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PT aprova documento final com diretrizes à esquerda
Cúpula do partido afirma que texto é "genérico" e ainda será discutido e alterado
Documento, que toca em pontos polêmicos, servirá de base inicial para o programa de governo da candidatura de Dilma à Presidência
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DAS ENVIADAS A BRASÍLIA
O 4º Congresso Nacional do
PT, que hoje oficializará a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para a corrida ao Palácio do
Planalto, aprovou ontem um
documento final que radicaliza
propostas do partido em áreas
sensíveis, como reforma agrária, imprensa e o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos.
Agora, compromisso com a
redução da jornada de trabalho,
taxação de grandes fortunas,
avanços na reforma agrária e
combate ao "monopólio" da
imprensa, entre outros pontos,
fazem parte das diretrizes da
campanha petista.
O texto é a base preliminar
do plano de governo da candidata. Nos bastidores, porém, os
dirigentes petistas afirmam
que as alterações, que afagam a
ala mais à esquerda da legenda,
têm o objetivo de aumentar a
coesão interna para a festa de
hoje. Ou seja, devem ser ignoradas ou diluídas após serem submetidas à própria candidata e
aos partidos aliados.
A cúpula do PT diz que não se
trata de uma guinada à esquerda. "Vou falar pela milésima
vez: essas são apenas diretrizes,
que serão submetidas à candidata, à sociedade e aos partidos
aliados", afirmou José Eduardo
Dutra, que ontem assumiu o
comando do partido.
"O programa de diretrizes é
algo o mais genérico possível,
ainda precisam ser ouvidos a
candidata, os aliados e setores
da sociedade, como sindicatos e
empresários", disse Ricardo
Berzoini, que deixou a presidência da legenda.
O debate de ontem sobre as
emendas ao texto -submetidas
a um plenário de cerca de 1.300
delegados- contrariou a tradição de longas discussões. As
propostas eram aprovadas ou
rejeitadas após curtos encaminhamentos de cinco minutos
cada um, quando muito. Tudo
para seguir o script da "unidade
partidária" em torno de Dilma.
A primeira das emendas
aprovadas foi a que substitui o
texto que falava na construção
de "consenso para lograr a jornada de trabalho de 40 horas"
para outro que prega "compromisso" com as 40 horas (hoje a
jornada é de 44 horas semanais), sem redução de salário.
Logo após, os delegados
aprovaram a adoção pelo novo
governo de medidas para "combater o monopólio dos meios
eletrônicos de informação, cultura e entretenimento".
Também foram incorporadas às diretrizes a tributação
sobre grandes fortunas, o apoio
incondicional ao 3º Programa
Nacional de Direitos Humanos
e a determinação de que as Forças Armadas devem respeitar a
diversidade homoafetiva.
No campo agrário, os delegados petistas incluíram, em uma
única emenda, diferentes pautas do campo não cumpridas
após promessas do presidente
Lula, entre as quais a atualização dos índices de produtividade, a ampliação do controle sobre a compra de terras por estrangeiros e a revogação de medida provisória editada no governo FHC que exclui da lista
de assentados aqueles que participem de invasões de terra.
Apesar do afago à esquerda,
os petistas rejeitaram algumas
teses "pop" do setor, como a
que previa a retomada do monopólio do petróleo.
Não houve discussão, com
base em um pré-acordo entre
as alas petistas, sobre a manutenção da política macroeconômica -em junho de 2002, o então candidato Lula lançou uma
"Carta aos Brasileiros", com
compromisso de moderação na
economia, com o objetivo de
acalmar o mercado financeiro.
Hoje Lula e Dilma encerrarão o evento pela manhã. À noite, o cantor Jorge Ben Jor fará
um show. O congresso teve custo divulgado de R$ 6,5 milhões.
Na discussão das emendas ao
texto, Dutra e o coordenador
do programa de Dilma, o assessor especial da Presidência
Marco Aurélio Garcia, fizeram
críticas à oposição.
"Não estamos propondo re-estatizar nada. Estamos propondo que esses organismos
sejam fortalecidos. Se a oposição é contra, ela tem que dizer
claramente qual é a posição dela. Quando a gente disser que
eles querem privatizar, não venham dizer que eu estou fazendo terrorismo", disse Dutra sobre as diretrizes que propõem o
fortalecimento do Estado.
Marco Aurélio fez crítica indireta às gestões do PSDB e do
DEM em São Paulo. Segundo
ele, o novo governo não poderá
ficar de braços cruzados "assistindo às enchentes que penalizam as populações em São Paulo e em outras cidades do país".
(ANA FLOR, EDUARDO SCOLESE, MALU DELGADO, RANIER BRAGON e VALDO CRUZ)
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