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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O RETORNO
Para ex-presidente da sigla, partido "descuidou de bandeiras históricas" e não enfrentou a "informalidade na ação dos dirigentes"
Genoino critica PT e anuncia volta à política
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente do PT José Genoino, que se encontrava recolhido há quase um ano, anunciou
ontem seu retorno à atuação política. O anúncio foi feito por uma
"Carta aos petistas", publicada no
site do ex-parlamentar e também
no site oficial do PT nacional.
"Retorno à militância e à luta
política. Talvez menos ingênuo,
talvez mais experiente. Mas, com
certeza, mais calejado e mais animado. Com as esperanças e os sonhos de sempre. À luta. À vitória",
diz, no trecho final da carta.
Procurado pela Folha, Genoino
não quis se pronunciar. Por intermédio de seu advogado, Luiz Fernando Pacheco, ele disse que "a
carta fala por si só". Mesmo sem
explicitar que será candidato a deputado federal, Genoino dá sinais
de disposição para encarar a disputa e a volta à vida pública.
Dirigentes petistas disseram à
Folha que é grande a possibilidade dele ser candidato. O advogado
confirma: "Não há uma definição
100% sobre o assunto, mas ele ficou animado com a prévia estadual, em que o nome dele esteve
entre os mais votados (na sondagem feita entre filiados do PT do
Estado sobre os possíveis candidatos à Câmara e Assembléia)".
Na carta, Genoino faz uma análise da mais grave crise política
enfrentada pelo atual governo e
pelo PT e se exime de qualquer
responsabilidade em relação às finanças do partido. Ele revela que
ficou "exilado" dentro da própria
casa. Conforme relatos de amigos
do petista, Genoino passou por
um longo período depressivo.
Ele deixa claro que tanto a candidatura ao governo de São Paulo,
em 2002, quanto a tarefa de presidir o partido foram missões partidárias, contrárias à sua vontade.
"Abandonei uma carreira parlamentar vitoriosa para dedicar-me
a uma tarefa que não havia traçado", afirmou, referindo-se à campanha de 2002.
Genoino dá a entender que fez
um pacto com o PT para assumir
a presidência do partido. "O exercício da presidência [do PT] tinha
uma dimensão e um perfil eminentemente políticos. Em razão
desse entendimento, sempre explicitei perante o PT que minhas
tarefas não incluiriam a administração nem as finanças."
O ex-presidente do PT afirma
que aceita responder por seus erros políticos e equívocos partidários, mas se desvincula de ilegalidades cometidas pelo partido no
escândalo do mensalão e de vínculos com o publicitário Marcos
Valério de Souza.
"Fui citado no relatório da
CPMI [CPI dos Correios] e estou
sendo denunciado pelo Ministério Público pelo simples fato de
ter sido presidente nacional do
PT. Não existe nenhuma outra razão concreta que justifique a inclusão de meu nome nas denúncias", afirma o petista.
O erro do PT, segundo Genoino, foi transformar as eleições de
2004 nas metas prioritárias do
partido, com investimentos exagerados em marketing, shows e
materiais. Essa obsessão, segundo
ele, levou à formação de alianças
pragmáticas, "fora dos critérios e
perfil" do partido.
Para ele, o PT "descuidou de
bandeiras históricas", não trabalhou pela reforma política e não
enfrentou a "informalidade na
ação dos dirigentes". O PT, afirma, falhou na formulação de políticas que pudessem assegurar a
governabilidade. Já a mídia teve
atuação "monstruosa" e "desumana", comparável a um "Coliseu pós-moderno, tão sanguinário e horrendo quanto o romano".
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