São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Lacerda muda versão sobre uso de agentes da Abin na Satiagraha

Ex-diretor-geral da agência diz que não sabia da atuação de espiões de SP e RJ; antes, havia dito que participação da Abin foi "eventual'

Para tentar descolar sua imagem da de Protógenes, ele diz que delegado usou "estilo próprio" de trabalho e não lhe informava detalhes

ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Paulo Lacerda apresentou nova versão para explicar a participação informal de cerca de 80 agentes de inteligência nas investigações que culminaram na Operação Satiagraha, considerada "ilegal" e "oculta" pela corregedoria da PF.
Em depoimento à corregedoria na segunda, ele disse que não sabia que equipes da Abin em São Paulo e no Rio colaboravam com o delegado Protógenes Queiroz. Lacerda sustenta que só sabia da participação de agentes em Brasília e, por isso, disse à CPI dos Grampos em 2008 que "entre quatro e seis agentes" haviam sido cedidos.
No depoimento à CPI, um mês depois de deflagrada a Satiagraha, Lacerda afirmou que a Abin teve "participação eventual". Hoje, sabe-se que agentes eram maioria na equipe de Protógenes e analisavam escutas, entre outros dados sigilosos.
"Mais do que nunca, ele deve ser indiciado", disse o presidente da CPI dos Grampos, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), que defende que a comissão sugira indiciamento do delegado e do ex-número dois da Abin José Milton Campana, sob a acusação de falso testemunho.
Confrontado com a descoberta de que Protógenes usou métodos ilegais, Lacerda procurou descolar sua imagem da dele. Disse que Protógenes foi escolhido para comandar a operação (Lacerda era então diretor-geral da PF) "porque ele não tinha qualquer missão". Com isso, tenta desconstruir versão corrente na PF pela qual Protógenes tem sua confiança.
Lacerda disse que Protógenes "adotou estilo próprio", e que não "reportava" a ele as descobertas da investigação. Afirmou ainda que Protógenes "talvez seja o delegado mais fechado" que conheceu.
O ex-diretor-geral da Abin também alterou versão dada anteriormente ao admitir que examinou relatório da Satiagraha, um "calhamaço impresso, cerca de 30 e poucas páginas", que lhe foi entregue pelo agente Márcio Seltz.
À CPI Seltz disse que entregou a Lacerda um pen drive com parte dos grampos da Satiagraha. À época, Lacerda declarou que se encontrou com Seltz, mas que o documento não foi lido nem entregue a ele.

Tarso
Questionado sobre as viagens de Protógenes, o ministro Tarso Genro (Justiça) disse que os deslocamentos têm autorização da direção geral da PF. A corregedoria da PF indiciou o delegado sob acusação de vazamento de dados da Satiagraha e por ferir a Lei de Interceptações ao escalar agentes para degravar e analisar grampos.
Protógenes tem viajado para dar palestras, algumas a convite do PSOL. "Se vai mudar ou não essa liberalidade em relação ao delegado, vai ser resolvido a partir de agora com indiciamento e eventual abertura, se o diretor-geral determinar, de inquérito disciplinar", disse.


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