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REFÉM DA BASE
Pinguelli anuncia saída do cargo, reivindicado pelo partido
Governo cede ao PMDB e tira o presidente da Eletrobrás
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Eletrobrás, Luiz
Pinguelli Rosa, anunciou ontem
no Rio de Janeiro sua saída do
cargo, que ocupa desde janeiro de
2003. O motivo da demissão, segundo ele, foi a necessidade de o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva promover "uma composição
política" com o PMDB.
Pinguelli Rosa afirmou que soube da demissão na manhã de ontem. Primeiro, pela ministra de
Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Mais tarde, pelo ministro José
Dirceu (Casa Civil).
"Os dois falaram que o presidente precisou do cargo por causa
de negociações que estão em curso para a composição da base do
governo", disse Pinguelli, que foi
coordenador do programa de governo de Lula na área energética.
Deve ocupar o seu lugar o atual
presidente da Eletronorte (subsidiária da Eletrobrás), Silas Rondeau, embora o Ministério de Minas e Energia não confirme a indicação. Rondeau tem ligações com
o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que foi fundamental para evitar a instalação de
uma CPI do caso Waldomiro Diniz no Congresso.
A demissão teria sido acertada
na noite de quinta-feira, num jantar em Brasília entre Lula e a cúpula do PMDB, que cobrava indicações de cargos em estatais.
Pinguelli evitou atacar o presidente, de quem se diz amigo há 15
anos. Mas, fez uma crítica: "Eu
não tenho votos no Senado, mas
tenho bastante na área acadêmica". Foi uma reação a uma suposta declaração de Lula, que teria dito que gostava muito dele, mas
que ele não tinha voto no Senado.
Não há ainda uma data para a
troca de comando na estatal, que
só ocorrerá após uma assembléia
geral de acionistas convocada pelo Conselho de Administração.
Pinguelli Rosa disse que voltará a
dar aulas na Coppe (Coordenação
dos Programas de Pós-Graduação), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Cronologia"
Ele contou como foi a suposta
"cronologia" da sua demissão.
Começou em janeiro, quando ficou vaga a diretoria financeira da
estatal. Pinguelli Rosa queria um
nome e havia uma outra indicação política. Não houve acordo.
Ainda em janeiro, na semana da
reforma ministerial, ele disse ter
negado uma oferta feita por Dilma para a vaga de ministro especial da reforma universitária.
Pinguelli deixa o cargo com
uma vitória -a saída das empresas do grupo do PND (Programa
Nacional de Desestatização)- e
uma derrota -os critérios de
contabilidade do superávit primário da estatal não mudaram.
O superávit foi motivo de briga
com o secretário do Tesouro, Joaquim Levy. Pinguelli Rosa queria
que a meta de Itaipu, que contribuiu com US$ 1 bilhão em 2003,
fosse incorporada à da Eletrobrás.
Assim, sobrariam mais recursos
para investimentos.
Para 2004, o orçamento da estatal prevê investimentos de R$ 4,9
bilhões. Esse valor pode ser alterado, dependendo da meta de superávit, "que neste ano está difícil
de cumprir", segundo Pinguelli.
A Eletrobrás lucrou R$ 323 milhões em 2003. Influenciado pela
queda do dólar no ano passado, o
resultado é 70% menor do que o
de 2002: R$ 1,1 bilhão.
Pinguelli disse não estar feliz
com o desfecho, mas evita "personalizar" a discussão. "É difícil opinar numa entrevista quando você
é o objeto. Se ainda fosse objeto
sexual vá lá, mas objeto político?
Digo bem: objeto de mulher e não
do presidente da República."
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