São Paulo, terça, 20 de maio de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governador volta ao Brasil e nega envolvimento com o suposto esquema de venda de votos
Amazonino diz ser alvo de 'complô'

da Reportagem Local

O governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), 57, disse ontem estar sendo vítima de um "complô" de seus "inimigos de Manaus" no caso da suposta compra de votos. E deu os nomes: Serafim Corrêa (líder do PSB local) e Arthur Virgílio Neto (secretário-geral do PSDB e seu maior desafeto). Irritado e suando muito, Amazonino reuniu jornalistas ontem em um escritório do governo amazonense em São Paulo. Ele negou sua participação no esquema descrito pela gravação feita pelo "Senhor X" com o deputado Ronivon Santiago (sem partido-AC), publicado pela Folha na última terça-feira. Em conversa gravada, Ronivon disse ter recebido R$ 200 mil para votar pela reeleição e que esse dinheiro teria sido "marcado" por Amazonino Mendes. Já outro suspeito de ter vendido seu voto, o deputado João Maia (sem partido-AC), afirmou, também em conversa gravada, que os R$ 200 mil teriam sido repassados ao governador do Acre, Orleir Cameli (sem partido), pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, por intermédio de Amazonino. "Repilo terminantemente. Eu mal conheço esses deputados. Se conversei com eles três vezes durante toda a minha vida pública, foi muito. Não houve encontro com nenhum dos dois deputados", afirmou o governador, que chegou ontem de manhã ao Brasil após uma viagem de 16 dias à Rússia e à Ucrânia. "Tenho ainda a esperança de que essas gravações não sejam autênticas. Se forem, não há dúvida de que estamos diante de camicases caluniadores, suicidas caluniadores", disse. Amazonino Mendes negou também qualquer relação com o ministro Motta: "Nunca pisei no Ministério das Comunicações, apesar de ser um ministério extremamente importante. Nunca tive a menor intimidade com esse ministro. Eu sequer tenho pedidos junto ao ministro". O governador afirmou que está à disposição para ser ouvido, em Manaus, pela comissão de sindicância da Câmara dos Deputados que está apurando o caso. "Não estou me negando a depor. Estou pedindo à comissão que vá me ouvir em Manaus. Exijo, faço questão", afirmou. Disse ser contra prejulgamentos por conta das gravações, mas não quis comentar o fato de os deputados acreanos, que eram do PFL (partido de Amazonino), terem sido expulsos do partido de forma sumária. Amazonino Mendes negou também a existência de um acordo com o governador do Acre, Orleir Cameli, segundo o qual com o qual empresas da família de Cameli seriam contratadas para realizar obras no Amazonas e, em troca, empreiteiras de amigos de Amazonino ganhariam obras no Acre. A Marmud Cameli, da família do governador acreano, é suspeita de ter sido beneficiada. "Não tenho direito de impedir que a empresa Marmud Cameli ganhe uma licitação, se se habilita e ganha com decência, com seriedade", afirmou. Amazonino afirmou que nunca fez obras sem licitação, segundo aponta o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas. "Foi um erro do TCE", afirmou. Negou também ter interesse na Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Mas voltou a pedir a saída do superintendente Mauro Ricardo Machado Costa, que tem o apoio de Arthur Virgílio Neto. "Mas não estou indicando nomes. O importante, para o governo do Amazonas, é que haja consonância entre a Suframa e o governo. Porque a Suframa se confunde com o governo. O governo do Amazonas, em desacordo com a Suframa, é um governo fragilizado", disse. O controle da Suframa, com seus R$ 13 bilhões de faturamento anuais e cacife político inestimável, foi um dos principais objetivos de Amazonino ao dar seu apoio à emenda da reeleição. O governador, porém, afirmou que nunca vendeu seu apoio. "Apóio a reeleição porque a estabilidade econômica foi boa para o meu Estado", disse.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã