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"Reforma é falta do que fazer", diz Leôncio
Para cientista político, reforma radical não seria aprovada pelo Congresso, e uma superficial provocaria resultado inútil
Contrário ao financiamento público, intelectual defende voto facultativo e diz não ter opinião formada sobre voto com listas fechadas
DA REPORTAGEM LOCAL
"Político, quando não tem o
que fazer, defende a reforma
política", critica o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, 72, que foi professor titular dos Departamentos de
Ciência Política da USP e da
Unicamp. Além de não apostar
na votação de nenhuma reforma, ele é contra o financiamento público.
(MALU DELGADO)
FOLHA - O sr. considera necessária
uma reforma política?
LEÔNCIO MARTINS - Haveria que
distinguir reformas políticas
profundas, ou radicais, e reformas políticas de pequeno alcance, ou superficiais. As primeiras não seriam aprovadas e
as segundas seriam inúteis.
FOLHA - O que seria uma reforma
profunda e uma superficial?
LEÔNCIO - Uma reforma profunda seria, por exemplo, a mudança do sistema proporcional
para os órgãos legislativos por
um sistema majoritário ou distrital. Uma reforma superficial
seria reduzir o tempo do horário gratuito, a proibição ou autorização da verticalização.
FOLHA - Há reforma ideal?
LEÔNCIO - Sistemas eleitorais
são resultados de interesses de
grupos, de tradições culturais,
do desenho institucional do Estado [federativo ou unitário] e
muitos outros fatores. Sempre
que aumenta o desprestígio da
classe política o tema da reforma aparece como a "mãe de todas as reformas".
FOLHA - O sr. concorda com o financiamento público de campanha,
lista fechada, fidelidade partidária e
cláusula de barreira?
LEÔNCIO - A substituição da lista aberta e voto uninominal pela lista partidária fechada (bloqueada ou flexível) diminuiria
a liberdade de escolha dos eleitores. Poderia dar mais consistência aos partidos, mas aumentaria o poder dos chefes
partidários e reduziria a liberdade de escolha dos eleitores.
Não dá para conciliar as duas
coisas. Não tenho opinião sobre esse ponto. Acho melhor
deixar as coisas como estão.
FOLHA - E quanto ao financiamento público?
LEÔNCIO - Sou contra. Primeiro: é um meio de a classe política fazer com que os cidadãos
paguem pela ambição política
de pessoas que querem ascender social e economicamente e
que dificilmente poderiam ser
entendidas como representantes do povo. Segundo: tal como
prevê o projeto, a distribuição
dos recursos se baseará nos resultados das eleições anteriores para a Câmara. Não leva em
conta as mudanças ocorridas
nas disposições eleitorais posteriores dos eleitores.
FOLHA - Qual sua opinião sobre o
voto facultativo?
LEÔNCIO - Uma das causas da
mazela da nossa vida política
decorre da presença de um eleitorado pouco informado sobre
política e desinteressado.
Assim, esquece rapidamente
em quem votou e fica sem informação para punir os maus
políticos, especialmente nas
disputas por cargos legislativos.
Essa é, aliás, tarefa, difícil em
nosso complicado sistema eleitoral com um número enorme
de candidatos e cargos em disputa. Mas poderíamos ter escolhas melhores se os que não estão interessados não fossem
obrigados a votar.
FOLHA - Como o sr. viu a proposta
de Lula de discutir a reforma numa
Constituinte?
LEÔNCIO - É um factóide para
desviar da questão central, que
é a corrupção. O político, quando não tem o que fazer, começa
a falar de reforma política.
Ele se apóia no hábito tradicional do Brasil de entender
que se pode salvar a sociedade
por decreto.
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