São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Contra o novo mensalão


Não é justo faltar com o apoio aos corretos, como não é justo dar aos melhores o mesmo tratamento que aos piores

MELHOR do que o aumento com aparências mafiosas que um punhado de parlamentares se concedeu e aos seus colegas, uma constatação simples ilustra o que esperar do conjunto de deputados e senadores. Não chegou a 2% dos deputados, ou apenas 9 dos 513, o total dos que adotaram atitude imediata e espontânea, antes de qualquer indício da indignação cá de fora, contra o novo arranjo do ambiente gerador da corrupção disfarçada em caixa dois, da gangue dos sanguessugas e das CPIs que deixaram rastros horrendos em lugar das conclusões, como a do Banestado e a do mensalão.
A medida da presteza e da moralidade das reações trouxe também a inesperável constatação de que a maior qualificação do Senado, em relação à Câmara, merece mais ressalva do que aplauso. Ficaram em apenas 5% dos senadores, ou 4 dos 81, os que não precisaram esperar pela indignação externa para opor-se ao mensalão de ares oficiais.
Vale a pena reproduzir, e se possível não esquecer, os 9 nomes salvados dos 513: Fernando Gabeira e Chico Alencar, do Rio; Mendes Thame, Luiza Erundina e Carlos Sampaio, de São Paulo; Raul Jungmann e Roberto Freire, de Pernambuco; Walter Pinheiro, da Bahia, e Renato Casagrande, do Espírito Santo.
Vale a pena reproduzir, e se possível não esquecer, os 4 salvados do Senado: Eduardo Suplicy, Jefferson Péres, Heloísa Helena e Cristovam Buarque.
O deputado gaúcho Henrique Fontana, líder do PT, merece a menção de que votou contra o aumento, acompanhando Chico Alencar e Heloísa Helena, na reunião das Mesas da Câmara e do Senado com lideranças partidárias.
Nesses nomes não há novidade, mas trazem resposta a essa questão presente em toda parte: são poucos e tão impotentes os que não causam arrependimento ao eleitor que não há mais motivo para votar em deputados e senadores. A resposta: não é justo faltar com o apoio aos que sejam considerados corretos, como não é justo dar aos melhores o mesmo tratamento que aos piores.

Em defesa
A ministra Marina Silva foi objeto aqui, certa vez, de comentário negativo. Não só naquela ocasião, as concessões que fez, sobretudo no caso dos transgênicos, não são justificáveis.
Pessoas e entidades que dão atenção ao ambiente natural procuram fortalecer Marina Silva, posta sob risco de destituição desde que Lula proclamou a conclusão brilhante, mais uma, de que a natureza é um "entrave para o desenvolvimento". Isto é, a degradação é que gera desenvolvimento.
Para quem não compartilhe a conclusão de Lula, apoiar Marina Silva é a única atitude sensata. Quem vier a sucedê-la, seja quem for, só estará escolhido por ser capaz das piores concessões.


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