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Lula adia pacote e descarta mais impostos
Em jantar no Alvorada, presidente diz a aliados que governo não vai anunciar neste ano medidas para suprir fim de CPMF
Ao retornar de Montevidéu, Lula orientou seus ministros a priorizar estudos de cortes de despesas no Orçamento antes de elevar alíquotas
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Durante jantar ontem com líderes da base no Congresso,
além dos presidentes dos partidos aliados, no Palácio do Alvorada, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva anunciou que não
haverá pacote nem aumento de
tributos para compensar a perda de receita com o fim da
CPMF, o chamado imposto do
cheque. O ministro de Relações
Institucionais, José Múcio
Monteiro (PTB-PE), disse que
"o presidente garantiu que nada acontecerá" neste ano.
"Não vamos fazer aumento
de impostos. Vamos ver onde
serão os cortes no Orçamento
do ano que vem, que só deve ser
votado em meados de fevereiro", afirmou Múcio, ao final do
encontro, que terminou por
volta das 22h30.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR),
disse: "Não haverá pacote. Não
haverá aumento de impostos.
Não há nenhum sobressalto
nem para o mercado, nem para
a oposição e nem para a economia". Jucá acrescentou que "a
economia e as empresas podem
dormir tranqüilos".
José Múcio afirmou ainda
que não motivos para que haja
sanções por meio do corte de
emenda dos parlamentares ao
Orçamento. "Passamos por um
processo de terapia [na votação
da CPMF]. Só aprendemos a
vencer com algumas derrotas",
disse o ministro.
Apesar de afirmar que não
haverá pacote, Múcio disse que
o presidente terá hoje pela manhã uma reunião com a equipe
econômica e lideranças governistas no Congresso para fazer
um balanço do ano e definir a
estratégia para o começo do
próximo ano em relação aos
cortes.
Estava prevista para hoje
uma reunião do presidente Lula com os ministros Guido
Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e José
Múcio, para que o governo definisse as linhas gerais do pacote
emergencial que compensará
gastos com CPMF.
Discurso afinado
As afirmações desencontradas de Lula e dos ministros sobre como o governo compensará a perda de R$ 38 bilhões com
o fim da CPMF preocupavam o
governo. A avaliação no Planalto era de que o governo precisava encontrar um discurso unificado para evitar ruídos no mercado financeiro.
Apesar de não terem fechado
os detalhes de todos os números, os técnicos dos ministérios
da Fazenda e do Planejamento
já sabem que há espaço para
acomodar o buraco deixado pela CPMF no Orçamento e também que não haverá como fugir
da fórmula tradicional de aumento de alguns impostos e
corte de despesas, ainda que o
presidente negue a possibilidade de maior tributação.
Ontem, ao retornar de Montevidéu, Luiz Inácio Lula da Silva orientou seus ministros a
priorizar os estudos de cortes
de gastos no Orçamento antes
de passar para a fase de aumento de alíquotas de impostos.
Segundo a Folha apurou, a
avaliação era que o governo não
pode passar a impressão de que
Fazenda e Planejamento estão
em lados opostos. O governo
acredita que foi bem-sucedido
inicialmente na comunicação,
ao reafirmar o compromisso
com o equilíbrio das contas públicas e a manutenção do superávit primário. Com isso, evitou
maiores estragos no mercado
financeiro.
No entanto, é preciso entregar o que prometeu: um pacote
consistente para mostrar que
haverá sustentação fiscal. Isso é
fundamental para conseguir o
selo de grau de investimento
das agências de classificação de
risco e assegurar o ingresso de
investimento externo. Por isso
parte da equipe quis adiar as
medidas para janeiro.
As primeiras previsões do governo apontavam ganho de receita de R$ 12 bilhões com o aumento da alíquota de tributos
- como IOF, CSLL e IPI -e
cortes da ordem de R$ 18 bilhões a R$ 20 bilhões.
Em Montevidéu, o ministro
Paulo Bernardo afirmou que
uma opção para reverter o
"rombo" deixado pelo fim da
CPMF e cumprir o desejo do
presidente de não reduzir os
gastos com o PAC é cortar investimentos que não fazem
parte do programa, principalmente aqueles oriundos de
emendas parlamentares. Admitiu, porém, que a idéia deve
enfrentar resistências no Congresso.
Ao sair do encontro do Mercosul, Lula apenas disse aos jornalistas que Mantega o representa. O ministro, apressado
para não perder o vôo, disse que
a reposição da CPMF "vai ser
analisada com calma".
Colaboraram SHEILA D'AMORIM, VALDO CRUZ E RODRIGO RÖTZSCH, enviado
especial a Montevidéu
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