São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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Ofensiva russa tenta vender armas ao Brasil

Grandes aquisições de equipamentos pela Venezuela são usadas como justificativa para investimento do país no setor

Comitiva da empresa de vendas de armas russas veio ao país na semana passada para falar com autoridades no Rio, em Brasília e em SP

Jorge Silva - 1º.mai.07/Reuters
Caças russos Sukhoi, comprados pelo governo de Hugo Chávez, voam durante celebração na cidade venezuelana de Barcelona


RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A Rússia, principal fornecedora de armamento moderno para a Venezuela, iniciou ofensiva para vender armas para o Brasil, especialmente aviões de caça e helicópteros. Uma comitiva da empresa de vendas de armas russas Rosoboronexport veio ao país na semana passada para conversar com autoridades e técnicos militares no Rio, em Brasília e em São Paulo.
Militares brasileiros têm usado as grandes compras de equipamento pelo vizinho do norte como justificativa para aparelhar melhor as forças armadas. O item mais reluzente do arsenal chavista são os 24 caças russos Sukhoi-30, os mais modernos do continente. Chávez também comprou helicópteros e 100 mil fuzis de assalto AK-103, versão mais moderna do clássico AK-47, estrela da Guerra do Vietnã e de quase todo conflito subseqüente no Terceiro Mundo.
Os principais alvos dos russos são duas concorrências herdadas do governo FHC, conhecidas como F-X e CH-X.
Por problema de gestão e falta de recurso, a frota de aviões e helicópteros da Força Aérea Brasileira ficou em grande parte obsoleta já no governo FHC. A maior parte das aeronaves está sem condição de vôo.
É certo que o programa F-X de compra de novos caças de defesa aérea está sendo retomado. São basicamente os mesmos competidores de antes, mas com algumas diferenças.
Em vez de uma versão mais moderna do Mirage-2000, a França aposta no Rafale (mais caro) e na ligação com a Aviação de Caça, que operou o Mirage-3 e agora tem "novos" Mirage-2000 de segunda mão.
O sueco Gripen continua no páreo. Apesar de ser pequeno, ele tem a vantagem de ter sido comprado pela África do Sul, com quem o Brasil colabora em assuntos de defesa.
Cada vez com menos chance é o americano F-16. Além de ser um avião antigo, há a questão do armamento BVR (de maior alcance). Estaria o governo americano disposto a entregar mísseis de maior alcance para o Brasil? Um fator que pode tornar os EUA mais flexíveis é a presença dos modernos Su-30 na vizinha Venezuela.
Os russos e o ainda mais moderno Sukhoi-35 têm boas chances também. Em conversas com altos oficiais da FAB, foi possível perceber o interesse pelo Su-35. Vários o consideraram o melhor avião -embora ressalvando que a concorrência envolve também aspectos de offsets ("compensações") e transferência de tecnologia, além dos parâmetros técnicos.

"Offsets"
No passado, as forças armadas brasileiras compraram equipamento militar na base do "escambo" -submarinos italianos por café antes da Segunda Guerra, jatos britânicos por algodão depois dela. No governo Lula chegou-se a pensar em trocar caças por frangos.
Mas forças armadas pensam nos "offsets" como forma de gerar empregos e transferência de tecnologia, não de simples troca por produtos primários.
Igualmente cobiçado, e com mais chances para os russos, é o programa CH-X de compra de helicópteros pela FAB. Estão em pauta tanto helicópteros pesados de transporte de carga como vetores de ataque.
A aviação de asas rotativas no Brasil tem tradicionalmente comprado equipamento na Europa e nos EUA. Como é praxe, cada força cuida de suas necessidades; o Ministério da Defesa ainda pouco consegue em termos de padronização de equipamento. Uma espécie de padronização ocorreu de fato com a instalação da Helibrás, controlada pela Eurocopter, em Minas Gerais. As três forças usam o helicóptero Helibrás Esquilo, por exemplo, e os Eurocopter Super Puma/Cougar.
Na categoria de helicóptero pesado, os principais concorrentes são o russo Mi-26T e o americano Chinook CH-47. Como não se trata de compra de vulto -fala-se em 4 a 6 unidades- não se cogita produção local. Os dois têm condições de ser escolhidos, dependendo de preço (o que tende a ajudar o russo), capacidade de carga (também o russo ganha), mas há os imponderáveis fatores do suporte técnico e treinamento de pessoal. O Chinook é produzido pela Boeing, cuja presença mundial dispensa comentários.
Outros programas da FAB do plano de reequipamento do governo Fernando Henrique já estão equacionados. O programa C-X cuidou da compra de mais aeronaves usadas C-130 de transporte, e da sua modernização. O programa CL-X de avião de transporte leve adquiriu o espanhol Casa-295. O programa P-X de avião de patrulha optou por modernizar velhos Orion P-3 americanos.
Exército e Marinha têm menos interesse em armas russas. A FAB e o exército utilizam os mísseis russos Igla de curto alcance. Mas os números não são suficientes para a FAB proteger todas as suas bases aéreas. Com a entrada em operação de radares brasileiros modernos, fica faltando um míssil antiaéreo de alcance médio para aproveitar o equipamento de detecção.


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