São Paulo, Sexta-feira, 19 de Novembro de 1999
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MISTÉRIO EM AL

Polícia conclui que disputa por poder e fortuna levou a uma trama que matou o ex-tesoureiro de Collor

Augusto Farias e mais 8 são indiciados
Ailton de Freitas/O Globo
Augusto Farias (dir.) , acusado de co-autoria na morte de PC Farias


ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió

A disputa pelo poder e pela fortuna de Paulo César Farias levou a uma trama que matou o ex-tesoureiro de Fernando Collor e sua namorada, Suzana Marcolino, na madrugada de 23 de junho de 1996.
Essa foi a conclusão apresentada ontem em Maceió pelo secretário da Segurança de Alagoas, Edmilson Miranda, e pelos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade.
Conforme a Folha antecipou, o deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC, foi indiciado como co-autor das duas mortes. Além dele, oito ex-funcionários de PC foram indiciados (veja quadro nesta página).
Os nove suspeitos foram indiciados sob acusação de duplo homicídio qualificado e formação de quadrilha. A pena máxima para os crimes é de 65 anos.
Para a polícia de Alagoas, todos contribuíram de forma mais ou menos decisiva para o assassinato de PC e Suzana. Alguns dizem ter passado a madrugada na casa onde houve as mortes. Outros teriam chegado de manhã.
O inquérito original de 1996 sustentou que Suzana matou PC e se suicidou em seguida, num crime passional. A tese até hoje é defendida pela família Farias. As investigações foram reabertas após a publicação, no dia 24 de março, de reportagens da Folha.
"Está completamente afastada a hipótese de crime passional", escreveram os delegados Lessa e Andrade no relatório de 37 páginas, de um total de 3.603 páginas (15 volumes) do inquérito.
"PC Farias era sem dúvida nenhuma detentor de uma fortuna inestimável, construída em sua grande parte à margem da lei", afirma o relatório, segundo o qual a disputa por poder e fortuna motivou um plano para matar PC, com a participação do seu irmão.
Foram listados 26 indícios para responsabilizar Augusto e os ex-funcionários de PC, a maioria até hoje trabalhando para o irmão do ex-tesoureiro de Collor.
Entre os indícios coletivos, o inquérito cita: Suzana comprovadamente não atirou; sua altura real (de 1,53 m a 1,57 m) não a "encaixa" na trajetória da bala que a atingiu; os funcionários que estavam na casa onde ocorreram as mortes "mentiram" ao dizer que não ouviram os tiros; é falsa a versão de que os funcionários entraram pela janela no quarto onde os corpos foram encontrados.
A vinculação do irmão de PC Farias com o crime é justificada por vários argumentos, na opinião dos delegados:
1) O deputado defendeu "exacerbadamente" os ex-seguranças suspeitos.
2) Pagou a defesa dos ex-funcionários de PC, mesmo depois de quatro indiciamentos.
3) Atacou autoridades que conduziram a nova investigação, "a- trapalhando-a e tumultuando-a".
4) Usou o jornal "Tribuna de Alagoas", propriedade da família, para defender a versão de crime passional.
5) Tentou subornar os delegados para não ser indiciado.
6) Proibiu parentes de Suzana de entrar na casa onde as mortes ocorreram.
7) Discutia com PC por questões financeiras.
Os delegados não apresentaram quem fez os disparos, mas disseram que pode ter sido o próprio irmão de PC: "Cabe a quem teve participação menor revelar quem atirou, para não pegar uma pena maior", disse Andrade.
O promotor Luiz Vasconcelos disse à Folha que denunciará os ex-funcionários de PC. Para o juiz Alberto Jorge Correia, é possível ocorrer o julgamento até março.
A denúncia ou não de Augusto Farias é responsabilidade da Procuradoria Geral da República.
Por ser deputado, ele tem fórum privilegiado para um eventual julgamento, o STF (Supremo Tribunal Federal), se a Câmara autorizar o processo.
Os delegados reafirmaram considerar "estranho" o laudo do legista Fortunato Badan Palhares, que fundamentou o inquérito de 1996. "Há financiamento de laudos", disse Andrade.
Irmã mais nova de Elma Farias, mulher de PC morta em 1994, Élia Farias disse que a sobrinha Ingrid, 20, filha mais velha do ex-tesoureiro de Collor, está deprimida: "Ela dorme o dia todo. Não é fácil perder a mãe, o pai e depois descobrir que o tutor (o tio Augusto) pode ter sido o assassino do pai".
Paulinho Farias, filho mais novo de PC e afilhado de Augusto, completa hoje 18 anos.


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