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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O MARQUETEIRO
Sob risco de bloqueio de bens, publicitário envia dinheiro para parentes e para empresas
Duda transfere R$ 4 mi de sua conta antes de ir à CPI
LEONARDO SOUZA
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O publicitário Duda Mendonça
transferiu R$ 4 milhões de sua
conta pessoal no BankBoston para parentes e uma de suas empresas nos dias que antecederam seu
depoimento à CPI dos Correios,
em 11 de agosto de 2005.
Segundo documentos obtidos
pela Folha, foram R$ 500 mil para
um genro, R$ 2,5 milhões para a
empresa de seus cinco filhos e R$
1 milhão para a agência Duda
Mendonça Associados. Os valores seriam empréstimos que já teriam sido pagos, segundo o advogado do publicitário, Tales Castelo Branco, na mesma conta de onde os recursos haviam saído. Para
técnicos e integrantes da CPI, as
transações demonstram temor do
publicitário de ter o dinheiro retido, se fosse decretado um bloqueio judicial de seus bens.
Para o senador Álvaro Dias
(PSDB-PR) e o deputado Gustavo
Fruet (PSDB-PR), sub-relator de
movimentação financeira, a revelação dessas operações torna inevitável a convocação do publicitário a depor na CPI. Quando foi
ouvido pela CPI, em agosto do
ano passado, Duda compareceu
voluntariamente. Os congressistas esperavam ouvir apenas sua
sócia, Zilmar Fernandes.
O depoimento, no qual confirmou ter recebido dinheiro ilegalmente no exterior pelos serviços
prestados à campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva e outros em
2002, foi um dos momentos mais
tensos da crise política.
"Essa movimentação exagerada
se deu exatamente nos dias que
antecederam seu depoimento à
CPI. Fica a suposição de que ele
imaginava alguma provisão de
natureza legal, como o bloqueio
de suas contas ou qualquer outro
tipo de providência que viesse a
dificultar sua movimentação financeira", disse o senador.
"A cada dia a justificativa para
convocá-lo ganha mais corpo",
disse Fruet. O deputado acrescentou que, até agora, as contas de
Duda não estavam sendo analisadas. Mas, diante dos novos dados,
os técnicos passarão a examinar
detalhadamente os números.
A movimentação financeira de
Duda nos primeiros dias de agosto coincide com uma série de
eventos que levaram o publicitário ao topo do noticiário. No dia 5
daquele mês, ele transferiu R$ 3
milhões de sua conta pessoal, dos
quais R$ 500 mil para Marcelo
Mascarenhas Kertész, seu genro, e
R$ 2,5 milhões para a Nov Patrimonial Ltda., pertencente a seus
cinco filhos, com sede na Bahia.
Um dia antes das operações, o
policial civil de Minas Gerais David Rodrigues Alves havia prestado depoimento à CPI. Segundo o
publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, David sacava recursos no esquema do "valerioduto" e os entregava a Duda por
meio de Zilmar. Marcos Valério
dizia seguir ordens do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Nova coincidência cercou a saída de R$ 1 milhão da conta pessoal de Duda. No dia 9 de agosto,
o jornal "Correio Braziliense" divulgou a existência de uma conta
de Duda no exterior chamada
Dusseldorf, que teria recebido recursos do "valerioduto".
No dia 10, o publicitário transferiu R$ 1 milhão para a Duda Mendonça Associados. Nesse mesmo
dia, ele prestou depoimento à Polícia Federal de Salvador, quando
admitiu pela primeira vez a existência da Dusseldorf e o esquema
de caixa dois do PT.
No dia 11, disse na CPI que havia
criado a Dusseldorf e aberto uma
conta em nome dela por orientação de Marcos Valério. Informou
que por meio da conta no exterior
havia recebido R$ 10,5 milhões.
No dia 16, Duda transferiu mais
R$ 300 mil de sua conta. Desta vez
o dinheiro foi para outra de suas
empresas, a CEP Comunicação e
Estratégica Política Ltda. Ao todo,
em 11 dias, Duda retirou R$ 4,3
milhões de sua conta pessoal na
agência baiana do BankBoston.
Outro fato chamou a atenção
dos técnicos e dos parlamentares.
A Nov Patrimonial não teve até
agora os sigilos fiscal e bancário
quebrados pela comissão. Até
agora, nem Fruet nem Álvaro
Dias sabiam da existência da empresa. O senador disse que já assinou requerimento pedindo a quebra dos sigilos da empresa. Por
meio dela, Duda construiu uma
casa na praia de Tapiús de Fora,
em Maraú, no sul da Bahia.
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