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Defesa quer cobrar empresas por vigilância
Pagamento por uso da segurança das Forças Armadas pelo setor privado está previsto na Estratégia Nacional de Defesa
Plano também propõe que Lei de Licitações mude para beneficiar as indústrias nacionais nas vendas de equipamentos militares
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Estratégia Nacional de Defesa, lançada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
no Planalto, pretende criar definitivamente o Ministério da
Defesa e abrir uma relação direta das Forças Armadas com o
desenvolvimento econômico e
a indústria nacional, numa via
de mão dupla.
Empresas privadas e públicas de áreas estratégicas que
exijam segurança e vigilância
militar serão chamadas a pagar
de alguma forma pelo serviço
às três Forças, no que o ministro Nelson Jobim (Defesa) chamou de "processo de remuneração". O exemplo mais objetivo é a Petrobras, que explora o
mar territorial brasileiro, protegido pela Marinha. Se a Organização das Nações Unidas
aceitar um pleito brasileiro, esse mar territorial, incluindo aí
os campos da camada de pré-sal, vai aumentar em 1 milhão
de km2.
Outras áreas em que poderá
haver remuneração pela segurança são energia em geral,
transporte, água e telecomunicações. E Jobim disse que poderá haver acordos com empresas para empreendimentos
comuns em terrenos militares.
Não especificou como.
Na outra mão, o plano prevê
modificações na Lei de Licitações para favorecer indústrias
nacionais de diferentes formas,
inclusive tarifárias, na venda
de equipamentos e produtos
militares para dentro e para fora do país. A idéia é fortalecer a
indústria bélica nacional, principalmente como exportadora.
As compras governamentais
e as decisões na área de defesa
serão concentradas num único
órgão, o Estado Maior Conjunto de Defesa, no ministério. Os
atuais Estado-Maior do Exército, da Marinha e da Aeronáutica passarão a ser executor das
diretrizes do órgão comum.
Apesar de o ministro Roberto Mangabeira Unger (Ações
de Longo Prazo), principal
mentor do plano, ter insistido
que se trata de uma "doutrina"
e de "diretrizes", a expectativa
é de efeitos práticos nas três
Forças, alguns de curto prazo.
É o caso da oficialização da
parceria estratégica Brasil-França, na semana que vem,
com o anúncio da compra de
quatro submarinos franceses e
auxílio no desenvolvimento do
modelo nuclear brasileiro.
Segundo o comandante da
Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, o submarino só deverá estar pronto entre
2020 e 2021. Disse que a crise
não afeta a previsão de recursos ao projeto de domínio do
ciclo do combustível nuclear,
de R$ 130 milhões ao ano.
Na área do Exército, Jobim
anunciou o aumento de pelotões de fronteira de 18 para
"mais de 40" e de 17 mil para 25
mil homens, sobretudo no
Norte, que inclui limites com a
Guiana e com a Venezuela.
Na Aeronáutica, o principal
projeto é o F-X2, para renovar
a frota de caças, mas isso não
foi abordado ontem, já que se
trata de um processo em curso.
Ao discursar, Mangabeira
disse que o Brasil está deixando
de ser "um país da subserviência" e foi aplaudido ao conclamar: "O Brasil se levantará! (...)
O Brasil vai às armas!". Em seguida, Lula tentou explicar a
declaração do ministro, dizendo que o país não vai à guerra e
sim investir em tecnologia.
Mangabeira disse que o serviço militar é obrigatório "só na
lei" e que a lógica será invertida. Segundo ele, hoje o jovem é
quem decide servir, e a partir
de agora as Forças é que vão escolher os recrutas, a partir de
dois critérios pessoais, "força
física e capacidade analítica", e
de dois estratégicos, as regiões
e as faixas socioeconômicas.
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