São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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entrevista

"Meu objetivo é a paz das ideias", afirma egípcio

DA SUCURSAL DO RIO

Pintor abstrato, o ministro Farouk Hosny, 71, se define como um muçulmano laico, pela separação entre religião e Estado. À Folha afirmou que é o inimigo número um dos fundamentalistas religiosos em seu país. (CA)

 

FOLHA - Uma das críticas a sua candidatura a diretor da Unesco se refere ao fato de o senhor pertencer há mais de 20 anos a um governo ditatorial. Como o senhor responde?
HOSNY
- Quando falamos de ditadura, qual o modo de operação? Pôr na prisão todos os que falam mal do governo. No Egito somos atacados pelo Parlamento, há jornais que atacam o presidente, os ministros.
Sou ministro há 20 anos porque há tarefas a cumprir. O ministério tem 85 mil funcionários. Construí museus em todo o Egito. Só havia sete bibliotecas, e agora há mais de cem. Houve democratização da cultura. Digo que é preciso não politizar a cultura, mas educar a política.

FOLHA - O senhor criou polêmica ao criticar o uso do véu. Como interpreta o crescimento do islã político no Egito?
HOSNY
- Sou seu inimigo número um. Sou contra obrigar as meninas a usar o véu. É um crime contra a infância.

FOLHA - Qual o seu programa para a Unesco?
HOSNY
- O que acho que faz falta é uma ênfase maior na cultura, que ligue as missões de educação, patrimônio, informação, que dê mais vida à organização. As atividades culturais podem financiar os demais setores.
Fala-se também em aliança de civilizações. Como aplicar isso? Por meio do intercâmbio cultural. Se eu estiver à frente da Unesco, como árabe, muçulmano, egípcio, podemos fazer uma ponte para a tolerância. Posso convidar os intelectuais árabes a debater, inclusive com os israelenses. Meu objetivo será a paz das ideias.

FOLHA - O senhor concorda com a ideia de que o fundamentalismo vem da pobreza?
HOSNY
- Bin Laden era muito rico. É a influência sobre o pensamento que faz o fundamentalismo. Sempre houve pobres, e por que hoje [há mais fundamentalismo]? Porque há alguém que os levou a essa direção, e muitas vezes foram os ricos islamistas, com seu dinheiro.

FOLHA - O senhor está otimista quanto à paz entre Israel e os palestinos?
HOSNY
- Sim. Acho que [o presidente Barack] Obama conduzirá essa questão de maneira justa, e com a justiça virá a solução.

FOLHA - Para a normalização da região, o que é vital?
HOSNY
- A paz, Palestina e Israel, dois países um ao lado do outro. Nesse caso, serei o primeiro a fazer a normalização.

FOLHA - Segundo jornais israelenses, o senhor disse que Israel gostaria de roubar a cultura egípcia. Como explica?
HOSNY
- Eles disseram que foram os israelenses que construíram as pirâmides. Eu perguntei: se as construíram, por que não o fizeram em sua casa?


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