São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Em jantar com aliados na casa de João Paulo, ministro afirma que cogitou ir à TV pedir desculpas ao país, mas Lula o impediu

Dirceu diz estar machucado e ter sido traído

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em jantar anteontem com aliados, o ministro José Dirceu (Casa Civil) disse que desejava "pedir desculpas ao país" pelo caso Waldomiro Diniz, mas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe dera ordem para ficar calado. Confirmou que pôs o cargo à disposição, como revelou a Folha, mas o presidente descartou isso.
Dizendo-se "traído", "puto" e "decepcionado" com Waldomiro, Dirceu afirmou que tinha vontade de "ir à TV" se desculpar. De acordo com o relato dos participantes do jantar, o ministro contou estar "machucado" por dois motivos. Primeiro, por ter falhado ao não descobrir que Waldomiro era quem era. Reconheceu que errou por não ter demitido Waldomiro em 2003, quando houve acusação contra o então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil.
Waldomiro aparece em vídeo gravado em 2002 pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário do ramo do bingo. Em 2003, homem da confiança de Dirceu, foi trabalhar na Casa Civil, onde cuidava da relação do governo com o Congresso. Em janeiro, na reforma ministerial, sua seção se mudou para a Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais. Waldomiro era amigo de Dirceu. Os dois dividiram apartamento em Brasília quando o ministro era deputado.
No jantar, um ato de desagravo na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), Dirceu disse que o segundo motivo para se sentir "machucado" era o "fogo amigo" na hora de crise. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), por exemplo, defendeu a CPI que o governo tenta abafar.
"Não tenham receio de me oferecer apoio, que preciso de apoio", disse Dirceu. Os presentes afirmaram que ele aparentava um ar ora abatido, ora grave.
Dirceu afirmou que gostaria de falar de público para se defender. No bastidor, Lula aguarda a evolução. O presidente não tem comentado o caso, e a única declaração de Dirceu foi dada na segunda, no Congresso, onde disse que o caso ocorrera antes da posse de Lula e que o governo agira rápido.
No jantar, Dirceu disse que cobrou explicações de Waldomiro em julho, quando reportagem apontou eventuais irregularidades dele. Diante das negativas, teria orientado os órgãos competentes a quebrar o sigilo fiscal do subordinado. Mesmo assim, Dirceu lamentou não ter percebido a real dimensão do caso.
Apesar de o governo ter ressalvas em relação a uma CPI do Bingo no Senado, Dirceu disse não ver problema na instalação dessa comissão. Mas afirmou que a CPI da Assembléia do Rio é suficiente para investigar Waldomiro.
Dirceu afirmou estar "triste" com setores do PSDB apontados pelo PT como responsáveis pela divulgação do vídeo. Dirceu contou que o presidente do PSDB, José Serra, ligou para ele para negar envolvimento no caso.
Ao relatar que desejava pedir "desculpas" ao país e também aos aliados que estavam jantando com ele, Dirceu falou que o caso trazia dano à imagem do Brasil e podia afetar a economia. Defendeu "uma agenda positiva" que consolidasse a estabilidade econômica e colocasse o país no caminho do crescimento. Nesse momento, falou ser contra uma CPI no Senado porque atrapalharia o país. (RB, SN e KA)

Texto Anterior: Waldomiro vai ser investigado por um colega
Próximo Texto: Wagner e Furlan defendem governo; CNBB poupa Dirceu
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.