|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIAGEM PRESIDENCIAL
Acordo vai tentar dar mais visibilidade às produções cinematográficas brasileiras e espanholas
FHC vende indústria cultural na Espanha
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O presidente Fernando Henrique Cardoso inaugura na sua visita oficial à Espanha, que começa
amanhã, um novo nicho na diplomacia de negócios, característica
central de viagens presidenciais no
mundo contemporâneo.
A principal vertente da visita será a indústria cultural, mais especificamente livros e filmes, duas
áreas que passam por um bom
momento tanto no Brasil como na
Espanha, mas que raramente ganham espaço na agenda de visitas
de chefes de Estado/governo.
A Espanha produz, hoje, cerca
de 90 novos filmes por ano, uns 30
mais que o Brasil. A idéia do acordo a ser assinado durante a visita
de FHC é unir as indústrias cinematográficas dos dois países, "para lhes dar economia de escala e
melhores condições de concorrer
com a indústria norte-americana", como diz Carlos García, o
embaixador do Brasil em Madri.
Funciona mais ou menos assim:
Brasil e Espanha passarão a vender
seus filmes em pacotes conjuntos.
Para aproveitar o prestígio comercial de, por exemplo, "O que é isso, companheiro?", indicado ao
Oscar, a Espanha inclui alguns de
seus filmes no pacote conjunto.
Vale o inverso para um filme de
Pedro Almodóvar, o diretor espanhol de maior prestígio internacional, que será vendido junto
com filmes brasileiros.
Na área do livro, o Brasil já é o
maior mercado para a produção
espanhola, claro que de títulos traduzidos para o português.
Agora, busca-se obter o mesmo
sucesso para a produção brasileira. O governo, por meio da Biblioteca Nacional, dará dez bolsas de
estudo por ano, durante dois ou
três anos, para formar ou aperfeiçoar tradutores do português para
o espanhol.
A tradução -e bem feita- é obviamente ponto preliminar para que
um livro estrangeiro possa ser
vendido em qualquer mercado.
As duas indústrias editoriais têm
porte semelhante, na faixa de 35
mil a 40 mil títulos novos por ano,
um filão comercial já atraente.
Tão atraente que os dois governos estão empenhados em fazer da
América Latina uma zona de livre
circulação de livros, sem, portanto, cobrança de impostos de importação.
Privatização
Mas, como é óbvio, a visita presidencial terá também uma vertente econômica tradicional: fazer
propaganda do processo de privatização no Brasil, de forma a atrair
investimentos espanhóis (e europeus em geral).
FHC queixou-se, na sua visita a
Londres, que os britânicos estão
investindo pouco na privatização
brasileira, queixa que vale para todos os demais grandes da Europa.
Mas não vale para a Espanha: capitais espanhóis respondem pela
segunda maior fatia de investimentos na compra de estatais brasileiras, atrás apenas dos EUA.
Firmas espanholas compraram
4,4% dos cerca de US$ 47 bilhões
de ativos privatizados de 1991 a
1997 (os EUA ficaram com 17%).
A participação espanhola supera
a soma de tudo o que França, Reino Unido, Itália e Alemanha investiram no processo.
Por fim, a visita terá, como quase sempre ocorre em viagens de
FHC, o lado acadêmico. O presidente receberá título honorífico
da Universidade de Salamanca, a
segunda mais antiga da Europa.
O roteiro inclui ainda Santiago
de Compostela, um dos maiores
centros mundiais de peregrinação
para os católicos. Mas não é o lado
místico de quem já se disse ateu
que leva FHC a Santiago. É uma
espécie de tributo à Galícia, região
em que fica a cidade e forneceu o
maior número de espanhóis ou
descendentes radicados no Brasil.
O galego, o idioma da Galícia, é
uma espécie de pai do português.
Mas FHC não escapará, como
não escapou em Londres ou na
Itália, de manifestações em favor
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).
Doze organizações sociais, sob o
guarda-chuva da central sindical
"Comissões Operárias", promovem, na quarta-feira, um ato de
protesto a favor da reforma agrária e contra a impunidade dos assassinos de trabalhadores e lideranças do movimento.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|