São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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REFÉM DA BASE

Pinguelli anuncia saída do cargo, reivindicado pelo partido

Governo cede ao PMDB e tira o presidente da Eletrobrás

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, anunciou ontem no Rio de Janeiro sua saída do cargo, que ocupa desde janeiro de 2003. O motivo da demissão, segundo ele, foi a necessidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promover "uma composição política" com o PMDB.
Pinguelli Rosa afirmou que soube da demissão na manhã de ontem. Primeiro, pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Mais tarde, pelo ministro José Dirceu (Casa Civil).
"Os dois falaram que o presidente precisou do cargo por causa de negociações que estão em curso para a composição da base do governo", disse Pinguelli, que foi coordenador do programa de governo de Lula na área energética.
Deve ocupar o seu lugar o atual presidente da Eletronorte (subsidiária da Eletrobrás), Silas Rondeau, embora o Ministério de Minas e Energia não confirme a indicação. Rondeau tem ligações com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que foi fundamental para evitar a instalação de uma CPI do caso Waldomiro Diniz no Congresso.
A demissão teria sido acertada na noite de quinta-feira, num jantar em Brasília entre Lula e a cúpula do PMDB, que cobrava indicações de cargos em estatais.
Pinguelli evitou atacar o presidente, de quem se diz amigo há 15 anos. Mas, fez uma crítica: "Eu não tenho votos no Senado, mas tenho bastante na área acadêmica". Foi uma reação a uma suposta declaração de Lula, que teria dito que gostava muito dele, mas que ele não tinha voto no Senado.
Não há ainda uma data para a troca de comando na estatal, que só ocorrerá após uma assembléia geral de acionistas convocada pelo Conselho de Administração. Pinguelli Rosa disse que voltará a dar aulas na Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

"Cronologia"
Ele contou como foi a suposta "cronologia" da sua demissão. Começou em janeiro, quando ficou vaga a diretoria financeira da estatal. Pinguelli Rosa queria um nome e havia uma outra indicação política. Não houve acordo.
Ainda em janeiro, na semana da reforma ministerial, ele disse ter negado uma oferta feita por Dilma para a vaga de ministro especial da reforma universitária.
Pinguelli deixa o cargo com uma vitória -a saída das empresas do grupo do PND (Programa Nacional de Desestatização)- e uma derrota -os critérios de contabilidade do superávit primário da estatal não mudaram.
O superávit foi motivo de briga com o secretário do Tesouro, Joaquim Levy. Pinguelli Rosa queria que a meta de Itaipu, que contribuiu com US$ 1 bilhão em 2003, fosse incorporada à da Eletrobrás. Assim, sobrariam mais recursos para investimentos.
Para 2004, o orçamento da estatal prevê investimentos de R$ 4,9 bilhões. Esse valor pode ser alterado, dependendo da meta de superávit, "que neste ano está difícil de cumprir", segundo Pinguelli.
A Eletrobrás lucrou R$ 323 milhões em 2003. Influenciado pela queda do dólar no ano passado, o resultado é 70% menor do que o de 2002: R$ 1,1 bilhão.
Pinguelli disse não estar feliz com o desfecho, mas evita "personalizar" a discussão. "É difícil opinar numa entrevista quando você é o objeto. Se ainda fosse objeto sexual vá lá, mas objeto político? Digo bem: objeto de mulher e não do presidente da República."


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