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Procuradoria faz a maior denúncia contra Maluf
Acusação por lavagem e formação de quadrilha reúne documentos bancários
Deputado federal mais votado no Estado de São Paulo, ex-prefeito deve ser diplomado hoje e nega possuir contas no exterior
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-prefeito Paulo Maluf
(PP), que será diplomado hoje
deputado federal, foi denunciado (acusado formalmente) ontem pelos crimes de formação
de quadrilha e lavagem de dinheiro na Suíça, na Inglaterra e
na ilha de Jersey.
A mulher do ex-prefeito,
Sylvia Lutfalla Maluf, os filhos
Flávio, Otávio, Lina e Lígia, a
nora Jacqueline e o genro Maurílio Curi também foram denunciados pelo procurador da
República Rodrigo de Grandis,
do Ministério Público Federal
em São Paulo.
A assessoria do ex-prefeito
diz que os Maluf não têm nem
nunca tiveram contas no exterior (leia texto abaixo).
É a quarta e a mais completa
denúncia contra o ex-prefeito
por contas ilegais no exterior. A
acusação ainda precisa ser aceita pela Justiça, e se isso não
ocorrer até a diplomação, caberá ao Supremo Tribunal Federal se manifestar sobre o caso.
Pela primeira vez, com a ajuda da ilha de Jersey, da Inglaterra, dos EUA e da Suíça, a
Procuradoria relatou a rota do
dinheiro, dando destaque para
três fases: 1) desvio de recursos
públicos na gestão dele como
prefeito (93-96); 2) abertura de
contas em paraísos fiscais em
nome de empresas estrangeiras (offshores) controladas pelos Maluf e remessa ilegal do dinheiro e, finalmente, 3) retorno
das aplicações para o Brasil.
A maior parte das provas
apresentadas pela Procuradoria veio de bancos estrangeiros.
São extratos de contas do exterior; papéis de fax enviados
por Flávio Maluf ordenando a
transferência de valores; uma
carta assinada por um advogado informando o interesse do
ex-prefeito de "reinvestir discretamente no Brasil"; memorandos de uma instituição financeira da Suíça e até bilhetes
manuscritos, uns deles, segundo o órgão, pelo próprio Maluf.
A carta atribuída ao ex-prefeito, enviada ao Union Bank of
Switzerland, é de 16 de dezembro de 1996 e diz o seguinte:
"Desejo fazer uma doação de
todos os bens possivelmente
detidos na White Gold Foundation [fundação atribuída a ele]
para os meus quatro filhos em
partes iguais [...] Sinceramente,
Paulo Salim Maluf".
O procurador denunciou ainda o jordaniano Hani B. Kalouti, que vive na Suíça e seria o
consultor de Flávio, e o casal de
doleiros Roger e Myrian Haber.
Rota
Para o Ministério Público,
parte do dinheiro que abasteceu as contas foi desviado de
obras públicas durante a gestão
de Maluf como prefeito -já
existe uma ação penal e outra
cível sobre o suposto desvio.
Na nova denúncia, De Grandis reúne documentos que
mostram uma intensa movimentação entre as contas, todas em nomes de empresas que
têm os Maluf como controladores. Só na ilha de Jersey, estima-se que a movimentação tenha sido de US$ 200 milhões.
Dos valores bloqueados, há
pelo menos US$ 30 milhões em
ações atribuídas aos filhos, segundo saldo do dia 30 de junho
deste ano. Os valores encontrados nas contas são baixos e, segundo a Procuradoria, revela
que o dinheiro foi remetido para outros países.
"Para uma lavagem ser completa, o dinheiro precisa retornar. Foi o que os Maluf fizeram
quando investiram em fundos e
compraram ações da Eucatex",
afirmou De Grandis.
Segundo a denúncia, foi em
março de 1997, numa reunião
no hotel Plaza Athénée, em Paris, com o jordaniano e o advogado contratado da ilha, Jacques Wittmer, que Maluf decidiu criar os fundos de investimento. A informação foi prestada por Wittmer ao Deutsche
Bank, que passou a questionar
a origem do dinheiro.
Em carta, o advogado disse
que "a intenção da família é
[era] reinvestir [...] US$ 75 milhões na Eucatex de uma forma
discreta". Documentos de Jersey informam que, de julho de
1997 a fevereiro de 1998, fundos de investimento atribuídos
aos Maluf adquiriram US$ 92
milhões em ações da Eucatex.
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