São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006

Governador de São Paulo diz que pagaria ligação a cobrar para candidato à Presidência e que postulante tucano ao Estado não lhe ligou por amnésia

Lembo reitera crítica e ironiza Alckmin e Serra

DA REDAÇÃO

Cláudio Lembo, governador de São Paulo, elevou ontem o tom das críticas a Geraldo Alckmin, José Serra e à "burguesia muito má". É o segundo dia seguido em que critica os tucanos. A primeira vez foi em entrevista à Folha, publicada na quinta-feira.
Lembo declarou ontem à revista eletrônica "Terra Magazine" que Serra, pré-candidato ao governo de São Paulo, pode não ter ligado a ele por "problema de amnésia", que pagaria uma ligação a cobrar feita por Alckmin, pré-candidato à Presidência, se houvesse, e que o PFL precisa tomar um "choque de realidade". Lembo também disse que ficou constrangido com os "maus conselhos" que recebeu de "setores antigos de São Paulo, que queriam que eu radicalizasse [contra os criminosos]".
Na entrevista, o governador também repetiu o que dissera à Folha- "nós temos uma burguesia muito má- e se queixou das pessoas que pediram a ele que fosse duro contra os criminosos durante a crise da segurança pública em São Paulo. Leia, abaixo, trechos da entrevista à "Terra Magazine" (no ar desde ontem), realizada na quinta-feira à noite.

Pergunta - O sr. apanhou por quatro, cinco dias, poderosamente. Qual foi o instante em que decidiu: "bem, vamos abrir a tampa, mostrar o que tem dentro"?
Cláudio Lembo -
Eu fiquei muito constrangido com os maus conselhos que recebi [durante a crise da segurança em São Paulo]. (...) Diziam: "Você tem que aplicar a lei de talião, ser duro, olho por olho dente por dente". Isso seria uma violência, uma estupidez. (...)

Pergunta - O sr. usou, como adjetivos, "cínicos", "maus", ao referir-se à elite brasileira. De onde...
Lembo -
...à elite econômica, à pequena e alta burguesia. O que você ia me perguntar?

Pergunta - Onde é que o sr. guardava esse sentimento?
Lembo -
Na minha consciência profunda, foi uma catarse. (...)

Pergunta - Uma sociedade, pequeníssima parcela, que vive atrás de muros altos, grades...
Lembo -
...viajando ao exterior, trazendo os melhores vestidos.

Pergunta - "Vestidos" talvez não seja uma palavra muito adequada para ser usada neste Palácio [dos Bandeiras, sede do governo]...
Lembo -
Eu nunca me equivoco no que eu falo. Sempre penso antes de falar. (...)

Pergunta - O sr. disse que nestes dias o ex-governador Alckmin deu apenas dois telefonemas porque "o pulso telefônico está caro".
Lembo -
Muito caro, realmente.

Pergunta - E se o ex-governador ligasse a cobrar?
Lembo -
Eu pagaria.

Pergunta - O ex-prefeito Serra, candidato a sucedê-lo, telefonou?
Lembo -
Aí pode ser um problema de amnésia, eu compreendo. (...) Eu não sei o que está acontecendo. Talvez ele não tenha acesso a meios de comunicação brasileiros, e não viu, não assistiu. Ou não quis eventualmente se envolver em episódio tão amargo e triste. Quis se preservar. (...)

Pergunta - Que correlação que o sr. faria entre a vida carcerária e a do que chamou de burguesia?
Qual é a distância entre esses dois mundos?
Lembo -
São mundos tão diversos não? Eventualmente um mundo tem bons advogados e o outro mundo tem maus advogados. (...)

Pergunta - Depois de sua catarse, quem lhe procurou, quem telefonou ao sr.?
Lembo -
Ah, mas aí foi interessante. Eu não gosto da dicotomia direita, esquerda, mas aqueles que um dia foram de esquerda me telefonaram. Os da direita foram muito poucos. E os do centro, nenhum (risos). Me lembro do Alienista do Machado de Assis, a história famosa de uma aldeia, de uma cidade, onde todos eram considerados loucos pelo farmacêutico e ele internou todos. E no fim eles chegaram à conclusão de que louco era o farmacêutico. Eu sou o farmacêutico. (...) É bom que eles [burguesia] me achem louco porque daí não tem convívio comigo.(...)

Pergunta - Há quem diga que o sr. agora esta à esquerda da Heloísa Helena [senadora pelo partido de esquerda PSOL]...
Lembo -
A Heloísa Helena usa umas camisetas estranhas, coloridas. Eu continuo um pequeno burguês com roupas escuras, soberbas. Bem diferente. (...)

Pergunta - Quando o sr. (...) falou de conhaque de R$900 o preço de uma dose, não sei o porquê, vi alguns cardeais do PSDB jantando no restaurante Massimo. Não é lá o conhaque, mas eu estou enganado?
Lembo -
Não, eu também vi essa fotografia, que é muito simbólica.

Pergunta - Nessa foto estão o Tasso, o Fernando Henrique, o Serra... [Aécio Neves, governador de Minas Gerais, também estava no retrato] (...) Mas hoje eles estão em Nova York, basicamente.
Lembo -
É, e não conheço os restaurantes de Nova York. Só como hambúrguer em Nova York.


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