São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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SANTO ANDRÉ

Irmão de Celso Daniel depõe e acusa formação de caixa para fins eleitorais

Denúncia aponta esquema de propina em gestão do PT

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários Sérgio Gomes da Silva e Ronan Maria Pinto e o ex-secretário de Transportes de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza, foram acusados do crime de formação de quadrilha, com o propósito de extorquir dinheiro de empresários para financiar campanhas eleitorais do PT (Partido dos Trabalhadores).
Em depoimento prestado ao Ministério Público do Estado de São Paulo, João Francisco Daniel, irmão do ex-prefeito Celso Daniel, assassinado em janeiro, afirmou ter conhecimento de que os recursos eram entregues ao presidente do PT, José Dirceu (SP). Procurado pela Folha, o deputado informou, por meio de sua assessoria, que não se pronunciaria ontem sobre o caso (leia ao lado).
O Ministério Público estadual ofereceu denúncia ao juiz da 1ª Vara Criminal de Santo André, Iassin Issa Amhed, em que também são acusados do mesmo crime Humberto Tarcísio de Castro, Irineu Nicolino Marin Bianco e Luiz Marcondes de Freitas Júnior.
A denúncia narra que, em 1997, um dos sócios da Viação São José, Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho, participou de reunião com Klinger, então secretário de Transportes, e Sérgio Gomes, quando lhe foi exigido o pagamento mensal de cerca de R$ 40 mil, "sob pena de severas restrições administrativas".
Em outra ocasião, entre fevereiro e março de 2001, ainda segundo a denúncia, Klinger "teria exigido, para si e para outrem", em razão de sua função de secretário de Serviços Municipais, "vantagem patrimonial indevida de Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho, Rosângela Gabrilli e Sebastião Passarelli", em prejuízo da empresa.
O Ministério Público calcula que, entre o final de 1997 e o final de 2001, os denunciados exigiram e receberam do sócio da Viação São José cerca de R$ 2 milhões.
Ainda segundo a denúncia, "o ex-prefeito Celso Daniel tinha ciência de que parte dos recursos arrecadados pelo grupo era destinado a campanhas eleitorais".
No depoimento à Promotoria de Justiça, o médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito Celso Daniel, afirmou ter tomado conhecimento de que empresas contratadas pela prefeitura desviavam recursos para o PT.
Francisco Daniel afirmou ter sabido pela ex-mulher do prefeito, Míriam Belchior, que os recursos eram levados, em espécie, para José Dirceu, e seriam destinados à campanha eleitoral de São Paulo e para a futura campanha nacional do partido.
Segundo o depoimento, o esquema era liderado por Sérgio Gomes, Ronan e Klinger.
Sérgio Gomes era amigo de Celso Daniel e dirigia a Pajero por ocasião do sequestro do prefeito. Na época das investigações sobre o crime, a Folha noticiou que o episódio poderia trazer à tona investigações sigilosas sobre esquemas de levantamento de recursos em prefeituras petistas.
Ainda segundo o depoimento de seu irmão, Celso Daniel teria conhecimento do esquema, tolerando-o porque a arrecadação destinava-se a campanhas políticas. Ele teria afirmado que tomaria providências ao ser informado de que os recursos também estariam servindo para enriquecimento pessoal dos acusados.
A denúncia, assinada por nove promotores de Justiça, encabeçada pelo promotor Roberto Wider Filho, foi protocolada ontem à tarde. O procedimento administrativo que apurou os fatos tramitou em segredo de Justiça.
Segundo a acusação, Klinger e Sérgio Gomes exigiram, para si, "vantagem patrimonial indevida" de Gabrilli Filho, em prejuízo dos proprietários da empresa Viação São José. "Apurou-se que os denunciados formaram uma quadrilha determinada a arrecadar recursos através de achaques a empresários e desvios de dinheiro dos cofres públicos municipais".
Ainda segundo a denúncia, Sérgio Gomes idealizou o esquema, "aproveitando-se de seu prestígio" junto à administração".
Sérgio Gomes é citado como tendo sido tesoureiro de campanha eleitoral e, depois, se unido a Klinger. É sócio de Ronan, proprietário de empresas de transporte, coleta de lixo e construção civil contratadas pela prefeitura de Santo André. Ronan é citado como "intermediário e beneficiário de parte dos recursos".
Humberto Tarcísio de Castro sucedeu Ronan na empresa de engenharia Projeção.
Antes das eleições municipais, circularam dossiês em Santo André apontando a Projeção como uma das empresas que teriam sido favorecidas em licitações.



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