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Bispo espera STF para encerrar greve
Já debilitado, dom Luiz apresenta proposta que admite transposição de 9.000 litros por segundo
Representantes do governo vão reforçar a promessa de construir mais cisternas e acelerar o programa para revitalizar o São Francisco
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOBRADINHO
Há 22 dias em greve de fome,
dom Luiz Flávio Cappio está
disposto a encerrar hoje seu jejum caso o Supremo Tribunal
Federal atenda ao pedido de
suspensão das obras de transposição das águas do rio São
Francisco apresentado pelo
procurador-geral da República,
Antonio Fernando Souza.
O grupo que acompanha d.
Luiz avalia que uma decisão
contrária à obra permitiria
uma saída honrosa para o impasse tanto para o bispo como
para o governo, que não traria
desgaste a nenhuma das partes.
A Folha conversou com pessoas que estiveram com o religioso nos últimos dias, em Sobradinho (BA). Segundo eles, já
debilitado e ansioso pelo fim do
jejum, dom Luiz gostaria de se
apegar a uma decisão judicial a
ter de ceder nas negociações.
Ontem, o bispo apresentou
uma contraproposta ao governo com oito itens. Ele mantém
a reivindicação de retirada do
Exército do canteiro de obras,
mas admite a captação e distribuição de água do rio para consumo humano e animal.
D. Luiz e seu grupo avaliam
que dificilmente o governo
concordará integralmente com
a proposta, que na prática inviabiliza a transposição, mas
crêem que ela é politicamente
necessária para evitar a imagem de radicalismo do bispo.
No documento, d. Luiz não
fala mais em arquivamento do
projeto como condição para o
fim do jejum, mas em "manter
a suspensão das obras iniciadas" por prazo não definido.
Ele exige a substituição do canal da transposição que abasteceria Pernambuco e Paraíba
por uma rede de adutoras e a
redução do volume de água
captado de 28 mil para 9.000 litros por segundo -o que, segundo ele, seria suficiente para
atendimento humano e animal
nas regiões mais críticas do semi-árido dos dois Estados.
O bispo também quer que o
governo implemente as 530
obras hídricas previstas no
Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água, da
Agência Nacional de Águas. Os
projetos, afirma, beneficiariam
34 milhões de pessoas, contra
12 milhões da transposição.
Na noite de ontem, o chefe-de-gabinete da Presidência,
Gilberto Carvalho, e dois técnicos do Ministério do Desenvolvimento se encontraram com o
secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Dimas Lara
Barbosa, na sede da entidade.
Na reunião, o Planalto iria reforçar a promessa de ampliar o
programa de construção de cisternas e acelerar o programa de
revitalização do São Francisco.
Hoje o STF pode incluir na
pauta a análise do pedido de
suspensão das obras apresentado em julho pelo procurador-geral. O argumento da petição é
que o governo federal iniciou
as obras sem ter realizado audiências públicas estabelecidas
na licença prévia do Ibama,
aceita como válida pelo então
ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, que em 2006 determinou novos estudos.
"A nossa avaliação é que essa
pode ser uma grande conquista, mesmo que parcial. Porque,
após a decisão do STF, pode ter
uma definição do governo e pode ter um aceno da parte de d.
Luiz", disse Marina dos Santos,
da coordenação nacional do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Além do pedido do procurador, há outras ações e recursos
no STF sobre a obra. Um deles
é o pedido da Advocacia Geral
da União para que o Supremo
derrube a liminar do Tribunal
Regional Federal da 1ª região
que embarga a transposição
desde a semana passada.
Ontem, cerca de cem integrantes de pastorais da Igreja
Católica e de movimentos sociais ergueram acampamento
na praça dos Três Poderes, entre o Palácio do Planalto e o
STF, para pressionar tanto o
governo como o Judiciário.
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