São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Tucano deixa liderança de FHC no Senado

Parlamentar classifica de temporário seu afastamento do posto, mas expectativa é que Arruda não volte mais ao cargo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador José Roberto Arruda (PSDB-DF) anunciou ontem seu afastamento do cargo de líder do governo no Senado, definindo-o como um "gesto de grandeza e desapego". Ele já era ex-líder do governo quando Regina Borges começou a pôr em xeque o álibi que exibira na véspera.
Arruda não foi mais visto no Senado, nem em sua casa, nem nos escritórios de seus advogados desde o início do depoimento de Regina Borges. De manhã, ele tentou minimizar seu isolamento, negando que o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha pedido sua renúncia.
"O presidente me apoiou muito. Não fui pressionado a deixar o cargo", disse. Arruda conversou com FHC na noite de quarta-feira, após seu discurso em plenário, e ontem pela manhã.
"A gente precisa ter desconfiômetro na vida", disse. Arruda ainda tentou vincular as denúncias contra ele ao Planalto. "Muito do que estou apanhando é por ser líder do governo. Não sou eu", afirmou. Tentando amenizar a gravidade de sua situação, Arruda classificou de temporário seu afastamento. Ele ainda pretende voltar ao posto ao final do processo.
Embora seu substituto, o senador Romero Jucá (PSDB-RR), primeiro vice-líder do governo, tenha calculado em cerca de "60 dias" o afastamento de Arruda, a expectativa no Senado é que ele não volte mais ao cargo.
Ontem, o tucano se recusou a responder perguntas referentes à violação do sistema eletrônico do Senado. Arruda afirmou que a ex-diretora do Prodasen Regina Célia Borges estava "inventando detalhes a cada dia". Antes de anunciar seu afastamento do cargo de líder, Arruda cometeu uma série de erros que aumentaram ainda mais seu isolamento.
Líderes tucanos criticam, por exemplo, o fato de ele ter feito um discurso técnico em sua defesa, na quarta-feira, dando detalhes de sua agenda no dia 27 de junho. Para os senadores, isso abriu brechas para ser contestado e deu a impressão de um álibi preparado.
Os tucanos achavam que Arruda não deveria nem ter discursado. Na opinião deles, o senador deveria ter aguardado que Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) se defendesse primeiro. Arruda faria apartes, mas se manteria em segundo plano.
De acordo com os tucanos, Arruda cometeu outro erro político grave: teve um início de atrito com ACM durante o seu discurso (ao dizer que ACM não lhe dava ordens), "descolando-se" do ex-presidente do Senado.
Ontem, Arruda voltou a se expor, quando chegou a bater boca com Eduardo Suplicy (PT-SP) no plenário. Suplicy fazia pronunciamento sobre o caso, citando a referência feita por Regina à presença de um filho de Arruda em seu apartamento, tocando um instrumento musical, quando foi feito o pedido para que o painel fosse violado.
"Não quero evocar questões familiares nessa coisa toda", reagiu.
A partir dali, Arruda foi aconselhado a ficar quieto pela cúpula tucana.


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