São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

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SÃO FRANCISCO

Bispo retoma protesto contra obras e entrega carta a Lula

Jamil Bittar - 6.out.05/Reuters
D. Luís Cappio, que jejuou contra a transposição do São Francisco


LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O bispo de Barra (BA), d. Luís Cappio, vai retomar logo após Carnaval os protestos contra as obras de transposição do rio São Francisco. Na quinta-feira, o próprio religioso vai protocolar no Palácio do Planalto uma carta em que pede a reabertura do diálogo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a obra e critica o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo projeto.
O documento deve ser um novo obstáculo às pretensões do governo de publicar após o Carnaval os editais e iniciar as obras, uma das metas de Lula para o segundo mandato.
Em 2005, d. Luís fez greve de fome durante 10 dias (de 26 de setembro a 6 de outubro) contra a transposição. O bispo disse que levaria o gesto até a morte, se necessário.
A greve constrangeu o governo federal. O então ministro das Relações Institucionais e hoje governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), teve de pedir pessoalmente a d. Luís que encerrasse o protesto, sob o argumento de que o presidente estava disposto a ouvi-lo. Dois meses depois, Lula recebeu o religioso no Palácio do Planalto.
O governo, contudo, deu andamento ao projeto, apesar do aceno ao bispo. D. Luís ficou irritado. Disse que Lula "se tornou refém do capital, foi seqüestrado e hoje é um instrumento do capital internacional". "Que ele volte a olhar para o povo", disse.
Após o encontro no Planalto, o bispo declarou que a reunião deu "início à participação da sociedade na discussão" e amenizou o tom das críticas. A batalha saiu da igreja e foi aos tribunais.
A Justiça concedeu ao longo do ano uma série de liminares contra a transposição a grupos ambientalistas que pedem a paralisação do projeto. Mas, no final de 2006, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou as medidas.
A história ganhou novo capítulo na semana passada. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ao STF que reconsidere a decisão.

Carta
O principal alvo da carta do bispo será o Ministério da Integração Nacional, que coordena as obras, orçadas inicialmente em R$ 4,5 bilhões. D. Luís reconhecerá a sensibilidade de Lula para obedecer o que foi pactuado quando encerrou o jejum, ao se comprometer a negociar os termos do projeto.
Porém, o bispo acrescentará em seu protesto que "há setores do governo que agem na contramão do que foi acordado, optando pelo silêncio com os movimentos sociais que criticam a transposição". "Não pode ser ser um diálogo feito a quatro paredes, todos têm que participar", disse o bispo.


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