São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cotado para Unesco, ministro egípcio nega antissemitismo

Candidato a diretor-geral apoiado pelo Brasil, Hosny admite relação tensa com Israel

Ministro da Cultura diz que frase de que ele queimaria livros em hebraico foi tirada de contexto; centro judaico enviou queixa à Unesco


CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

Pivô da controvérsia provocada pelo apoio do governo brasileiro a sua candidatura à direção geral da Unesco (a organização da ONU para a educação, a ciência e a cultura), o ministro da Cultura do Egito, Farouk Hosny, nega as acusações de antissemitismo, embora admita ter uma relação tensa com as autoridades de Israel.
"Se fosse antissemita, por que teria ido à cerimônia de lembrança do Holocausto que aconteceu há algumas semanas em Paris? Mas os israelenses estão sempre contra mim", disse Hosny à Folha no Rio, onde participa hoje e amanhã de um encontro de ministros da Cultura dos países árabes e da América do Sul.
O Egito foi um dos primeiros países a lançar candidatura à direção geral da Unesco, em 2007. O nome de Hosny, no ministério há 22 anos, parecia consolidado até maio do ano passado, quando ocorreu o episódio em que ele disse que queimaria livros em hebraico.
Hosny diz que suas palavras foram tiradas de contexto. Ele conta que foi interpelado em um corredor da Assembleia Nacional egípcia por um parlamentar do grupo islâmico Irmandade Muçulmana, que criticava a suposta presença de livros em hebraico no Centro Nacional de Tradução.
O ministro diz que negou o fato e, diante da insistência do parlamentar, afirma que respondeu: "Os livros estão em sua imaginação. Traga-os e eu os queimarei para você".
"O que disse não tinha nenhuma intenção de profundidade. É como quando se fala em francês "vá se queimar"."
Após o episódio, o Centro Simon Wiesenthal, dedicado à preservação da memória das vítimas do Holocausto, enviou carta ao diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, acusando Hosny de antissemitismo.
Em 1979, o Egito foi o primeiro país árabe a reconhecer Israel. Mas a relação entre os dois países é desconfortável, sobretudo devido à questão palestina. Durante o recente ataque israelense a Gaza, Hosny disse que era contrário à normalização das trocas culturais com o Estado judeu.
"Como normalizar as trocas culturais quando todo mundo se ataca? A normalização não é uma decisão política, é da sociedade", afirmou.
Depois da polêmica, mais seis países lançaram pré-candidaturas à direção da Unesco -que desde sua criação, há 64 anos, nunca teve árabes nem europeus do Leste na posição. O Camboja lançou um argelino, possível sinal indireto de divisão entre os países árabes.
Antes de o Itamaraty apoiar Hosny, em nome da aproximação geopolítica gestada desde a primeira Cúpula América do Sul - Países Árabes, em 2005, o brasileiro Márcio Barbosa acreditava que poderia surgir como alternativa com apoio de americanos e europeus.
Ontem, a Folha não conseguiu falar com Barbosa, que foi presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no governo de Fernando Henrique Cardoso e há oito anos é adjunto de Matsuura na Unesco, onde chegou por concurso. Mas ele já criticou a decisão do Itamaraty.
O prazo para a inscrição das candidaturas é 31 de maio. Somente países podem fazê-lo, portanto Barbosa teria que concorrer sob outra bandeira. A eleição, feita numa primeira etapa pelos 58 membros do Conselho Executivo da organização, acontece em setembro.
Em outubro, o nome do escolhido será apresentado à Conferência Geral de 193 países. Hosny afirma contar com cerca de 30 votos no Conselho Executivo. Na América Latina, além do Brasil, cita os apoios de Cuba e do Chile.


Texto Anterior: Investigação: Polícia Legislativa do Senado indicia ex-diretor Zoghbi
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.