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ELEIÇÕES 2006 / SABATINA FOLHA
Presidente descarta reduzir número de ministérios
"Não há por que diminuir", afirma candidato, em resposta a críticas de seu adversário sobre o tamanho da máquina pública
FOLHA - O sr. disse naquele encontro com artistas na casa do Gilberto
Gil: eu agora sei quem trabalha e
quem não trabalha no governo, já
sei tudo que eu vou fazer no segundo mandato. Eu queria saber se o sr.
pretende fazer uma reforma administrativa, diminuir os ministérios?
LULA - Vocês cometem um
equívoco ao tratar, do ponto de
vista das despesas do Estado, a
Secretaria da Igualdade Racial,
a Secretaria da Mulher, a Secretaria da Pesca, a Secretaria dos
Direitos Humanos... São secretarias a que dei o status de ministério porque eram uma reivindicação da sociedade organizada. Essas secretarias são
secretarias simbólicas. A secretaria da Desigualdade Racial
tem um Orçamento de R$ 18
milhões. Sabe, eu vou manter
essas secretarias, não há por
que diminuir.
PERGUNTA DO LEITOR -
Se eleito, o sr. manterá
a quantidade de ministérios e quais são os nomes cogitados?
LULA - Se eu for o ganhador, eu
vou começar a pensar imediatamente na montagem do novo
governo. Obviamente que alguns companheiros irão continuar. Outros eu já sei que eles
próprios não querem continuar. Então, vamos fazer as
mudanças. Mas agora com
muito mais experiência.
FOLHA - O sr. já disse que vai manter o Henrique Meirelles no Banco
Central.
LULA - Você perguntou se eu ia
tirar, eu disse que não ia. Mas
me permita ganhar as eleições
para tomar essas decisões.
FOLHA - E o Guido Mantega?
LULA - Ninguém é "imexível" e
ninguém é "mexível" até eu ganhar as eleições. Nós vamos começar uma nova etapa da vida.
E eu não posso falar quem vai
ficar e quem vai sair.
FOLHA - O sr. admite a possibilidade de desvincular o salário mínimo
da Previdência?
LULA - Não. Nós já tentamos isso desde a Constituinte de 1988
e não conseguimos. Isso não
passa no Congresso. Nós vamos
fazer como nós estamos fazendo agora. Sempre que permitir,
aumentaremos um pouco mais
o salário mínimo e vai aumentar o salário dos aposentados.
Não existe possibilidade de
alguém dizer como eu vi outro
dia nos jornais: vou cortar R$
60 bilhões. Não existe de onde
cortar. Ou este país volta a crescer, e volta a crescer 5 ou 6%, e é
esse o nosso compromisso, seja
com capital nacional, seja com
capital estrangeiro.
FOLHA - O ministro Paulo Bernardo
falou na possibilidade de aumentar
a Desvinculação das Receitas da
União. O sr. confirma?
LULA - Eu acho que o ministro
tem o direito de falar o que bem
entender. E chega o momento
que tem uma decisão de governo. O Paulo Bernardo, a partir
das eleições, que traga as propostas para discutir na minha
mesa. E nós vamos ouvir vários
ministros e tomar uma decisão.
O que eu acho é que nós não
temos saída no Brasil. Alguém
ficar tentando tirar R$ 1 bilhão
daqui, R$ 1 bilhão dali, não conserta esse país. O que vai consertar agora é o crescimento. E
as bases estão colocadas. O Brasil está preparado para um ciclo
de crescimento duradouro.
FOLHA - Presidente, o sr. anunciou
em maio de 2003 o espetáculo do
crescimento. Seu amigo Marco Aurélio Garcia me recomendou que
comprasse ingresso para o espetáculo e agora em 2006 eu sou obrigado a devolver, porque não aconteceu o espetáculo. Após três anos.
LULA - Você está sendo injusto
comigo, porque em maio de
2003 você achava que o Brasil
ia quebrar. Você achava que o
paciente estava na UTI, que
não tinha cura, e o paciente hoje está transitando livremente.
Sabe por quê? Porque nós demos solidez às bases da economia brasileira.
Nunca este país teve tantos
fatores combinando, eu tenho
desafiado economistas brasileiros a me dizerem em qual
momento da história republicana o Brasil teve tantos fatores
combinando entre si, de um lado as coisas crescendo e do outro lado as coisas baixando.
Nós provamos que é possível
aumentar as exportações com
expansão do mercado interno.
Provamos que é possível crescer com a inflação controlada.
Provamos que é possível crescer com uma forte política social, de microcrédito, de crédito
consignado, que são bilhões
que entraram no mercado.
Por isso que eu posso olhar
para vocês e dizer: a economia
vai crescer e vai crescer de forma substancial.
FOLHA - Presidente, o sr. concorda
com o consenso que existe entre
economistas de que para crescer
precisa haver muito investimento?
LULA - Concordo.
FOLHA - No Orçamento, o investimento público previsto para o próximo ano é de R$ 16 bi, um pouco parecido com a execução de outros
anos. De onde o sr. vai arrumar o dinheiro para investimentos?
LULA - Você tem razão. Agora, é
importante a gente fazer uma
retrospectiva histórica. O último presidente da República a
fazer investimento maciço em
infra-estrutura foi o Ernesto
Geisel. E ele fez alertado pelo
Mário Henrique Simonsen de
que não deveria fazer tudo
aquilo porque o país ia quebrar.
E de lá para cá o país nunca
mais teve capacidade de investir. Eu queria que vocês, ao julgarem meu governo, analisassem o que houve de lá para cá.
Só a Petrobras já decidiu fazer investimentos da ordem de
R$ 87 bilhões até 2011. Só o pólo
petroquímico do Rio de Janeiro
vai precisar de um investimento de R$ 14 bilhões. Só a refinaria em Pernambuco, são mais
R$ 2,7 bilhões. A Transnordestina, mais R$ 4 bilhões.
O que não falta é projeto para
investimentos corretos.
FOLHA - E o dinheiro?
LULA - O dinheiro virá da iniciativa privada, virá de financiamento do BNDES, de parceria com empresas internacionais. Vai melhorar porque os
projetos estão prontos. Acho
que essa coisa vai acontecer
com dinheiro privado. Vai
acontecer, e muito.
PERGUNTA DO LEITOR -
Como explicar que os
banqueiros tiveram em
seu governo o dobro do
lucro que tiveram nos oito anos do
governo anterior?
LULA - É verdade que os bancos
ganharam dinheiro, mas é verdade também que vocês tiveram que escrever que, pela primeira vez, depois de 23 anos, as
empresas ganharam mais que
os bancos. É um dado altamente positivo. Em segundo lugar,
quando os bancos ganham dinheiro, eles dão menos prejuízo à nação do que quando perdem. Porque quando perdem a
gente tem que criar um Proer.
E quando há um Proer a gente está desgraçado. Os bancos
têm que ganhar dinheiro. E
também fazia muitos anos que
os trabalhadores não ganhavam o que estão ganhando. Fazia muitos anos que a gente não
conseguia fazer acordo acima
da inflação. A sociedade melhorou de vida. Está comendo
mais. Tendo mais perspectivas.
Escute a íntegra da sabatina da Folha com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
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