São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO CUBANA

Segundo a CPI, Éder de Macedo, que teria carregado dólares de Cuba para petistas, também teve despesas pagas por escritório de advogado do partido

Motorista do "caso Cuba" teve ajuda do PT

LUIZ FRANCISCO
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O motorista Éder Eustáquio Soares de Macedo, que teria transportado dólares vindos de Cuba para a campanha petista em 2002, recebeu -antes de depor ontem na CPI dos Bingos- assessoria do advogado do PT Hélio Silveira, que também defende na comissão Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). O escritório de Silveira ainda pagou, segundo a CPI, a hospedagem de Macedo em Brasília.
Motorista do Ministério da Fazenda no Rio, Macedo disse que foi indicado para o cargo por Ademirson em 2003. O escritório de Silveira pagou a hospedagem dele, de Macedo e da advogada que o assessorou no depoimento, Stela Cristina Nakazato, no hotel Mercure de Brasília. O gasto foi de R$ 476,79, diz a CPI. Nakazato também já trabalhou para o PT.
Em outubro de 2005, a revista "Veja" publicou que Vladimir Poleto, assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) em 2001, afirmou ter transportado US$ 1,4 milhão, dinheiro vindo de Cuba para campanha petista em 2002. Poleto voltou atrás e negou.
Ex-secretário de Palocci também na prefeitura (1993 e 1994), Rogério Buratti diz que foram transportados US$ 3 milhões. Disse ter ouvido a história de Ralf Barquete, ex-secretário de Palocci em 2001. Barquete morreu em 2004. Poleto nega que fosse dinheiro o material transportado.
Então taxista em São Paulo, Macedo foi contratado para dirigir o Ômega que levou Barquete ao aeroporto de Campinas. "Não posso confirmar [se tinha dinheiro]. Não desci do veículo. O doutor Ralf, que Deus o tenha, pediu para abrir o porta-malas. Apertei um botão no porta-luvas."
Segundo ele, do aeroporto Amarais, onde as caixas foram embarcadas, Poleto e Barquete pararam na churrascaria Montana Grill, em São Paulo. Novamente, Macedo diz ter aberto o porta-malas sem sair do carro. Barquete voltou e, segundo Macedo, pediu para que o motorista levasse Poleto ao aeroporto de Congonhas.
Muito nervoso na CPI, Macedo reconheceu que mentiu ao menos duas vezes à comissão. Vice-presidente da CPI, o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), médico, disse que Macedo estava sob efeitos de tranqüilizantes. O motorista disse ter tomado diurético.
No começo, disse que havia conhecido Hélio Silveira no comitê eleitoral de 2002, quando era motorista de táxi na cidade. Depois, voltou atrás e afirmou que manteve contato pela primeira vez com o advogado logo após a publicação da revista "Veja". Silveira e outros dois funcionários da Fazenda acompanharam grande parte do depoimento de Macedo. No final, Macedo disse que só anteontem conheceu o advogado.
O motorista não soube explicar quem pagou a diária do hotel em que ficou hospedado. A oposição deixou a sessão com a certeza de que Macedo foi orientado pelo PT. "Está na cara que o PT está por trás, pagando as despesas com advogado e hotel", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Irritado com as contradições, Dias disse que a CPI deve convocar Palocci para depor. "A corda tem de arrebentar do lado mais forte. O silêncio do depoente [Macedo] é comprometedor, o que coloca sob suspeita o ministro."


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