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SOMBRA NO PLANALTO
Em jantar com aliados na casa de João Paulo, ministro afirma que cogitou ir à TV pedir desculpas ao país, mas Lula o impediu
Dirceu diz estar machucado e ter sido traído
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em jantar anteontem com aliados, o ministro José Dirceu (Casa
Civil) disse que desejava "pedir
desculpas ao país" pelo caso Waldomiro Diniz, mas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe
dera ordem para ficar calado.
Confirmou que pôs o cargo à disposição, como revelou a Folha,
mas o presidente descartou isso.
Dizendo-se "traído", "puto" e
"decepcionado" com Waldomiro, Dirceu afirmou que tinha vontade de "ir à TV" se desculpar. De
acordo com o relato dos participantes do jantar, o ministro contou estar "machucado" por dois
motivos. Primeiro, por ter falhado ao não descobrir que Waldomiro era quem era. Reconheceu
que errou por não ter demitido
Waldomiro em 2003, quando
houve acusação contra o então
subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil.
Waldomiro aparece em vídeo
gravado em 2002 pedindo propina e contribuição de campanha a
um empresário do ramo do bingo. Em 2003, homem da confiança de Dirceu, foi trabalhar na Casa
Civil, onde cuidava da relação do
governo com o Congresso. Em janeiro, na reforma ministerial, sua
seção se mudou para a Secretaria
de Coordenação Política e Assuntos Institucionais. Waldomiro era
amigo de Dirceu. Os dois dividiram apartamento em Brasília
quando o ministro era deputado.
No jantar, um ato de desagravo
na casa do presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), Dirceu disse que o segundo motivo
para se sentir "machucado" era o
"fogo amigo" na hora de crise. O
senador Eduardo Suplicy (PT-SP), por exemplo, defendeu a CPI
que o governo tenta abafar.
"Não tenham receio de me oferecer apoio, que preciso de
apoio", disse Dirceu. Os presentes
afirmaram que ele aparentava um
ar ora abatido, ora grave.
Dirceu afirmou que gostaria de
falar de público para se defender.
No bastidor, Lula aguarda a evolução. O presidente não tem comentado o caso, e a única declaração de Dirceu foi dada na segunda, no Congresso, onde disse que
o caso ocorrera antes da posse de
Lula e que o governo agira rápido.
No jantar, Dirceu disse que cobrou explicações de Waldomiro
em julho, quando reportagem
apontou eventuais irregularidades dele. Diante das negativas, teria orientado os órgãos competentes a quebrar o sigilo fiscal do
subordinado. Mesmo assim, Dirceu lamentou não ter percebido a
real dimensão do caso.
Apesar de o governo ter ressalvas em relação a uma CPI do Bingo no Senado, Dirceu disse não
ver problema na instalação dessa
comissão. Mas afirmou que a CPI
da Assembléia do Rio é suficiente
para investigar Waldomiro.
Dirceu afirmou estar "triste"
com setores do PSDB apontados
pelo PT como responsáveis pela
divulgação do vídeo. Dirceu contou que o presidente do PSDB, José Serra, ligou para ele para negar
envolvimento no caso.
Ao relatar que desejava pedir
"desculpas" ao país e também aos
aliados que estavam jantando
com ele, Dirceu falou que o caso
trazia dano à imagem do Brasil e
podia afetar a economia. Defendeu "uma agenda positiva" que
consolidasse a estabilidade econômica e colocasse o país no caminho do crescimento. Nesse
momento, falou ser contra uma
CPI no Senado porque atrapalharia o país.
(RB, SN e KA)
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