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ANÁLISE
Saída política procura esconder fracasso da reforma
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A tese da reforma tributária em
três etapas foi a maneira politicamente correta encontrada pelo
governo para apresentar algo
bem mais incômodo: não haverá
reforma tributária neste ano e nada garante que vá haver uma durante o mandato de Luiz Inácio
Lula da Silva.
O que está sendo chamado de
primeira etapa da reforma -a ser
concluída até dezembro- são
medidas que nem sequer eram citadas nas exposições do início
deste ano sobre as mudanças a serem feitas no sistema tributário
brasileiro.
Afinal, prorrogar a CPMF, a
DRU e o fundo de compensação
aos Estados pelo fim do ICMS nas
exportações nada mais é do que
manter regras, todas de caráter
provisório e consideradas males
necessários, em vigor desde o governo passado.
O que dá ao projeto do Palácio
do Planalto o nome de reforma
-a unificação da legislação do
ICMS e o fim da guerra fiscal-
deve ficar para uma segunda etapa, que supostamente ocorrerá
em 2005.
No volátil calendário político
nacional, trata-se de um futuro
excessivamente remoto. Para citar o próprio Lula, quando entregou ao Congresso as propostas de
reforma em 30 de abril: "Se não
votarmos neste ano, no ano que
vem haverá eleição para prefeito
neste país, e todo mundo sabe
que, em ano eleitoral, tudo fica
muito mais difícil de ser votado".
Faltou acrescentar que, em
2005, deputados, senadores, governadores e o presidente estarão
pensando nas respectivas reeleições e sucessões no ano seguinte.
A terceira etapa -a criação do
IVA (Imposto sobre Valor Agregado), tão elogiada tecnicamente
quanto difícil politicamente- está marcada para 2007. Em outras
palavras, é tarefa para um novo
governo.
Nada há, porém, de imprevisto
nesse desfecho da reforma tributária. O atual impasse é resultado
não apenas das dificuldades enfrentadas no Congresso, mas
também da falta de convicção do
governo em torno do projeto.
Esse quadro já era perceptível
no primeiro dia útil do governo, 2
de janeiro. No discurso mais revelador daquela data, Antonio Palocci Filho assumiu o Ministério
da Fazenda listando toda a agenda prioritária de Lula: austeridade
fiscal, reforma da Previdência,
nova Lei de Falências, unificação
dos programas sociais. Nenhuma
palavra foi dita sobre a reforma
tributária.
Depois, Lula, movido pelas promessas de campanha, convenceria o ministro a elaborar uma proposta de reforma. O texto combinou um projeto de unificação do
ICMS já proposto pelo governo
FHC, as imprescindíveis CPMF e
DRU e uma série de medidas que
não dependiam de mudança
constitucional -algumas delas já
foram até adotadas por medida
provisória.
Em fevereiro, a "Carta de Brasília" anunciou um acordo entre o
Planalto e os Estados para as reformas previdenciária e tributária. Como os governadores relataram depois, apenas a primeira foi
discutida a fundo na ocasião.
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