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entrevista
"Meu objetivo é a paz das ideias", afirma egípcio
DA SUCURSAL DO RIO
Pintor abstrato, o ministro Farouk Hosny, 71, se
define como um muçulmano laico, pela separação
entre religião e Estado. À
Folha afirmou que é o inimigo número um dos fundamentalistas religiosos
em seu país.
(CA)
FOLHA - Uma das críticas a
sua candidatura a diretor da
Unesco se refere ao fato de o
senhor pertencer há mais de
20 anos a um governo ditatorial. Como o senhor responde?
HOSNY - Quando falamos
de ditadura, qual o modo
de operação? Pôr na prisão
todos os que falam mal do
governo. No Egito somos
atacados pelo Parlamento,
há jornais que atacam o
presidente, os ministros.
Sou ministro há 20 anos
porque há tarefas a cumprir. O ministério tem 85
mil funcionários. Construí
museus em todo o Egito.
Só havia sete bibliotecas, e
agora há mais de cem.
Houve democratização da
cultura. Digo que é preciso
não politizar a cultura,
mas educar a política.
FOLHA - O senhor criou polêmica ao criticar o uso do véu.
Como interpreta o crescimento do islã político no Egito?
HOSNY - Sou seu inimigo
número um. Sou contra
obrigar as meninas a usar
o véu. É um crime contra a
infância.
FOLHA - Qual o seu programa
para a Unesco?
HOSNY - O que acho que
faz falta é uma ênfase
maior na cultura, que ligue
as missões de educação,
patrimônio, informação,
que dê mais vida à organização. As atividades culturais podem financiar os
demais setores.
Fala-se também em
aliança de civilizações. Como aplicar isso? Por meio
do intercâmbio cultural.
Se eu estiver à frente da
Unesco, como árabe, muçulmano, egípcio, podemos fazer uma ponte para
a tolerância. Posso convidar os intelectuais árabes
a debater, inclusive com os
israelenses. Meu objetivo
será a paz das ideias.
FOLHA - O senhor concorda
com a ideia de que o fundamentalismo vem da pobreza?
HOSNY - Bin Laden era
muito rico. É a influência
sobre o pensamento que
faz o fundamentalismo.
Sempre houve pobres, e
por que hoje [há mais fundamentalismo]? Porque
há alguém que os levou a
essa direção, e muitas vezes foram os ricos islamistas, com seu dinheiro.
FOLHA - O senhor está otimista quanto à paz entre Israel
e os palestinos?
HOSNY - Sim. Acho que [o
presidente Barack] Obama conduzirá essa questão
de maneira justa, e com a
justiça virá a solução.
FOLHA - Para a normalização
da região, o que é vital?
HOSNY - A paz, Palestina e
Israel, dois países um ao
lado do outro. Nesse caso,
serei o primeiro a fazer a
normalização.
FOLHA - Segundo jornais israelenses, o senhor disse que
Israel gostaria de roubar a cultura egípcia. Como explica?
HOSNY - Eles disseram
que foram os israelenses
que construíram as pirâmides. Eu perguntei: se as
construíram, por que não
o fizeram em sua casa?
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