São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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TODA MÍDIA

NELSON DE SÁ

Pop pop pop

Nestes dias em que até a blogosfera brasiliense, de Josias de Souza a Ricardo Noblat, se volta para os megashows de música pop, em "live blogging" e tudo mais, "Lula fala sobre biodiesel com Bono".
Era o curioso enunciado da Folha Online, em submanchete. Na manchete de Globo Online e outros sites, "Bono e Lula discutem desigualdade".
Em campanha aberta, o petista não poderia pedir mais. São bandeiras suas, energia e Fome Zero. Mas ele ganhou mais de Bono, que parou na entrada da Granja do Torto e saiu dizendo, segundo a Folha Online:
- É um sonho estar aqui, porque Lula luta não só contra a pobreza [no Brasil], mas também contra a pobreza no mundo.
Globo, ainda que sem maior destaque no "Fantástico", e canais de notícias também acompanharam a "photo-op". A Globo News registrou:
- Segundo a Presidência da República, foi o líder da banda U2 quem pediu o encontro.
 
Em sites do "New York Times" ao argentino "La Nación", os despachos noticiavam, com destaque variado, o encontro do "cantor e ativista social Bono" com o presidente e Gilberto Gil, "famoso como popstar antes de entrar para o governo".
A britânica Reuters sublinhou que um dos fãs que esperavam o irlandês Bono Vox, na Granja do Torto, carregava um cartaz que dizia "Bono para presidente das Nações Unidas".
 
Primeiro os fundadores do Google, agora Bono. Sem falar de George W. Bush no discurso sobre "o estado da união" e tudo o que viu em seguida.
Com o biocombustível dado como panacéia, o ministro Luiz Furlan aproveitou e, num dossiê da BBC Brasil, anunciou que o "Brasil quer entrar no mercado americano de etanol".
Disse que o secretário de Comércio dos EUA, no Fórum de Davos em que Bono foi estrela, "perguntou se o Brasil teria condição de abastecer eventual aumento de demanda dos EUA". Ele prometeu que "sim".
 
E tome "amor" pela energia do Brasil, agora a Petrobras. Do "Financial Times", ontem:
- Wall Street ama a Petrobras -a estatal de petróleo que registrou lucros recordes na sexta. Em dólar, os lucros da Petrobras foram não só 40% maiores que em 2004, mas os mais altos já registrados por uma corporação latino-americana.
Não vai faltar dinheiro para o gasoduto sul-americano, avalia o jornal financeiro.

A MELHOR FESTA DO MUNDO
Até Larry Rohter, do "New York Times", foi à "melhor festa do mundo", como descreveu Mick Jagger em português, falando ao público no Rio. Foi "a melhor", não necessariamente a maior, na controvérsia que correu mundo. Para Cid Moreira, no "Fantástico", foi "o maior concerto da história". Para Glória Maria, "o maior público já registrado num show de rock".
Mas o britânico "Sunday Telegraph" se perguntou, no título, "O maior bang?". Os números foram variados, de "mais de 1 milhão" na Globo a 1,5 milhão no "NYT" e até 2 milhões no "Observer", de Londres. Como sublinhou Rohter, "o show foi anunciado como o maior show pop da história", mas "o Guinness dá o posto para outro aqui, com Rod Stewart, que teria atraído 3,5 milhões". E talvez nem exista espaço para tanta gente.
O "Sunday Times" contornou o problema falando em "maior festa de praia do mundo". Jagger foi mais simples, "a melhor festa do mundo".
 
A blogosfera andou pelo Rio -e não apenas no camarote com a revoada de políticos e jornalistas de Brasília. Sites como StonesLand, blogs como Philipinas e muitas imagens de câmeras de trânsito deram o tom. Sem falar das fotos no Flickr e da transmissão na AOL.
Tiago Dória, no iG, e outros blogueiros se revoltaram com a transmissão atrasada da Globo.

Lá e cá
De um lado, a Anistia Internacional trazia, em seus sites, texto intitulado "A decisão do Carandiru: choque para a comunidade de direitos humanos".
De outro, o britânico "Independent on Sunday", em sua manchete, anunciava as "acusações contra a polícia no tiroteio do metrô", vale dizer, na morte do brasileiro Jean Charles. Serão só por "obstrução de justiça". Nada do assassinato.

Risco Brasil
Enquanto tucanos se debatem e Lula se reúne com Bono, surge uma sombra -ao menos para os investidores estrangeiros, em debate nos EUA.
No título da Associated Press, "Investidores deviam focar mais as eleições brasileiras". Não por Lula, mas pelo "esquerdista" Anthony Garotinho, que talvez nem tenha chance de se eleger, mas "pode mudar o equilíbrio no nível parlamentar".


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