São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sindicalistas e internautas reagem à medida

DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento de 91% aprovado pelos parlamentares a seus próprios salários alimenta uma onda de irritação e protestos: de mobilizações das centrais sindicais e entidades civis, ainda pequenas, a iniciativas e manifestos na internet.
Ontem, a Força Sindical, presidida pelo deputado federal eleito Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho, fez uma passeata mirrada e barulhenta pelo centro de São Paulo. Havia cerca de 50 pessoas, acompanhando um carro de som.
O deputado eleito justificou o pequeno público: "É difícil mobilizar no final de ano. Até os sindicatos estão de férias. Foi por isso que os parlamentares escolheram este momento".
O protesto chamou a atenção da aposentada Osvaldina Cesar, 59, que fazia compras de Natal: "Vim aqui ver se havia algum abaixo-assinado para eu participar, tinha ouvido algo no rádio sobre isso. Liguei até para minha cunhada vir. Alguma coisa a gente tem que fazer. Esse aumento é uma afronta", diz ela, que votou na legenda do Partido Verde para deputado.
Paulinho disse que hoje, em Brasília, proporá aos presidentes da Câmara, Aldo Rebelo, e do Senado, Renan Calheiros, que o percentual de reajuste dos salários caia de 91% para 23,33%. O índice reporia a perda da inflação, segundo o INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor], desde o último aumento, em fevereiro de 2003. Pela proposta, o salário chegaria a R$ 15.662.
"Falei com o Aldo e propus a reunião. Vou sugerir que se use o INPC, que foi o mesmo índice que corrigiu o salário da maior parte dos trabalhadores . É uma saída para essa enrascada em que o Congresso se meteu", disse o sindicalista, que promete doar o que receber a mais por conta do aumento a entidades de ajuda aos pobres e "favelas".
Paulinho convidou a CUT (Central Única dos Trabalhadores) para a reunião, já que ele e o presidente da central, Artur Henrique, estarão em Brasília -as centrais sindicais negociam hoje à noite, na capital, que o mínimo suba mais que os R$ 25 aprovados no relatório setorial no Orçamento (passaria de R$ 350 para R$ 375).
Henrique, afirmou, porém, que não é papel da central oferecer uma solução para o reajuste dos congressistas, mas usar a indignação para pressionar por um salário mínimo maior: "Devemos protestar nas ruas. As pessoas querem demonstrar que estão irritadas".
A CUT colhe assinaturas contra o aumento e hoje promoverá ato na Praça do Patriarca, em São Paulo, e em frente ao Congresso, em Brasília.
Na internet, há também reação. O fórum-blog "Jornal de Debates", editado pelo jornalista Paulo Markun, havia recebido de sexta até ontem 300 artigos sobre o tema e promove consulta com juristas para escolher que caminho formal tomar contra o aumento. A principal delas é propor uma lei de iniciativa popular. Outro internauta criou um blog sobre o assunto e convoca protesto no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na sexta. "O aumento foi a cereja do bolo dessa legislatura e indignação está pipocando em vários lugares da internet, que tem se mostrado um ótimo canal para isso", diz Markun. (FLÁVIA MARREIRO)


Texto Anterior: Entrevista: Deputados têm tudo e eu, nada, diz agressora
Próximo Texto: Procurador quer barrar 40 eleitos em SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.