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ELEIÇÃO ENGESSADA
Em Natal (RN), tucano defende órgão extinto por FHC e retomada de projeto contra seca que não saiu do papel
Serra critica governo e quer Sudene de volta
RAYMUNDO COSTA
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
Tendo como discurso a defesa
da volta da extinta Sudene, o pré-candidato do PSDB à Presidência,
José Serra, começou ontem pelo
Rio Grande do Norte uma ofensiva para tentar fortalecer sua candidatura na região, onde ainda leva grande desvantagem em relação a adversários diretos na disputa. O discurso marcou mais
uma crítica ao atual governo.
Em Natal, onde PSDB e PMDB
estão coligados e não terão problemas com a verticalização das
eleições, Serra recebeu o apoio de
149 dos 167 prefeitos do Estado,
num comício ao qual compareceram cerca de mil pessoas. À tarde,
caminhou pelas ruas do centro da
cidade, abraçou eleitores, foi beijado, agarrado e teve de se desvencilhar de pedidos de dinheiro.
Não tinha um tostão nos bolsos.
Serra também prometeu retomar o projeto de perenização dos
rios da região, uma promessa do
presidente Fernando Henrique
Cardoso que não saiu do papel
-em julho de 2001, o governo
anunciou que desistia do projeto.
Mas com uma diferença: em vez
de transpor as águas do rio São
Francisco, prometeu a transposição das águas do rio Tocantins
para o São Francisco.
O pré-candidato tucano aproveitou a viagem a Natal para acentuar uma mudança de estilo registrada nas últimas semanas: criticar abertamente o que não concorda no atual governo. Há duas
semanas, foi a fórmula do aumento do preço da gasolina. Ontem, a
extinção da Sudene.
No comício, Serra disse que até
podia compreender a extinção da
Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) da
forma como ela ocorreu, no rastro das denúncias de corrupção
que atingiram sobretudo a Sudam
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). Mas não
concordava com ela. A Sudene foi
extinta em maio do ano passado.
"A prioridade é refazer a Sudene no âmbito que ela já tinha, mas
dentro de um projeto diferente de
canalização de incentivos, de recursos e de investimentos", disse.
No comício, realizado na sede
do América Futebol Clube, um
dos mais tradicionais de Natal, o
tucano disse que o economista
Celso Furtado, o criador da Sudene, fora fundamental em sua formação intelectual. E que -a
exemplo do economista, que nos
anos 60 deflagrou a "Operação
Nordeste"-, ele, se for eleito, lançará em seu governo a "Operação
Novo Nordeste".
Além da volta da Sudene, Serra
prometeu que um eventual governo seu terá uma coordenação forte para as áreas de incentivos fiscais, recursos do Banco do Nordeste e investimentos.
A "prioridade número um" da
"Operação Novo Nordeste" seriam as exportações. Serra aproveitou para criticar o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da
Silva: "Exportação ajuda o mercado interno. Há uma idéia equivocada, que uma vez o Lula expôs,
[segundo a qual" a exportação é
contraditória com o mercado interno. É errado", disse.
Serra negou que o governo tenha "enterrado" o projeto de
transposição do São Francisco. O
que houve, segundo o tucano, foram posições divergentes dentro
da própria região Nordeste, além
de problemas técnicos. Serra justificou o projeto com uma frase
que fez lembrar o Brasil do milagre econômico dos anos 70: "[A
transposição do Tocantins] traz
água de uma região que tem água
sobrando para outra que tem
água faltando". Ao justificar os
projetos de colonização da Amazônia, o general Médici dizia que
se tratava de dar terras sem homens para homens sem terras.
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