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ELEIÇÕES 2006
Governador de São Paulo diz que pagaria ligação a cobrar para candidato à Presidência e que postulante tucano ao Estado não lhe ligou por amnésia
Lembo reitera crítica e ironiza Alckmin e Serra
DA REDAÇÃO
Cláudio Lembo, governador de
São Paulo, elevou ontem o tom
das críticas a Geraldo Alckmin,
José Serra e à "burguesia muito
má". É o segundo dia seguido em
que critica os tucanos. A primeira
vez foi em entrevista à Folha, publicada na quinta-feira.
Lembo declarou ontem à revista
eletrônica "Terra Magazine" que
Serra, pré-candidato ao governo
de São Paulo, pode não ter ligado
a ele por "problema de amnésia",
que pagaria uma ligação a cobrar
feita por Alckmin, pré-candidato
à Presidência, se houvesse, e que o
PFL precisa tomar um "choque de
realidade". Lembo também disse
que ficou constrangido com os
"maus conselhos" que recebeu de
"setores antigos de São Paulo, que
queriam que eu radicalizasse
[contra os criminosos]".
Na entrevista, o governador
também repetiu o que dissera à
Folha- "nós temos uma burguesia muito má- e se queixou das
pessoas que pediram a ele que
fosse duro contra os criminosos
durante a crise da segurança pública em São Paulo. Leia, abaixo,
trechos da entrevista à "Terra Magazine" (no ar desde ontem), realizada na quinta-feira à noite.
Pergunta - O sr. apanhou por
quatro, cinco dias, poderosamente. Qual foi o instante em que decidiu: "bem, vamos abrir a tampa,
mostrar o que tem dentro"?
Cláudio Lembo - Eu fiquei muito
constrangido com os maus conselhos que recebi [durante a crise da
segurança em São Paulo]. (...) Diziam: "Você tem que aplicar a lei
de talião, ser duro, olho por olho
dente por dente". Isso seria uma
violência, uma estupidez. (...)
Pergunta - O sr. usou, como adjetivos, "cínicos", "maus", ao referir-se à elite brasileira. De onde...
Lembo - ...à elite econômica, à
pequena e alta burguesia. O que
você ia me perguntar?
Pergunta - Onde é que o sr. guardava esse sentimento?
Lembo - Na minha consciência
profunda, foi uma catarse. (...)
Pergunta - Uma sociedade, pequeníssima parcela, que vive atrás
de muros altos, grades...
Lembo - ...viajando ao exterior,
trazendo os melhores vestidos.
Pergunta - "Vestidos" talvez não
seja uma palavra muito adequada
para ser usada neste Palácio [dos
Bandeiras, sede do governo]...
Lembo - Eu nunca me equivoco
no que eu falo. Sempre penso antes de falar. (...)
Pergunta - O sr. disse que nestes
dias o ex-governador Alckmin deu
apenas dois telefonemas porque
"o pulso telefônico está caro".
Lembo - Muito caro, realmente.
Pergunta - E se o ex-governador
ligasse a cobrar?
Lembo - Eu pagaria.
Pergunta - O ex-prefeito Serra,
candidato a sucedê-lo, telefonou?
Lembo - Aí pode ser um problema de amnésia, eu compreendo.
(...) Eu não sei o que está acontecendo. Talvez ele não tenha acesso a meios de comunicação brasileiros, e não viu, não assistiu. Ou
não quis eventualmente se envolver em episódio tão amargo e triste. Quis se preservar. (...)
Pergunta - Que correlação que o
sr. faria entre a vida carcerária e a
do que chamou de burguesia?
Qual é a distância entre esses
dois mundos?
Lembo - São mundos tão diversos não? Eventualmente um mundo tem bons advogados e o outro
mundo tem maus advogados. (...)
Pergunta - Depois de sua catarse,
quem lhe procurou, quem telefonou ao sr.?
Lembo - Ah, mas aí foi interessante. Eu não gosto da dicotomia
direita, esquerda, mas aqueles
que um dia foram de esquerda me
telefonaram. Os da direita foram
muito poucos. E os do centro, nenhum (risos). Me lembro do Alienista do Machado de Assis, a história famosa de uma aldeia, de
uma cidade, onde todos eram
considerados loucos pelo farmacêutico e ele internou todos. E no
fim eles chegaram à conclusão de
que louco era o farmacêutico. Eu
sou o farmacêutico. (...) É bom
que eles [burguesia] me achem
louco porque daí não tem convívio comigo.(...)
Pergunta - Há quem diga que o sr.
agora esta à esquerda da Heloísa
Helena [senadora pelo partido de
esquerda PSOL]...
Lembo - A Heloísa Helena usa
umas camisetas estranhas, coloridas. Eu continuo um pequeno
burguês com roupas escuras, soberbas. Bem diferente. (...)
Pergunta - Quando o sr. (...) falou
de conhaque de R$900 o preço de
uma dose, não sei o porquê, vi alguns cardeais do PSDB jantando no
restaurante Massimo. Não é lá o conhaque, mas eu estou enganado?
Lembo - Não, eu também vi essa
fotografia, que é muito simbólica.
Pergunta - Nessa foto estão o Tasso, o Fernando Henrique, o Serra...
[Aécio Neves, governador de Minas
Gerais, também estava no retrato]
(...) Mas hoje eles estão em Nova
York, basicamente.
Lembo - É, e não conheço os restaurantes de Nova York. Só como
hambúrguer em Nova York.
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