São Paulo, segunda, 20 de abril de 1998

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VIAGEM PRESIDENCIAL
Acordo vai tentar dar mais visibilidade às produções cinematográficas brasileiras e espanholas
FHC vende indústria cultural na Espanha

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O presidente Fernando Henrique Cardoso inaugura na sua visita oficial à Espanha, que começa amanhã, um novo nicho na diplomacia de negócios, característica central de viagens presidenciais no mundo contemporâneo.
A principal vertente da visita será a indústria cultural, mais especificamente livros e filmes, duas áreas que passam por um bom momento tanto no Brasil como na Espanha, mas que raramente ganham espaço na agenda de visitas de chefes de Estado/governo.
A Espanha produz, hoje, cerca de 90 novos filmes por ano, uns 30 mais que o Brasil. A idéia do acordo a ser assinado durante a visita de FHC é unir as indústrias cinematográficas dos dois países, "para lhes dar economia de escala e melhores condições de concorrer com a indústria norte-americana", como diz Carlos García, o embaixador do Brasil em Madri.
Funciona mais ou menos assim: Brasil e Espanha passarão a vender seus filmes em pacotes conjuntos. Para aproveitar o prestígio comercial de, por exemplo, "O que é isso, companheiro?", indicado ao Oscar, a Espanha inclui alguns de seus filmes no pacote conjunto.
Vale o inverso para um filme de Pedro Almodóvar, o diretor espanhol de maior prestígio internacional, que será vendido junto com filmes brasileiros.
Na área do livro, o Brasil já é o maior mercado para a produção espanhola, claro que de títulos traduzidos para o português.
Agora, busca-se obter o mesmo sucesso para a produção brasileira. O governo, por meio da Biblioteca Nacional, dará dez bolsas de estudo por ano, durante dois ou três anos, para formar ou aperfeiçoar tradutores do português para o espanhol.
A tradução -e bem feita- é obviamente ponto preliminar para que um livro estrangeiro possa ser vendido em qualquer mercado.
As duas indústrias editoriais têm porte semelhante, na faixa de 35 mil a 40 mil títulos novos por ano, um filão comercial já atraente.
Tão atraente que os dois governos estão empenhados em fazer da América Latina uma zona de livre circulação de livros, sem, portanto, cobrança de impostos de importação.

Privatização
Mas, como é óbvio, a visita presidencial terá também uma vertente econômica tradicional: fazer propaganda do processo de privatização no Brasil, de forma a atrair investimentos espanhóis (e europeus em geral).
FHC queixou-se, na sua visita a Londres, que os britânicos estão investindo pouco na privatização brasileira, queixa que vale para todos os demais grandes da Europa.
Mas não vale para a Espanha: capitais espanhóis respondem pela segunda maior fatia de investimentos na compra de estatais brasileiras, atrás apenas dos EUA.
Firmas espanholas compraram 4,4% dos cerca de US$ 47 bilhões de ativos privatizados de 1991 a 1997 (os EUA ficaram com 17%).
A participação espanhola supera a soma de tudo o que França, Reino Unido, Itália e Alemanha investiram no processo.
Por fim, a visita terá, como quase sempre ocorre em viagens de FHC, o lado acadêmico. O presidente receberá título honorífico da Universidade de Salamanca, a segunda mais antiga da Europa.
O roteiro inclui ainda Santiago de Compostela, um dos maiores centros mundiais de peregrinação para os católicos. Mas não é o lado místico de quem já se disse ateu que leva FHC a Santiago. É uma espécie de tributo à Galícia, região em que fica a cidade e forneceu o maior número de espanhóis ou descendentes radicados no Brasil.
O galego, o idioma da Galícia, é uma espécie de pai do português.
Mas FHC não escapará, como não escapou em Londres ou na Itália, de manifestações em favor do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).
Doze organizações sociais, sob o guarda-chuva da central sindical "Comissões Operárias", promovem, na quarta-feira, um ato de protesto a favor da reforma agrária e contra a impunidade dos assassinos de trabalhadores e lideranças do movimento.



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