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MISTÉRIO EM AL
Polícia conclui que disputa por poder e fortuna levou a uma trama que matou o ex-tesoureiro de Collor
Augusto Farias e mais 8 são indiciados
Ailton de Freitas/O Globo
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Augusto Farias (dir.) , acusado de co-autoria na morte de PC Farias |
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
A disputa pelo
poder e pela fortuna de Paulo César
Farias levou a uma
trama que matou o
ex-tesoureiro de
Fernando Collor e sua namorada,
Suzana Marcolino, na madrugada
de 23 de junho de 1996.
Essa foi a conclusão apresentada ontem em Maceió pelo secretário da Segurança de Alagoas, Edmilson Miranda, e pelos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade.
Conforme a Folha antecipou, o
deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC, foi indiciado
como co-autor das duas mortes.
Além dele, oito ex-funcionários
de PC foram indiciados (veja quadro nesta página).
Os nove suspeitos foram indiciados sob acusação de duplo homicídio qualificado e formação de
quadrilha. A pena máxima para
os crimes é de 65 anos.
Para a polícia de Alagoas, todos
contribuíram de forma mais ou
menos decisiva para o assassinato
de PC e Suzana. Alguns dizem ter
passado a madrugada na casa onde houve as mortes. Outros teriam chegado de manhã.
O inquérito original de 1996 sustentou que Suzana matou PC e se
suicidou em seguida, num crime
passional. A tese até hoje é defendida pela família Farias. As investigações foram reabertas após a
publicação, no dia 24 de março,
de reportagens da Folha.
"Está completamente afastada a
hipótese de crime passional", escreveram os delegados Lessa e
Andrade no relatório de 37 páginas, de um total de 3.603 páginas
(15 volumes) do inquérito.
"PC Farias era sem dúvida nenhuma detentor de uma fortuna
inestimável, construída em sua
grande parte à margem da lei",
afirma o relatório, segundo o qual
a disputa por poder e fortuna motivou um plano para matar PC,
com a participação do seu irmão.
Foram listados 26 indícios para
responsabilizar Augusto e os ex-funcionários de PC, a maioria até
hoje trabalhando para o irmão do
ex-tesoureiro de Collor.
Entre os indícios coletivos, o inquérito cita: Suzana comprovadamente não atirou; sua altura real
(de 1,53 m a 1,57 m) não a "encaixa" na trajetória da bala que a
atingiu; os funcionários que estavam na casa onde ocorreram as
mortes "mentiram" ao dizer que
não ouviram os tiros; é falsa a versão de que os funcionários entraram pela janela no quarto onde os
corpos foram encontrados.
A vinculação do irmão de PC
Farias com o crime é justificada
por vários argumentos, na opinião dos delegados:
1) O deputado defendeu "exacerbadamente" os ex-seguranças
suspeitos.
2) Pagou a defesa dos ex-funcionários de PC, mesmo depois de
quatro indiciamentos.
3) Atacou autoridades que conduziram a nova investigação, "a-
trapalhando-a e tumultuando-a".
4) Usou o jornal "Tribuna de
Alagoas", propriedade da família,
para defender a versão de crime
passional.
5) Tentou subornar os delegados para não ser indiciado.
6) Proibiu parentes de Suzana
de entrar na casa onde as mortes
ocorreram.
7) Discutia com PC por questões financeiras.
Os delegados não apresentaram
quem fez os disparos, mas disseram que pode ter sido o próprio
irmão de PC: "Cabe a quem teve
participação menor revelar quem
atirou, para não pegar uma pena
maior", disse Andrade.
O promotor Luiz Vasconcelos
disse à Folha que denunciará os
ex-funcionários de PC. Para o juiz
Alberto Jorge Correia, é possível
ocorrer o julgamento até março.
A denúncia ou não de Augusto
Farias é responsabilidade da Procuradoria Geral da República.
Por ser deputado, ele tem fórum
privilegiado para um eventual julgamento, o STF (Supremo Tribunal Federal), se a Câmara autorizar o processo.
Os delegados reafirmaram considerar "estranho" o laudo do legista Fortunato Badan Palhares,
que fundamentou o inquérito de
1996. "Há financiamento de laudos", disse Andrade.
Irmã mais nova de Elma Farias,
mulher de PC morta em 1994, Élia
Farias disse que a sobrinha Ingrid,
20, filha mais velha do ex-tesoureiro de Collor, está deprimida:
"Ela dorme o dia todo. Não é fácil
perder a mãe, o pai e depois descobrir que o tutor (o tio Augusto)
pode ter sido o assassino do pai".
Paulinho Farias, filho mais novo
de PC e afilhado de Augusto,
completa hoje 18 anos.
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