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Cotado para Unesco, ministro egípcio nega antissemitismo
Candidato a diretor-geral apoiado pelo Brasil, Hosny admite relação tensa com Israel
Ministro da Cultura diz que frase de que ele queimaria livros em hebraico foi tirada de contexto; centro judaico enviou queixa à Unesco
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Pivô da controvérsia provocada pelo apoio do governo brasileiro a sua candidatura à direção geral da Unesco (a organização da ONU para a educação,
a ciência e a cultura), o ministro
da Cultura do Egito, Farouk
Hosny, nega as acusações de
antissemitismo, embora admita ter uma relação tensa com as
autoridades de Israel.
"Se fosse antissemita, por
que teria ido à cerimônia de
lembrança do Holocausto que
aconteceu há algumas semanas
em Paris? Mas os israelenses
estão sempre contra mim", disse Hosny à Folha no Rio, onde
participa hoje e amanhã de um
encontro de ministros da Cultura dos países árabes e da
América do Sul.
O Egito foi um dos primeiros
países a lançar candidatura à
direção geral da Unesco, em
2007. O nome de Hosny, no
ministério há 22 anos, parecia
consolidado até maio do ano
passado, quando ocorreu o episódio em que ele disse que
queimaria livros em hebraico.
Hosny diz que suas palavras
foram tiradas de contexto. Ele
conta que foi interpelado em
um corredor da Assembleia
Nacional egípcia por um parlamentar do grupo islâmico Irmandade Muçulmana, que criticava a suposta presença de livros em hebraico no Centro
Nacional de Tradução.
O ministro diz que negou o
fato e, diante da insistência do
parlamentar, afirma que respondeu: "Os livros estão em
sua imaginação. Traga-os e eu
os queimarei para você".
"O que disse não tinha nenhuma intenção de profundidade. É como quando se fala
em francês "vá se queimar"."
Após o episódio, o Centro Simon Wiesenthal, dedicado à
preservação da memória das
vítimas do Holocausto, enviou
carta ao diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, acusando Hosny de antissemitismo.
Em 1979, o Egito foi o primeiro país árabe a reconhecer
Israel. Mas a relação entre os
dois países é desconfortável,
sobretudo devido à questão palestina. Durante o recente ataque israelense a Gaza, Hosny
disse que era contrário à normalização das trocas culturais
com o Estado judeu.
"Como normalizar as trocas
culturais quando todo mundo
se ataca? A normalização não é
uma decisão política, é da sociedade", afirmou.
Depois da polêmica, mais
seis países lançaram pré-candidaturas à direção da Unesco
-que desde sua criação, há 64
anos, nunca teve árabes nem
europeus do Leste na posição.
O Camboja lançou um argelino, possível sinal indireto de
divisão entre os países árabes.
Antes de o Itamaraty apoiar
Hosny, em nome da aproximação geopolítica gestada desde a
primeira Cúpula América do
Sul - Países Árabes, em 2005, o
brasileiro Márcio Barbosa
acreditava que poderia surgir
como alternativa com apoio de
americanos e europeus.
Ontem, a Folha não conseguiu falar com Barbosa, que foi
presidente do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) no governo de Fernando
Henrique Cardoso e há oito
anos é adjunto de Matsuura na
Unesco, onde chegou por concurso. Mas ele já criticou a decisão do Itamaraty.
O prazo para a inscrição das
candidaturas é 31 de maio. Somente países podem fazê-lo,
portanto Barbosa teria que
concorrer sob outra bandeira.
A eleição, feita numa primeira
etapa pelos 58 membros do
Conselho Executivo da organização, acontece em setembro.
Em outubro, o nome do escolhido será apresentado à
Conferência Geral de 193 países. Hosny afirma contar com
cerca de 30 votos no Conselho
Executivo. Na América Latina,
além do Brasil, cita os apoios de
Cuba e do Chile.
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