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DISPUTA NO CONGRESSO
Foram 303 votos a favor, 127 contra e 9 abstenções; para aprovação eram necessários 308 votos
Câmara barra reeleição de João Paulo e Sarney
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados rejeitou na noite de ontem a emenda
que permitiria a reeleição do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e do senador José Sarney
(PMDB-AP). Faltaram cinco votos para que a proposta fosse
aprovada. Foram 303 votos a favor, 127 contra e nove abstenções.
Para aprovar a emenda constitucional eram necessários 308 votos -60% da Casa. A divisão no
PMDB foi o principal fator da
queda da emenda, que abre uma
crise na base de apoio ao governo.
Dos 78 deputados do PMDB, 15
foram a favor da emenda; 43, contra; 13 não compareceram à votação; e sete se abstiveram.
João Paulo e Sarney culpam o
governo pela derrota e devem, a
partir de agora, criar dificuldades
para o Planalto.
O maior vitorioso da noite foi o
senador Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado, que
venceu o primeiro obstáculo para
sua pretensão de suceder Sarney
na presidência da Casa. Assim
que foi aberto o painel de votações confirmando a derrubada da
proposta, o líder, ao lado de senadores e deputados aliados que lotavam seu gabinete e acompanhavam a votação pela TV, gritaram:
"Perderam, perderam".
"Eu sempre tive muita confiança de que essa emenda não chegaria ao Senado. Agora, é ter humildade e juntar os cacos", disse Renan. Ele diz que irá "procurar todo mundo", até Sarney, para falar
sobre sua candidatura no Senado.
Ontem mesmo, aliados de Sarney admitiram a hipótese de o
presidente trocar de partido -o
PFL seria o mais provável- e articular a formação de um bloco
independente para lançar um terceiro nome, possivelmente o de
Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Há a possibilidade regimental
de o projeto ser votado novamente, mas, politicamente, isso é praticamente impossível.
Durante reunião em que tentou
angariar votos, João Paulo disse a
congressistas que os ministros do
PMDB estavam fazendo uso da
máquina para derrubar a emenda. Ele citou os nomes dos ministros Eunício Oliveira (Comunicações) e Amir Lando (Previdência), além do presidente do INSS,
Carlos Bezerra (PMDB). Aliados
de Renan acusavam João Paulo de
prometer privilégios regimentais
a integrantes do chamado "baixo
clero" da Casa, formado por deputados com atuação apagada.
João Paulo estava ressentido pelo fato de o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva não apoiar a reeleição publicamente. O governo não
quer tomar partido na briga com
Calheiros, para quem teria prometido apoio na sucessão de Sarney em troca da desistência de sua
candidatura à presidência do Senado no ano passado.
A decisão de votar a emenda foi
tomada no meio da noite com
margem apertada para aprovação. O raciocínio de João Paulo foi
o de que o anúncio da votação daria a impressão de que ele tinha
segurança da vitória e, assim, poderia intimidar votos contrários.
A insegurança era tal que João
Paulo assumiu a presidência da
Mesa por volta das 22h30 para
permitir que o vice-presidente
Inocêncio Oliveira (PFL-PE), que
comandou a sessão, votasse.
Apesar da neutralidade oficial
do governo, os ministros trabalharam por cada um dos lados. Os
do PMDB operaram a favor de
Calheiros, e José Dirceu (Casa Civil) entrou em campo ligando para pedir votos a favor da reeleição.
João Paulo teria dito que os três
ministros peemedebistas estavam
ligando para deputados oferecendo nomeações nos ministérios
para votarem contra a reeleição e
coagindo congressistas com
ameaças de retirar indicações.
A emenda acabou levando à divisão não só do PMDB, mas de vários partidos. O PPS orientou voto
contrário, assim como o PSDB.
PC do B e PFL liberaram seus deputados. Apesar disso, a tendência dos partidos era de divisão.
Na disputa por apoio, 23 deputados da bancada ruralista fecharam ontem com Calheiros. Um
dos motivos seriam projetos de
seu interesse que não andam devido à pressão de Sarney Filho
(PV-MA), apoiado por João Paulo. Calheiros prometeu que, se for
eleito presidente do Senado, todos esses projetos vão andar.
(FK, RB, RC e KA)
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