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Gravação mostra como PF afastou Protógenes
Em reunião tensa, delegado da Satiagraha foi duramente criticado por superiores
Diálogos derrubam a versão
dada após a reunião pela PF,
que dizia que Protógenes
havia deixado o comando
da investigação a pedido
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na reunião realizada em 14
de julho passado na sede da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, dois superiores do delegado Protógenes
Queiroz o afastaram do comando da Operação Satiagraha
-que seis dias antes levara à
prisão o banqueiro Daniel Dantas e o investidor Naji Nahas.
O delegado foi acusado, no
encontro, de conduzir uma
ação repleta de irregularidades
e "fora dos padrões", além de
omitir informações sobre os
mandados de prisão. Foi questionado também se privilegiou
a Rede Globo quando da prisão
do ex-prefeito Celso Pitta.
Quando Protógenes deixou a
investigação, a direção da PF
vazou trechos de quatro minutos da gravação do encontro,
que tem duas horas e 55 minutos, e divulgou a versão de que o
delegado saiu porque quis. À
época, a PF lamentou em nota
"a distorção dos fatos".
A íntegra da gravação revela
que o delegado tentou se manter por mais 30 dias no comando da operação, ao mesmo tempo em que freqüentaria um
curso de formação profissional
na academia da PF, em Brasília.
Tentou também continuar auxiliando formalmente os novos
delegados do caso. Os dois pedidos foram negados.
Num dos trechos vazados pela PF em julho, Protógenes aparecia pedindo "desculpas" aos
seus chefes e dizendo que decidira participar do curso em
Brasília. Mas o vazamento suprimiu um trecho fundamental
da reunião que esclarece a decisão subseqüente do delegado.
O áudio registra que primeiro houve longo e tenso debate
de mais de duas horas, que girou basicamente em torno do
vazamento da operação no dia
em que foi deflagrada. Houve
cobranças do ministro da Justiça, Tarso Genro, para que fosse
apurado o vazamento.
Protógenes tentou contemporizar, mas não conseguiu demover os chefes da idéia de
abrir inquérito sobre o vazamento. Vencida essa etapa, o
superintendente da PF em São
Paulo, Leandro Coimbra, e o diretor de combate ao crime organizado da direção geral da
PF, Roberto Troncon Filho, entraram na fase mais delicada da
discussão, a permanência ou
não de Protógenes no caso.
A decisão começa a ser tratada às duas horas e 19 minutos
de gravação. Coimbra perguntou se Protógenes e os delegados que o apoiavam, Carlos Pellegrini e Karina Murakami, teriam condições de concluir o
inquérito "até sexta-feira". A
reunião ocorreu numa segunda-feira. Protógenes respondeu: "30 dias".
A idéia do delegado era intercalar o curso na academia com
seu trabalho no inquérito que
averiguava suposta gestão fraudulenta do grupo Opportunity.
Nesse período, aguardaria os
resultados da análise do material apreendidos em buscas e
apreensões nas casas dos investigados. Contou aos superiores
que já havia combinado com
advogados de defesa que poderia tomar depoimentos aos domingos, "inclusive para preservar a imagem" dos réus. O superintendente imediatamente
opôs-se à idéia. Primeiro disse
que havia aulas aos sábados.
Em seguida, argumentou que
Protógenes estava "personificando" a investigação. Ele afirmou: "Sábado tem aula. O problema é parecer que é pessoal".
Nesse momento, interveio
Troncon. Pouco antes, havia
feito duro diagnóstico sobre o
que acreditava ser "uma paranóia" de Protógenes. Disse que
ele estava disseminando "uma
virose" que estaria "contaminando" a PF. Falava ainda em
"resolver" o assunto. Disse ter
ficado "chateado" com os delegados da Satiagraha pois fora
mantido à parte da operação.
Protógenes argumentou que
queria "preservar" o delegado.
Disse que ele e equipe foram
"perseguidos" em Brasília, o
que justificaria sua prevenção.
O áudio demonstra que
Troncon não aceitou discutir a
possibilidade de Protógenes
continuar à frente da investigação. Contou que havia "conversado" com o delegado Coimbra,
momentos antes do encontro.
Troncon usou como argumento as críticas que a imprensa vinha fazendo ao trabalho de
Protógenes. Mas deixou claro
que o delegado deveria deixar o
caso. "Tem que despersonificar
a investigação. A investigação é
do órgão (...) Ainda que você
[Protógenes] dê a sua colaboração, porque você é o cara que
mais sabe desse negócio, mas
assim ó, fora dessa situação",
disse Troncon, que exerce uma
das cinco diretorias vinculadas
ao diretor-geral da PF, Luiz
Fernando Corrêa.
Protógenes argumentou: "É
muito pelo contrário. Não está
personificada, tem quatro delegados nessa investigação".
Troncon reagiu. "Não, a gente tem que pensar. Eu concordo
com o Leandro (...) A gente discutiu um pouco antes. A gente
tem que sair desse foco da personificação. (...) Quem está no
período da dedicação exclusiva
ao curso, a freqüência das aulas.
Por que vamos abrir para o
Queiroz? (...)", disse Troncon.
Mais adiante, Troncon afirmou: "Se você conseguir relatar
até sexta-feira, mas prosseguir
numa situação... É dar lenha na
fogueira. Certamente prosseguirá como fonte de consulta,
como apoio. (...) Mas continuar
tocando o inquérito...".
Ouça a reunião
www.folha.com.br/083239
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