São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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CONGRESSO
Em nota à imprensa, deputado diz que praticou ato "espontaneamente, por mero gesto de amizade"
Borba assume "piano' e tenta livrar colega

e da Agência Folha, em Curitiba

O deputado José Borba (PTB-PR), 48, assumiu ontem a responsabilidade por ter votado em nome do deputado Valdomiro Meger (PFL-PR), 53, na sessão de votação da reforma da Previdência de anteontem.
A atitude do deputado favorece Meger. Teoricamente ele poderá dizer que não compactuou com a fraude e foi surpreendido com a atitude de Borba.
Em outra denúncia desse tipo o deputado Moisés Lipnik (PTB-RR) foi inocentado porque afirmou que desconhecia quem registrou o voto em seu lugar.
A diferença dos dois casos é que agora o autor foi flagrado, e a fraude não se limitou a uma votação.
Em nota à imprensa, Borba disse: "Pratiquei o ato espontaneamente, por mero gesto de amizade a meu colega (apesar de meu concorrente eleitoral), deputado Valdomiro Meger, o qual teve de ausentar-se de Brasília após ter permanecido em plenário até por volta das 15h".
Borba afirma que sua atitude não foi em troca de qualquer tipo de vantagem. "Nenhum interesse escuso ou reprovável animou meu gesto, muito menos comprometeu a referida sessão, cuja validade acha-se mantida", diz a nota.
O deputado termina pedindo desculpa à Câmara, à Mesa, aos colegas e à sociedade brasileira "pela falta cometida de cujas consequências negativas devo ser o único destinatário".
Ontem, Meger adiou entrevistas que havia marcado em Maringá (PR) pela manhã até as 17h, momento também marcado por Borba para divulgar sua nota.
Em nota, Meger afirmou que ficou "surpreso ao receber a notícia do ocorrido, porque a senha é sigilosa e de uso exclusivo do parlamentar". O deputado declara ainda que vai pedir a troca de sua senha e tomar mais cuidado nas próximas votações.
Pijama
Ainda vestindo pijama, às 8h de ontem, Borba bateu à porta do apartamento do líder do PTB, Paulo Heslander (MG). Ele contou que estava envolvido em episódio de fraude na votação da sessão do dia anterior e consultou o líder sobre a gravidade de seu ato.
"Isso é grave?", perguntou Borba, segundo relato de Heslander. O líder respondeu que ele perderia o mandato. Heslander iniciou então uma operação para verificar as decisões da Mesa da Câmara.
Interrompeu a reunião da Mesa para ver a fita gravada e dar seu parecer sobre o caso. Consultou também o líder do governo, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), antes de responder novamente a Borba que as provas contra ele eram irrefutáveis.
Borba também pediu auxílio ao deputado Vicente Cascione (PTB-SP). Às 11h, telefonou para o parlamentar perguntando se havia alguma forma de preservar seu mandato.
Borba passou o dia na casa do presidente do PTB, José Eduardo Andrade Vieira (PR).
"Disse a ele que não havia mais saída", afirmou Cascione, membro da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), etapa preliminar do processo de cassação.
O deputado Valdomiro Meger (PFL-PR) diz estar "surpreso, perplexo" com o fato de o deputado José Borba (PTB-PR) conhecer sua senha e ter votado em seu nome na sessão da Câmara de anteontem.
Meger disse que nunca revelou sua senha a outras pessoas. "Mas a senha é o mesmo número da carteira parlamentar. Eu posso ter esquecido o documento em algum lugar", disse.
O deputado afirmou que não conseguiu falar ontem com Borba para saber por que o parlamentar votou em seu nome.
Sobre a possível cassação de seu mandato ou a hipótese de renúncia ao mandato, Meger foi claro, dizendo que jamais vai renunciar.
Segundo Meger, ele e Borba, apesar de serem da mesma região (Maringá, no norte do Paraná) se conheceram em Brasília. Borba é o líder da bancada paranaense na Câmara.
(DENISE MADUEÑO e LUIZA DAMÉ e FLÁVIO ARANTES)


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