vou estar mais tranqüilo.
FOLHA - É possível que o sr. esteja
num eventual palanque do Serra ou
do Aécio em 2010?
LULA - Não. Primeiro porque
eu acho muito cedo qualquer
cidadão brasileiro ficar vislumbrando uma candidatura para
2010. Tem muita água para
passar debaixo da ponte.
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